«Daqui a quatro jogos será tudo diferente», admite Jaime Pacheco

23 jan 2001, 14:16

O treinador do Boavista continua a não assumir candidatura ao título, mas levanta a ponta do véu Mesmo com quatro pontos de vantagem para o segundo classificado, no Bessa ninguém se desvia da luta por um lugar europeu. No entanto, o técnico axadrezado avisa que se vencer os próximos quatro jogos (U. Leiria, E. Amadora, Braga e Benfica) e a «vantagem se mantiver ou aumentar», o discurso «pode ser alterado».

O discurso ainda é o mesmo, mas pode mudar daqui a um mês. Apesar do avolumar da distância pontual para os mais directos adversários, Jaime Pacheco mantém as mesmas frases, pensamentos e objectivos para o presente campeonato. Um lugar europeu continua a ser o único quinhão reclamado pelos axadrezados. 

A apologia do esforço e da concentração nunca deixa de estar patente no discurso do treinador, que já consegue prever um eventual redireccionamento de posições «caso vença os próximos quatro jogos ou que, pelo menos, a vantagem para o segundo classificado se mantenha ou até aumente». Nestas quatro partidas, a equipa terá de jogar por três vezes fora do Estádio do Bessa e contra adversários bastante complicados. Primeiro a U. Leiria, já no próximo domingo, depois o E. Amadora (em casa), seguem-se as deslocações a Braga (que com certeza fará lembrar a única derrota averbada no campeonato) e ao Estádio da Luz. 

«Tem sido cada vez mais difícil chegar ao triunfo porque as equipas começam a encarar de outra forma os jogos com o Boavista. Sabem que já não perdemos há muitos tempo e querem ser eles a quebrar esse ciclo. Isso viu-se, uma vez mais, contra o Beira Mar. Por isso, não alteramos nada no nosso discurso, pois o objectivo continua a ser chegar ao lugar europeu. Quanto mais depressa o alcançarmos, melhor, depois logo se vê até onde poderemos chegar», vinca o técnico. Para além disso, Jaime Pacheco ainda recorda o facto de existirem sempre «três crónicos candidatos ao título, que deverão começar a mostrar cada vez melhor futebol». 

Embevecido pela «excelente entrega dos seus jogadores», não se esquece do entusiasmo manifestado pelos sócios, que tem crescido em cada semana. «Não me lembro de um apoio tão forte durante um jogo, ainda por cima quando não estamos a vencer. No encontro com o Beira Mar cheguei a emocionar-me e até arrepiei quando senti toda aquela euforia dos associados. Foram o 12º jogador que empolgou decisivamente a equipa para a vitória. Estamos muito sensibilizados». 

O conforto dos quatro pontos de avanço para o F.C. Porto oferece «maior tranquilidade» e permite que Jaime Pacheco «durma melhor» todos os dias. Por isso, o discurso é bem medido em cada forma de encarar o futuro. «Basta dois jogos para que tudo mude e se adoptássemos outro tipo de discurso neste momento, caímos no risco de ele se diluir rapidamente», advoga. De qualquer forma, reconhece que «ficar no terceiro lugar» seria uma desilusão, mas caberia nos «objectivos delineados no início da época». 

100 jogos como treinador 

O currículo não é tão extenso como os dos seus principais rivais do momento, mas Jaime Pacheco já alcançou vários êxitos nos 100 jogos que cumpriu como treinador. A meta foi alcançada no passado fim-de-semana e com uma vitória, mais uma, sobre o Beira Mar. 

Numa breve reflexão sobre o passado, afirma sentir-se «orgulhoso», depois de ter-se iniciado de «forma forçada», pois nunca orientou a sua vida para ser técnico de futebol. «Fui pressionado pelos jogadores e dirigentes do Paços de Ferreira, que me queriam ver à frente da equipa. Mas eu ainda pretendia jogar. O tempo levou-me a aceitar o cargo, pois os vários treinadores que tive achavam que eu estaria melhor como orientador. A forma física também já não era a melhor», resume. 

Considera que tem tido «sucesso e sorte», mas «a ajuda dos jogadores também tem sido fundamental». Tem feito questão de honra dar-se bem com toda a gente, o que o torna um treinador orgulhoso por ter formado vários bons jogadores para o futebol nacional: «No U. Lamas lancei o Rui Ferreira (Salgueiros) e o Bessa (Gil Vicente), no Rio Ave o Emanuel, no V. Guimarães o Capucho e o Zahovic e no Boavista aqueles que toda a gente vê». 

Uma vida de dedicação ao futebol. «A minha vida são os jogos, de domingo a domingo», mas não se preocupa em contabilizar os desafios que completou como treinador. Afirma nem sequer saber quantos cumpriu como jogador e só decorou os que realizou pela Selecção, porque deixou de ser convocado «de forma prematura». As memórias não passam disso mesmo e são guardadas apenas na cabeça. «Não tenho sala de troféus e nem sequer guardei uma camisola do F.C. Porto, onde passei cinco anos. O que existe está com amigos ou familiares». 

Jaime Pacheco é um homem de ideias bem vincadas, mas sem grandes crispações. Afirma nunca ter tido «desaguisados» com ninguém. «Tenho o condão de fazer amizades», confessa o treinador do actual líder português, que até diz sentir orgulho de «merecer o respeito dos jornalistas» que vão acompanhando o dia-a-dia do Boavista.

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