opinião
Economista e Professor Universitário

Salários: há muito que os jovens portugueses são convidados a emigrar

20 jun 2023, 13:11

Enquanto país, é provável que Portugal se possa descaracterizar irreversivelmente

Em Portugal, o “ganho salarial associado ao ensino superior cai para mínimos históricos.” A notícia é do Eco Online e foi publicada há alguns dias.

A situação em que Portugal está mergulhado tem contornos de drama. Os jovens são “convidados” a emigrar e o convite parte da sua própria terra natal. É crucial reverter este quadro. O país está obrigado a fomentar políticas que conduzam ao aumento do salário real dos portugueses, especialmente para os trabalhadores mais novos e para os licenciados. Em Portugal, a “geração mais qualificada de sempre ganha em média 843 euros.” 843 euros. É o jornal Dinheiro Vivo que o realça, a partir de dados do Instituto Nacional de Estatística.

É decisivo e urgente aumentar o produto nacional. Ao conseguir alavancar o PIB, Portugal poderá distribuir uma fatia maior do bolo económico nacional por cada português, incluindo os aposentados. É importante relembrar que o sistema de Segurança Social português também não é sustentável. O território nacional tem falta de população em idade ativa. O défice de natalidade é uma idiossincrasia antiga. O país está obrigado a compensar cada vez mais esta carência com políticas que impulsionem a imigração. 

A escassez de população ativa em Portugal também é uma consequência direta da emigração “forçada” a que estão submetidos os portugueses. A fuga de talento é uma realidade que assola o território nacional. “Portugal é o 4º país do mundo com maior escassez de talento.” É a ManpowerGroup, uma multinacional norte-americana listada na Fortune 500, que o destaca. O talento foge do país

Urge incentivar o fator trabalho. O produto interno bruto deve crescer acentuadamente, de modo a permitir melhores salários. Só assim se contrariará a espiral de inércia que, por défice de estímulo à produtividade, tem vindo a intensificar-se na economia nacional. 

Estruturalmente, é a escolarização e a subsequente melhoria do nível de pensamento crítico que permitem aumentar a produtividade laboral. O processo é virtuoso, mas demorado. Portugal encontra-se entre os piores da Europa no que à produtividade laboral diz respeito. E, infelizmente, ao contrário do que até pode parecer, o país também se situa na cauda da Europa quanto ao número de cidadãos com ensino superior e/ou secundário concluídos. O atual quadro nacional precisa de resultados imediatos, mas o ponto de partida está muito recuado, infelizmente.

É certo que o país jamais deverá deixar de apostar na escolarização. Será sempre uma aposta estratégica. Mas é um “investimento” que apenas produzirá resultados nos médio e longo prazos. E o problema é que a gravidade da atual conjuntura requer resultados rápidos.

Considerando a urgência na obtenção de soluções céleres e eficazes, resta uma única opção para aumentar os salários reais, estimular a produtividade laboral e estancar a emigração dos mais jovens: Portugal está obrigado a diminuir a carga fiscal global e a rever os impostos e contribuições sobre o trabalho em particular. Só desta forma será possível aumentar a produtividade laboral e conter o flagelo da fuga de talento e de jovens do país. O processo deverá ser bem-sucedido. De outro modo, só o estímulo à imigração massiva poderá salvar a economia nacional.

Se o atual rumo não for rapidamente alterado, é provável que Portugal se possa descaracterizar irreversivelmente enquanto país.

Relacionados

Colunistas

Mais Colunistas

Patrocinados