O corpo de uma adolescente foi encontrado enterrado em betão. Um anel ajudou a polícia a descobrir a sua identidade 20 anos depois

CNN , Faith Karimi
11 mai 2024, 17:00
Trabalhadores da construção civil encontraram este anel com monograma enterrado com os restos mortais da vítima, em fevereiro de 2003. NYPD

Em fevereiro de 2003, trabalhadores que preparavam a cave de um edifício para demolição em Manhattan, Nova Iorque, nos Estados Unidos, fizeram uma descoberta macabra: o esqueleto de uma adolescente enrolado num tapete e enterrado em betão.

A vítima estava amarrada com um cabo elétrico. Um anel de ouro gravado com as iniciais "PMcG" foi encontrado entre os restos mortais, juntamente com um soutien, uma moeda de 10 cêntimos de 1969 e um soldadinho de chumbo de plástico verde, disse à CNN o detetive Ryan Glas, do Departamento de Polícia de Nova Iorque (NYPD).

Durante mais de duas décadas, a vítima desconhecida foi apelidada de "Jane Doe de Midtown" [John Doe, se for homem, e Jane Doe, se for mulher, são os nomes dado nos Estados Unidos aos corpos não identificados] por ter sido encontrada no bairro de Hell's Kitchen, em Nova Iorque. Mas no início deste mês, os investigadores revelaram finalmente a sua identidade: Patricia Kathleen McGlone, uma jovem de 16 anos que vivia em Brooklyn.

A polícia criou esta imagem da adolescente, que desapareceu em 1969. Não foi possível encontrar fotografias da jovem. NYPD

Os investigadores acreditam que Patricia foi morta no final de 1969 ou no início de 1970 e enterrada na cave do edifício. Com recurso a técnicas forenses avançadas, conseguiram determinar a identidade dos pais e o local onde viviam em Brooklyn, e examinaram detalhadamente documentos públicos locais. A polícia encontrou uma verdadeira mina de informação, incluindo a sua certidão de batismo e registos escolares, dando aos investigadores uma ideia dos últimos anos da sua vida.

Numerosos testes forenses ligaram o seu ADN a várias pessoas, incluindo a mãe de uma mulher morta nos ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, indicou Glas.

Enterrada debaixo de um clube noturno muito popular nos anos 60

Em 2003, trabalhadores da construção civil estavam a martelar uma laje de betão nas traseiras do edifício quando um crânio se soltou, contou Glas. Depois, desenterraram os outros restos de esqueleto nas proximidades.

Décadas antes, mais ou menos na altura em que Patricia terá sido morta, o edifício albergava um clube noturno chamado The Scene, segundo Glas. O local de rock-and-roll, gerido por um jovem empresário chamado Steve Paul, era um ponto de encontro de celebridades nos anos 60 e acolheu jam sessions dos The Doors e de Jimi Hendrix.

O Gabinete do Médico Legista de Nova Iorque determinou, em 2003, que o esqueleto pertencia a uma adolescente com 1,57 metros de altura. Mas o caso foi arquivado porque ela não foi dada como desaparecida.

Os investigadores voltaram a analisar o caso em 2017. Como os restos mortais estavam enterrados há muito tempo e os ossos encontravam-se degradados, demorou algum tempo a criar um perfil de ADN adequado. Mas com os avanços da tecnologia forense moderna, as coisas começaram a melhorar o ano passado, explicou Glas.

Trabalhadores da construção civil encontraram os restos mortais embrulhados num tapete, durante um projeto de demolição, a 10 de fevereiro de 2003. NYPD

"Não foi por falta de tentativas, mas demorámos a estabelecer um perfil", admitiu o detetive. "Em março de 2023, tínhamos uma amostra suficientemente boa para carregar nas bases de dados públicas, como em sites de ancestralidade e genealogia. E a partir desse perfil, fomos capazes de fazer a correspondência com um parente distante do lado paterno."

Com o nome do parente e as iniciais no anel, os investigadores sabiam que estavam no caminho certo, prosseguiu Glas. Começaram então a tentar descobrir a que geração pertencia e a sua posição na árvore genealógica da família.

Juntamente com especialistas em genética, procuraram o lado da família materna e conseguiram reduzir as probabilidades, utilizando o ADN que tinha sido enviado para ajudar a encontrar um familiar morto nos ataques de 11 de setembro.

Detalhes sobre a vida da jovem começaram a surgir

Com esta informação, descobriram que ela era filha única e nasceu a 20 de abril de 1953, filha de Bernard McGlone e Patricia Gilligan.

Os pais já faleceram, mas os investigadores encontraram documentação que mostrava que ela recebia alguns benefícios do pai, que morreu em 1963. Os documentos dos pais revelaram que ela cresceu em Brooklyn e tinha frequentado uma escola católica.

"Na altura, partimos do princípio de que ela teria sido batizada, recebido a comunhão e, por fim, esperançosamente, o crisma. Consegui obter os três documentos", adiantou Glas.

Os investigadores também tiveram acesso aos registos da sua escola secundária e conseguiram mais detalhes sobre a vida de Patricia na altura. Os registos mostram que frequentou a escola secundária no final de 1968 e início de 1969, mas faltou à maioria das aulas.

"Com a informação sobre a sua idade e o facto de ser católica e ter casado tão jovem, o que não era invulgar na altura, suspeitámos que o soldadinho de chumbo tivesse algo a ver com o facto de ela estar possivelmente grávida naquela altura", observou Glas.

Investigadores e especialistas em genética trabalharam durante anos para determinar a identidade da adolescente, disse o detetive Ryan Glas. NYPD

Na altura da sua morte, foi considerada uma fugitiva e poderá ter dado o filho para adoção.

Mas a procura da criança tem sido complicada pelo facto de, naquela época, quando uma criança era adotada ou entregue a alguém, a certidão de nascimento emitida tinha o nome dos pais adotivos e não dos pais biológicos.

O marido estava ligado ao edifício onde ela foi encontrada, revelou também Glas, mas recusou-se a fornecer mais informações, alegando que a investigação está ainda em curso. A polícia identificou o marido e está a tentar obter mais detalhes sobre a sua vida naquela altura.

Glas espera agora que os familiares de Patricia apareçam e forneçam informações que possam ajudar os investigadores a determinar o que lhe aconteceu ou como morreu.

"Qualquer coisa de que se lembrem daquela época, qualquer pessoa que tenha vivido no prédio, qualquer pessoa que nos possa dar mais informações sobre ela ou sobre a pessoa com quem casou... qualquer tipo de informação que possamos investigar", pediu Glas.

"Sou pai de três filhas, por isso só posso imaginar o tipo de infância que ela teve para acabar por ser assassinada."

Com a identidade de Patrícia finalmente conhecida, a polícia tem o próximo passo bem definido: descobrir quem a matou.

 

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