Sara Guerreiro é a primeira baixa no Governo. Secretária de Estado da Igualdade e Migrações esteve apenas um mês no cargo

2 mai 2022, 19:38

Sara Guerreiro tomou posse a 30 de março. Um mês depois, apresentou a demissão alegando motivos de saúde. O Presidente da República fala em "razão de força maior", mas a saída da governante acontece após a polémica que envolve o acolhimento de refugiados ucranianos em Portugal

Sara Abrantes Guerreiro, que assumiu a Secretaria de Estado da Igualdade e Migrações a 30 de março, foi exonerada esta segunda-feira, pouco mais de um mês depois. Ao que a CNN Portugal conseguiu apurar, a governante terá alegado motivos de saúde. Foi já substituída no cargo, soube-se também hoje, através de uma nota no site da presidência, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter aceitado a nomeação de Isabel Maria Duarte de Almeida Rodrigues, deputada do PS desde 2019.

Trata-se da primeira substituição no Governo de António Costa. Esta tarde, em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, o Presidente da República fez questão de explicar que não havia "nenhuma razão política". "Por razão pessoal de força maior que surgiu e que obrigou a senhora secretária de Estado a pedir a demissão", explicou.

A saída da governante acontece após a polémica que envolve o acolhimento de refugiados ucranianos e sem que a reunião com a embaixadora da Ucrânia se tivesse realizado. No dia 8 de abril, Inna Ohnivets revelou à CNN Portugal que, numa conversa telefónica, alertou Sara Guerreiro para o facto de existirem associações com ligações ao regime de Vladimir Putin a acolher refugiados ucranianos que estavam a chegar a Portugal. Para além disto, na semana passada, o jornal Expresso denunciou que a Câmara de Setúbal, que pertence ao PCP, tinha colocado funcionários pró-Kremlin a receber estes refugiados, que viram os seus documentos de identificação fotocopiados, entre os quais passaportes e certidões de crianças, e que foram ainda alvo de perguntas relacionadas com os seus familiares que ficaram na Ucrânia.

A CNN Portugal apurou, entretanto, que o Governo sabia há um mês das suspeitas sobre as associações ligadas a Putin, bem como os serviços secretos.

Na sequência desta polémica, o PSD e a Iniciativa Liberal pediram de imediato uma audição do presidente da Câmara de Setúbal, André Valente Martins, e da embaixadora da Ucrânia. A autarquia afastou, entretanto, a jurista russa Yulia Khashinada que trabalhava na Linha de Apoio aos Refugiados (LIMAR). O marido desta mulher, Igor Khashin, é o líder da Associação de Imigrantes dos Países de Leste (Edintsvo) que trabalha com o município e tem ligações diretas à Embaixada da Rússia em Portugal.

Questionado, esta tarde, sobre se esta sequência de incidentes poderiam estar relacionados com a saída de Sara Guerreiro, Marcelo Rebelo de Sousa manteve a mesma justificação: "Não, não. Infelizmente, foi uma questão pessoal de força maior."

"Foi uma substituição imediata porque, como o senhor primeiro-ministro [António Costa], aliás, me fez saber, e eu percebi, é um pelouro hoje muito importante, ainda mais importante do que nunca, por causa dos refugiados vindos da Ucrânia. Portanto, houve que proceder imediatamente à assinatura da exoneração e à assinatura da nomeação", justificou.

Biografia

Sara Guerreiro nasceu em Lisboa, em 1975, e é, desde 2004, mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Fez uma pós-graduação em Direitos Humanos na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e licenciou-se, em 1998, em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. 

Fala quatro línguas, já trabalhou em vários países, entre eles Estados Unidos, Timor-Leste e Guiné-Bissau. Em 22 anos de carreira, já trabalhou como advogada, assessora jurídica, consultora internacional e formadora. Fez parte de vários projetos nas áreas de direitos humanos, proteção da criança e boa governação, tendo trabalhado com: Nações Unidas; UNICEF; ONU Mulheres; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR); e ainda com o Banco Mundial.

Na Guiné-Bissau, deu assistência técnica e coordenou uma equipa de consultores nacionais, no âmbito da elaboração do projeto de Código de Proteção Integral da Criança, em colaboração com o Ministério da Justiça, a Assembleia Nacional e o Instituto da Mulher e da Criança. Para além disso, deu apoio técnico no desenvolvimento do Gender Based Violence Risk Assessment para vários projetos do Banco Mundial na Guiné-Bissau e na redação do Economic Update com foco nas questões de género.

Em Timor-Leste foi assessora jurídica do Ministério da Educação.

A nível nacional foi assessora do Ministro de Estado e da Administração Interna, da Secretária de Estado da Modernização Administrativa e do Subsecretário de Estado da Administração Interna do XVII Governo Constitucional. Entre 1998 e 2004, foi oficial da Marinha Portuguesa.

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