Tubarão-branco pode ter condenado o maior tubarão que já existiu à extinção. Dentes fossilizados explicam como

CNN
5 jun 2022, 12:00
Nesta imagem surge um dente que pertenceu a um extinto Otodus Megalodon (à esquerda) e um dente de um atual grande tubarão-branco (à direta)

Investigação analisou as assinaturas dietéticas contidas nos dentes de 13 espécies de tubarões extintos e 20 tubarões ainda existentes para compreender onde se inserem na cadeia alimentar

Megalodon, o tubarão gigante que viveu há mais de 23 milhões de anos e foi inspiração para o filme "The Meg", era quase quatro vezes maior do que o grande tubarão-branco que nada hoje nos nossos oceanos.

No entanto, as duas espécies de tubarão, que em tempos coexistiram, provavelmente caçaram algumas das mesmas presas. Esta competição poderá ter sido uma das razões pelas quais o megalodon de 20 metros de comprimento se extinguiu, segundo uma nova investigação.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores utilizaram uma nova técnica. Analisaram as assinaturas dietéticas contidas nos dentes de 13 espécies de tubarões extintos e 20 tubarões ainda existentes para compreender onde se inserem na cadeia alimentar - procedimento também conhecido como ‘o seu nível trófico’.

"O megalodon é tipicamente retratado como um tubarão monstruoso de tamanho gigante, em romances e filmes, mas a realidade é que ainda sabemos muito pouco sobre o tubarão extinto", afirmou o autor do estudo, Kenshu Shimada, professor de Paleobiologia na Universidade DePaul em Chicago e investigador associado no Museu de História Natural de Sternberg, no Kansas.

"A nossa investigação mais recente mostra que a panóplia alimentar do grande tubarão-branco do Plioceno é muito semelhante à do megalodon, o que significa que os nossos dados não contradizem a hipótese de concorrência", afirmou ele via e-mail.

Os investigadores conseguiram recolher esta informação através da observação da presença de diferentes isótopos, ou variantes, do zinco preservado no esmalte dentário dos tubarões.

Este elemento químico é essencial para os organismos vivos e desempenha um papel crucial no desenvolvimento ósseo. O que leva a que a proporção de isótopos pesados e leves de zinco nos dentes preserve um registo do tipo de matéria animal que os tubarões comeram.

"Os isótopos de zinco podem ser utilizados como indicadores ecológicos porque a relação entre estes dois distintos isótopos muda à medida que se sobe na cadeia alimentar", afirmou o coautor Michael Griffiths, geoquímico e professor no Departamento de Ciências Ambientais da Universidade William Paterson em Nova Jersey.

Jeremy McCormack, o autor principal e investigador pós-doutorado no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva na Alemanha, isola zinco de amostras de dentes de tubarão num laboratório limpo e sem metal.

Por exemplo, se o megalodon comesse grandes tubarões-brancos, a sua posição mais alta na cadeia alimentar refletir-se-ia no registo isotópico. Mas, segundo a investigação, as duas espécies tinham algumas sobreposições, o que dá a entender que partilhavam presas semelhantes.

Tubarão-branco pode ter sido uma das presas do megalodon

No entanto, os autores realçam que não podem excluir a hipótese de que o megalodon também fizesse do grande tubarão-branco sua presa, dado que os seus valores isotópicos. Principalmente, o parente próximo do megalodon, chamado Chubutensis megalodon, que apresentou valores de zinco inferiores aos níveis de qualquer vertebrado marinho moderno e fóssil.

Alimentarem-se ao mesmo nível trófico não implica necessariamente que o megalodon e o tuburão-branco tivessem a mesma presa específica, uma vez que ambas as espécies poderiam ter-se especializado em diferentes fontes de alimento. No entanto, o facto de existirem pelo menos algumas presas comuns entre ambas as espécies é provável, revelou este estudo.

"Tal como os grandes tubarões-brancos de hoje em dia, que provavelmente se alimentaram de grandes peixes. Os grandes tubarões-brancos de tamanho mais pequeno provavelmente não necessitavam de tanta comida como o megalodon, por isso teriam tido a vantagem competitiva se se alimentassem de presas semelhantes", afirmou Griffiths via e-mail.

A investigação foi publicada na revista Nature Communications na terça-feira. Foi neste estudo que se provou pela primeira vez que os isótopos de zinco relacionados com a dieta se conservam em dentes de tubarão fossilizados.

Uma técnica semelhante, utilizando isótopos de azoto para estudar as características alimentares de outros grupos de animais, está bem estabelecida, revela o estudo. No entanto, o nitrogénio na dentina dos dentes não se conserva suficientemente bem para estudar animais que se extinguiram há milhões de anos.

A técnica que utiliza isótopos de zinco poderia ser aplicada a outros animais extintos para compreender a sua dieta e ecologia.

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