Governo sabia há um mês das suspeitas sobre as associações ligadas a Putin que recebem refugiados

2 mai 2022, 18:24
Governo (Tiago Petinga/Lusa)

Embaixadora ucraniana em Portugal denunciou situação num telefonema com a secretária de Estado da Igualdade e das Migrações que, entretanto, foi exonerada por motivos pessoais. Ficaram de marcar uma reunião que nunca aconteceu. Serviços secretos tutelados por António Costa também receberam documento no início de abril

O Governo de António Costa foi oficialmente avisado há um mês das suspeitas de que existiam associações com ligações a Putin a acolher refugiados ucranianos que chegam a Portugal. O alerta foi dado pela embaixadora Inna Ohnivets num telefonema com a então secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, Sara Abrantes Guerreiro, que, entretanto, foi exonerada por motivos pessoais, adiantou Marcelo Rebelo de Sousa.

Segundo revelou a embaixadora numa entrevista que deu à CNN Portugal, durante o telefonema com a governante, esta ficou a saber quais as associações com ligações à Rússia que estavam a receber os ucranianos que fugiam da guerra, por estarem registadas no site do Alto Comissariado para as Migrações como representantes de imigrantes ucranianos. “Concordámos que era necessário resolver esta questão”, explicou a diplomata à CNN pouco tempo depois deste aviso ao Executivo, garantindo que insistiu na urgência de retirar todas as organizações pró-russas do grupo de apoio aos ucranianos.

No entanto, nada parece ter sido alterado desde essa data: no site do Alto Comissariado para as Migrações, aquelas associações continuam a fazer parte da lista de representantes daqueles imigrantes, integrando o chamado colégio eleitoral da comunidade ucraniana.

Na lista deste colégio constam ainda quatro organizações que não são reconhecidas pela embaixada ucraniana em Portugal, entre elas a associação liderada pelo russo Igor Khashin, que protagonizou a polémica instalada na câmara de Setúbal. Além da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo) de Igor Khashin, estão na lista mais três entidades dirigidas por elementos com ligações ao Kremlin. A CNN Portugal contatou o Alto Comissariado, mas nunca obteve resposta às questões.

Além do telefonema entre Inna Ohnivets e Sara Abrantes Guerreiro, tinha ficado combinada a realização uma reunião entre os vários intervenientes: a embaixada, a secretaria de Estado e o Alto Comissariado para as Migrações. No entanto, segundo apurou a CNN Portugal junto de fonte diplomática oficial, este encontro não se chegou a realizar, pelo menos até agora. O objetivo seria “desenvolver a colaboração e excluir estas associações pró-russas”, disse ainda a embaixadora, durante aquela entrevista.

Secretas foram informadas há mais de um mês

O telefonema não foi o único aviso formal feito ao Executivo sobre as suspeitas de algumas associações com ligações a Putin estarem a acolher e a por em risco a segurança de refugiados ucranianos e dos familiares que ficaram a combater na guerra.

Tal como noticiou a CNN Portugal, Pavlo Sadhoka, líder da Associação dos Ucranianos em Portugal, escreveu uma carta à secretária-geral dos Sistemas de Informação da República Portuguesa (SIRP), Graça Mira Gomes, que está sob tutela do próprio primeiro-ministro, António Costa.

O documento, onde se explicava as teias de alegadas ligações entre de algumas associações a Putin, foi enviado no dia 2 de abril, com a associação de Pavlo Sadhoka a pedir que as secretas protejam "os refugiados ucranianos em Portugal e a segurança dos seus familiares de momento na Ucrânia". A CNN Portugal contatou o SIRP no dia 6 de Abril, mas até ao momento não obteve resposta.

Este assunto levou António Costa a pedir que se tomem as diligências necessárias para apurar se houve algum comportamento ilícito da autarquia de Setúbal, que colaborou com a associação de Igor Khashin, simpatizante do regime de Putin, no acolhimento de refugiados. Qualquer violação dos direitos fundamentais, seja de nacionais ou de estrangeiros, é obviamente da maior gravidade" disse o primeiro-ministro, que pediu "serenidade" neste momento. "É preciso compreender que a guerra também se trava através deste jogo de informações”, referiu.

Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que há autoridades competentes, designadamente judiciais e administrativas, para investigarem as suspeitas de recolha de informações a refugiados ucranianos. Este caso está a ser investigado, de momento, pela Inspeção Geral das Finanças, a quem competem os "inquéritos e sindicâncias", disse o Ministério da Coesão Territorial.

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