Reunião secreta sobre a Ucrânia termina em gritaria no Senado norte-americano

CNN , Lauren Fox, Ted Barrett, Manu Raju e Morgan Rimmer
6 dez 2023, 13:58
Capitólio. Win McNamee/Getty Images

Senadores republicanos dizem que não podem controlar o que Putin ou Zelensky fazem, mas que podem controlar o que acontece nos Estados Unidos, nomeadamente na fronteira sul

A reunião de terça-feira no Senado norte-americano sobre a Ucrânia transformou-se num confronto de gritos sobre a segurança interna das fronteiras, com os senadores a descreverem um encontro tenso que pouco fez para quebrar o impasse sobre a inclusão de políticas de imigração mais rigorosas no pacote de ajuda.

A reunião ocorreu no momento em que os senadores republicanos advertiram que estão preparados para votar contra o avanço de um pacote suplementar de segurança nacional de mais de 100 mil milhões de dólares, a menos que inclua grandes mudanças na política de fronteira, lançando dúvidas sobre se a ajuda será aprovada este ano.

O líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, descreveu o que se passou e afirmou que o confronto sobre as fronteiras eclodiu quando o líder da minoria, Mitch McConnell, um republicano do Kentucky, pediu ao senador republicano James Lankford, de Oklahoma, para fazer uma apresentação sobre a questão em vez de fazer uma pergunta sobre a Ucrânia.

"Foi imediatamente desviado pelo líder McConnell. Na primeira pergunta, em vez de a fazer aos nossos membros do painel, pediu a Lankford que fizesse uma apresentação de cinco minutos sobre as negociações relativas à fronteira", disse Schumer. "Depois, quando mencionei o facto de poderem apresentar uma emenda e ter a capacidade de fazer alguma coisa em relação à fronteira, eles ficaram bloqueados... não gostaram."

Schumer acrescentou que "um deles foi desrespeitoso e começou a gritar com um dos generais, desafiando-o a explicar por que razão não iam à fronteira".

Uma fonte na sala disse à CNN que o senador republicano do Arkansas, Tom Cotton, estava a gritar.

Pressionado se estava entre os que gritavam, Cotton respondeu: "Não deixei que Chuck Schumer se safasse com a mentira de que os republicanos 'introduziram a segurança fronteiriça num debate sobre a lei suplementar e foi Joe Biden que (...) nos enviou a lei suplementar com disposições fronteiriças'."

"Ele teve a infelicidade de espalhar essas mentiras logo após alguém me ter dado um microfone", acrescentou Cotton sobre Schumer.

Cotton também disse que os briefers [oficiais que têm a função de fornecer informações sobre algo] "se recusaram a responder a quaisquer perguntas sobre a crise na fronteira ou o que podemos fazer para resolver essa crise, embora o briefing tenha sido rotulado pelo gabinete de Chuck Schumer como um briefing sobre o suplemento".

Um porta-voz de Cotton disse que o senador dirigiu a sua raiva a Schumer - e não a um general presente ou a um informador da administração Biden.

O senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, contou que houve tensão no início porque "ninguém falou sobre a fronteira".

"No caso de não ter televisão... saberia que a maioria dos republicanos sente que precisamos de resolver a questão da fronteira", argumentou.

Lankford, um dos principais negociadores das medidas de política de fronteira para o pacote de segurança nacional, disse à CNN que a falta de alguém do Departamento de Segurança Interna no briefing era um "elefante na sala".

"Não estava lá ninguém do DHS [Department of Homeland Security]", afirmou Lankford. "Era óbvio, o elefante na sala, a questão da administração, no seu pedido suplementar - o segundo maior elemento do pedido suplementar é para a fronteira. E não tínhamos ninguém do DHS, e aparentemente não havia ninguém interessado em falar sobre isso."

Os senadores republicanos consideraram o briefing como uma perda de tempo, argumentando que os briefers não estavam a passar informação que não fosse já conhecida ou disponível publicamente. Alguns republicanos chegaram mesmo a sair mais cedo.

"As pessoas levantaram-se e foram-se embora porque isto é uma perda de tempo. Disseram simplesmente: 'Isto não vale a pena, isto é uma piada, não estão a falar a sério, vou-me embora'. E eu não os culpo", admitiu o senador Kevin Cramer, republicano da Dakota do Norte. "Foi mais dramático porque temos um partido político inteiro que parece (...) disposto a deitar o apoio à Ucrânia e a Israel pelo cano abaixo porque preferem ter uma fronteira aberta a apoiar a Ucrânia e Israel."

O senador republicano Mitt Romney, do Utah, também considerou a reunião uma perda de tempo.

"Queremos ajudar a Ucrânia e Israel, mas temos de fazer com que os democratas reconheçam que o negócio aqui, o negócio é pararmos a fronteira aberta", explicou Romney. "Eles não querem fazer isso. Por isso, os republicanos estão a sair do briefing porque as pessoas que lá estão não estão dispostas a discutir o que é preciso para chegar a um acordo."

O senador Roger Marshall, um republicano do Kansas, disse que os seus colegas do Partido Republicano queriam concentrar-se mais na fronteira durante o briefing e ficaram frustrados com a falta de conversa sobre o assunto.

"Não posso controlar (o presidente russo Vladimmir) Putin. Não posso (controlar) o que o (presidente ucraniano Volodymyr) Zelensky vai ou não fazer. Mas podemos controlar a nossa fronteira sul. Portanto, vamos controlar as coisas que podemos controlar", pediu Marshall.

Schumer está a planear avançar na quarta-feira com uma votação processual sobre o pacote suplementar do presidente, apesar de os republicanos terem prometido votar contra o seu avanço. Schumer disse na terça-feira que os republicanos são livres para apresentar um pacote de segurança na fronteira como uma emenda e, se conseguir 11 votos democratas, pode ser aprovado.

"Eles têm uma oportunidade de ouro se quiserem fazer a fronteira", observou Schumer.

Além disso, Zelensky não compareceu ao evento por vídeo, e vários senadores dizem que não receberam uma explicação para o facto de ele não ter comparecido.

O senador Mark Warner, democrata da Virgínia, disse aos jornalistas após a reunião que "os ânimos estão exaltados".

"Os ânimos estão exaltados, mas estamos num momento histórico", lembrou Warner. "As avaliações dos serviços secretos têm dito há meses que Putin pensa que pode esperar mais do que o Ocidente e a América, e o que eu não entendo de alguns dos meus amigos é que estamos dispostos a provar que ele tem razão, e as consequências históricas de abandonar a Ucrânia neste momento assombrariam este país durante décadas. Quem é que alguma vez voltaria a confiar nas nossas alianças? Espero que possamos todos respirar fundo."
 

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