Estudantes nigerianos obrigados a abandonar Reino Unido após desvalorização da moeda do seu país

22 mai, 20:55
Bandeira do Reino Unido (AP)

Desvalorização da moeda nigeriana deixou os estudantes incapazes de pagar as propinas e, por isso, foram expulsos da universidade e terão de abandonar o Reino Unido

Estudantes nigerianos da Universidade Teesside, em Middlesbrough, foram forçados a abandonar os cursos e vão ter de deixar o Reino Unido após a desvalorização da moeda nigeriana, a naira, que os deixou incapazes de pagar as propinas. 

A decisão da universidade de expulsar estes estudantes e informar o Ministério do Interior britânico tem gerado protestos, com muitos alunos a acusarem a instituição de “insensibilidade” perante a crise económica que atravessam.

Segundo a BBC, os estudantes afirmam estar desolados e alguns até confessam estar a tomar antidepressivos devido à pressão financeira e à incerteza sobre o futuro académico. Alguns alunos relataram que chegaram a ser contactados por agências de cobrança de dívidas, o que aumentou ainda mais o stress e o desespero.

Os estudantes, cujas poupanças foram drasticamente reduzidas pela queda da moeda, acusam a universidade de adotar uma abordagem insensível. A Nigéria está a enfrentar a pior crise económica em gerações, com uma inflação média de quase 34%, agravada pelas reformas monetárias implementadas pelo presidente Bola Tinubu. A moeda desvalorizou mais de 100% relativamente ao dólar apenas num ano, complicando a situação financeira dos estudantes estrangeiros no Reino Unido. 

Muitos nigerianos partilham nas redes sociais imagens da luta diária, diminuindo a dose das refeições e recorrendo a alimentos de baixa qualidade para sobreviver.

Antes de iniciarem o percurso em Teesside, os estudantes foram informados que tinham de apresentar provas de terem fundos suficientes para cobrir as propinas e despesas de subsistência. No entanto, esses fundos foram significativamente reduzidos, dificultando o pagamento das propinas em prestações, que a instituição alterou de sete para três. A BBC refere que um grupo de 60 estudantes pediu ajuda à Universidade após a desvalorização das suas poupanças.

Adenike Ibrahim, uma das estudantes afetadas, relatou à BBC que estava prestes a entregar a dissertação quando foi expulsa do curso por não conseguir efetuar um pagamento. Apesar de já ter pago 90% das propinas, será obrigada a deixar o Reino Unido com o filho pequeno. "Foi horrível, especialmente para o meu filho, que tem andado muito angustiado desde que lhe contei", disse Ibrahim.

Vários estudantes partilharam histórias semelhantes. Esther Obigwe disse que tentou diversas vezes falar com a universidade sobre as dificuldades financeiras, mas não obteve resposta até ser impedida de estudar e receber um aviso para abandonar o país.

Jude Salubi, que estava a meio de um estágio para se tornar assistente social, também foi suspenso e está agora a tentar encontrar uma forma de regularizar a situação. "Até à data, paguei 14 mil libras [cerca de 16.400 euros] e tenho um saldo de 14 mil libras", afirmou.

A Universidade Teesside justificou a decisão com o argumento de que o não pagamento das propinas infringe as regras de atribuição dos vistos. O porta-voz afirmou que a instituição fez "todos os esforços" para ajudar os estudantes, incluindo planos de pagamento personalizados. No entanto, os estudantes disseram que estas ofertas não foram suficientes e que não conseguiram obter respostas satisfatórias da administração universitária.

O Ministério do Interior sublinhou que a decisão de dar ou retirar a atribuição do visto cabe à instituição financiadora e que os indivíduos afetados devem regularizar a estadia ou preparar-se para deixar o país. As cartas enviadas aos estudantes indicam a data até à qual devem abandonar o Reino Unido e informam que não têm "direito de recurso ou de revisão administrativa da decisão".

Estes acontecimentos mostram a vulnerabilidade dos estudantes internacionais face às crises económicas nos países de origem e levaram muitos a questionar a necessidade de maior flexibilidade e apoio das instituições de ensino.

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