Salários reais diminuíram, mas nos jovens qualificados a quebra foi ainda mais acentuada

15 jun 2023, 00:00
Saúde mental, emprego, trabalho, saúde, escritório, ansiedade. Foto: Luis Alvarez/Digital Vision/Getty Images

Estudo da Fundação José Neves salienta que a diferença salarial entre os jovens com ensino superior e os jovens que completaram apenas o secundário atingiu mínimos históricos no ano passado

O aumento dos salários no ano passado não chegou para fazer face à subida da inflação e, em termos reais, os rendimentos dos trabalhadores portugueses diminuíram. A quebra foi em média de 4%, mas no caso dos jovens qualificados essa redução foi ainda mais acentuada, na ordem dos 6%. A conclusão é do estudo "Estado da Nação sobre Educação, Emprego e Competências em Portugal" da Fundação José Neves, cuja terceira edição é agora publicada. O relatório faz uma radiografia ao país em matérias como o emprego, a digitalização, a educação e as competências dos trabalhadores e aponta caminhos para que Portugal se transforme numa verdadeira sociedade do conhecimento e consiga reter os jovens mais qualificados.

O documento salienta ainda que a diferença salarial entre os jovens com ensino superior e os jovens que completaram apenas o secundário atingiu mínimos históricos no ano passado. Em 2011, um jovem qualificado ganhava mais 50% do que um jovem que tinha feito apenas o secundário, mas atualmente, essa diferença situa-se em apenas 27%. "É preciso fazer alguma coisa para que se possa inverter esta situação", frisa Carlos Oliveira, presidente executivo da Fundação José Neves à CNN Portugal, defendendo que quem investe na sua educação deve ser recompensado por isso e receber uma remuneração que traduza esse investimento. 

Outra das conclusões do estudo é a de que são as empresas digitais as que pagam melhores salários. Isto porque são também as mais produtivas. "As empresas digitais foram aquelas que mais resistiram à crise e têm aumentos de produtividade muito significativos. Só para dar um exemplo, entre empresas em Portugal exatamente iguais, com exceção do nível de digitalização, uma empresa que seja mais digital é cerca de 20% mais produtiva do que uma empresa que tenha um nível de digitalização mais baixo”, explica Carlos Oliveira.

Só que, no campo da digitalização, há ainda muito por fazer e para explorar em Portugal. Com efeito, 48% das empresas, ou seja, quase metade, apresentam um fraco nível de digitalização e quatro em cada dez trabalhadores não usam ferramentas digitais no trabalho. Há ainda outro dado importante: 75% dos adultos menos qualificados não têm competências digitais básicas, o que reforça o papel dos serviços de empregos e das empresas na formação desta área. E apenas 24% das empresas com pelo menos dez trabalhadores deram formação em competências digitais. 

O estudo defende, por isso, que o país deve apostar de forma estratégica num novo modelo de educação. "Nós continuamos a ter uma escola com um modelo do século XVIII, com professores do século XX, para estudantes do século XXI e isto cria complexidades muito grandes. Depois também temos um desemprego jovem grande porque as pessoas chegam ao mercado de trabalho com as competências desalinhadas com o que o mercado procura", destaca Carlos Oliveira.

"É consensual que mais do que o nível de educação formal, são as competências da população que mais impactam o sucesso profissional e pessoal dos indivíduos e o crescimento económico dos países, pelo que é essencial que mais qualificações sejam acompanhadas por mais e melhores competências", lê-se no relatório. 

Mais, Carlos Oliveira salienta que, ao nível das competências digitais, a formação tem de chegar não só aos jovens estudantes, mas também à população adulta, "de uma forma maciça".

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