A altura do dia em que come pode ditar a fome que sente - e quanto mais tarde pior

CNN , Sandee LaMotte
8 out 2022, 18:00
Cuidado com a alimentação se vai conduzir

Todos sabemos que comer mais tarde não é bom para as nossas cinturas, mas porquê? Um novo estudo ponderou esta questão ao comparar pessoas que comeram os mesmos alimentos, mas em momentos diferentes do dia.

“Será que a altura em que comemos é importante, quando tudo o resto é consistente?”, disse a primeira autora, Nina Vujović, investigadora da divisão de sono e doenças circadianas no Brigham and Women's Hospital de Boston, Estados Unidos.

A resposta foi sim, comer mais tarde duplicará a probabilidade de ter mais fome, de acordo com o estudo publicado terça-feira, na revista Cell Metabolism.

“Descobrimos que comer quatro horas mais tarde faz uma diferença significativa nos nossos níveis de fome, a forma como queimamos calorias depois de comer e a forma como armazenamos gordura”, indicou Vujović. “Em conjunto, estas mudanças podem explicar porque é que as refeições tardias estão associadas ao aumento do risco de obesidade, relatado por outros estudos, e fornecer novos conhecimentos biológicos sobre os mecanismos subjacentes.”

O estudo fornece apoio ao conceito de que o ritmo circadiano, que influencia funções fisiológicas importantes, como a temperatura corporal e o ritmo cardíaco, afeta a forma como os nossos corpos absorvem combustível, disseram os investigadores.

O estudo mostra que comer mais tarde resulta num “aumento da fome, tem impacto nas hormonas e também altera a expressão dos genes, especialmente em termos de metabolismo das gorduras com tendência para uma menor repartição de gordura e um depósito de gordura maior”, apontou Bhanu Prakash Kolla, professor de psiquiatria e psicologia na Mayo Clinic College of Medicine e consultor do Centro para Medicina do Sono e Divisão de Medicina de Dependência de Mayo.

Embora estudos anteriores tenham ligado as refeições tardias ao aumento de peso, este estudo não mediu a perda de peso e não pode demonstrar uma relação causal, disse Kolla, que não esteve envolvido no estudo. Além disso, segundo ele, a investigação demonstrou que a omissão do pequeno-almoço está ligada à obesidade.

“Poderão estes resultados ser uma consequência de não tomar o pequeno-almoço, em vez de comer tarde? Isto é um efeito a considerar para este estudo”, defendeu Kolla.

Controlado rigorosamente

O estudo era pequeno, com apenas 16 pessoas com excesso de peso ou obesas, mas cuidadosamente planeado para eliminar outras potenciais causas de aumento de peso, disseram os autores.

“Embora tenham sido realizados outros estudos que investigam por que razão quem toma refeições tardias apresenta um risco acrescido de obesidade, este pode ser o mais bem controlado, incluindo o controlo rigoroso da quantidade, composição e horário das refeições, atividade física, sono, temperatura ambiente e exposição à luz”, afirmou o autor sénior Frank Scheer, diretor do Programa de Cronobiologia Médica na Divisão de Distúrbios do Sono e Circadianos de Brigham.

Todos os participantes estavam de boa saúde, não tinham historial de diabetes ou trabalho por turnos, o que pode afetar o ritmo circadiano, e praticavam atividades físicas regularmente. Cada pessoa do estudo cumpriu um horário rigoroso de dormir/despertar saudável durante cerca de três semanas e recebeu refeições preparadas em horários fixos durante três dias, antes do início da experiência laboratorial.

Os participantes foram então divididos aleatoriamente em dois grupos. Um grupo comeu refeições com calorias controladas às 8:00, 12:00 e 16:00, enquanto o outro comeu as mesmas refeições quatro horas depois, às 12:00, 16:00 e 20:00, durante os seis dias relatados no estudo. As medidas da fome e do apetite foram recolhidas 18 vezes cada, enquanto os testes de gordura corporal, temperatura e gastos energéticos foram recolhidos em três dias separados.

Após um intervalo de algumas semanas, os mesmos participantes inverteram o procedimento. Aqueles que tinham comido mais cedo passaram para o grupo de alimentação tardia e vice-versa, usando assim cada pessoa como o seu próprio controlo.

Mais fome, menos gordura queimada

Os resultados mostraram que a sensação de fome duplicou para aqueles que se encontravam num regime de alimentação noturna. As pessoas que comeram mais tarde também relataram um desejo por alimentos ricos em amido e salgados, carne e, em menor medida, um desejo por lacticínios e vegetais.

Olhando para os resultados das análises ao sangue, os investigadores puderam ver o motivo: os níveis de leptina, uma hormona que nos diz quando nos sentimos cheios, foram diminuídos para os que se alimentavam tardiamente, em comparação com os que se alimentavam mais cedo. Por outro lado, os níveis da hormona grelina, que aumenta o nosso apetite, subiram.

“A novidade é que os nossos resultados mostram que a alimentação tardia causa um aumento na proporção média de grelina e leptina ao longo de todo o ciclo de 24 horas de dormir/despertar”, disse Scheer. Na verdade, o estudo descobriu que a proporção de grelina para leptina aumentou em 34% quando as refeições eram consumidas no final do dia.

“Estas alterações nas hormonas reguladoras do apetite adequam-se ao aumento da fome e do apetite com a alimentação tardia”, explicou Scheer.

Quando os participantes comeram mais tarde no dia, também queimaram calorias a um ritmo mais lento do que quando comeram mais cedo. Os testes à sua gordura corporal revelaram alterações nos genes, que teriam um impacto na forma como a gordura é queimada ou armazenada, concluiu o estudo.

“Estas alterações na expressão genética sustentariam o crescimento de tecido adiposo através da formação de mais células adiposas, bem como pelo aumento do armazenamento de gordura”, disse Scheer.

Não se sabe se estes efeitos continuariam ao longo do tempo, ou se afetariam pessoas que tomam medicamentos para doenças crónicas, que foram excluídas deste estudo. É necessário um estudo mais aprofundado, disseram os autores.

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