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Colunista e comentador

"50 anos de 25 de Abril" e o Futebol: lento, lento…

25 abr, 16:56

Comemoram-se 50 anos sobre o momento em que os “capitães de Abril” convocaram a Liberdade para Portugal.

Os “capitães de Abril” foram os nossos melhores selecionadores, mas, antes deles, houve muitos a pisar pelados.

Pelados com e sem minas.

Semeadores de relva que jamais devem ser esquecidos. Porque - antes do “25” - muitos se indignaram e lutaram por um pedaço de relva.

Nas imperfeições da democracia, Portugal cresceu como nunca.

A contagem dessas imperfeições dariam quilómetros de discussão, angústia, até de revolta. E é uma perda de tempo porque o ponto deve estar na melhoria e evolução da democracia e não na dialéctica em torno de uma ‘perfeição’ que nunca será alcançada.

Mesmo na dependência das ajudas externas, Portugal cresceu e modernizou-se. Despiu o equipamento do obscurantismo e talvez a mentalidade, em muitos casos, tenha ficado a identificar a porta do “24”. Daí, talvez, a desilusão.

Era uma provação chegar a Bragança ou a Vila Real de Santo António, hoje chegamos com relativa facilidade a qualquer cidade do País e Portugal deixou de ser um País desligado da Europa, muito por força da adesão à União Europeia.

A mentalidade, ai a mentalidade…

No futebol, passámos dos pelados aos relvados. Passámos do mecenato às sociedades anónimas desportivas. Passámos da ausência de centros de treino para as academias.

Em 50 anos, contudo, ainda não foi possível contrariar a macrocefalia clubística porque não houve nem reformas estruturais nem vontade política e “liguista” nesse sentido.

Ai a mentalidade…

É lenta, muito lenta, esta chegada do “25 de Abril” ao Futebol em Portugal. Demasiado lenta, diria, no sentido da consagração de uma cultura verdadeiramente democrática.

O Futebol deixou de ser, há muito, um desporto para ser um negócio. Um negócio de notas de milhão. Um negócio que todos querem aceder para conseguirem extrair o seu quinhão.

Há várias formas de aceder às notas de milhão. E quem lhes chega, servindo-se da força social dos emblemas e das paixões geradas, não quer abdicar do dinheiro que conseguem alcançar, seja de que modo for.

Daí que o Futebol esteja muito para além dos golos, das conversas sobre as táticas e as bitáticas, as opções dos treinadores e as trivelas dos jogadores; o Futebol é uma indústria complexa, que inibe muitos beneficiários de estar nela com transparência e até com alguma dignidade.

E daí também as conversas sobre as arbitragens, porque os “erros" não são mais, muitas vezes, do que espelho de um sistema que está demasiado dependente daquilo que, atrás do pano, o sustenta.

O Futebol é um segmento de actividade em que as vitórias dão muito dinheiro, mas as derrotas também.

Quando há insucesso desportivo e os contratos são interrompidos, as indemnizações são normalmente muito compensatórias.

E como são as comissões que sustentam o negócio da forma como ele existe, nunca há muita gente, dentro deste fenómeno, que queira rever — como dizer? —, em tempo de industrialização do desporto-rei,  as bases fundacionais desta indústria.

E por isso é que é tudo lento, muito lento…

Lento na busca de outras fórmulas de dirigismo.

Lento na forma de libertar os jogadores da sua prisão comunicacional (tudo pelo dinheiro).

Lento nas suas progressões.

Estamos em vésperas de eleições do FC Porto, um clube crucial no futebol em Portugal na conquista de equilíbrio competitivo e de representatividade nacional e internacional.

Um clube que consagrou o seu presidente como uma espécie de “dirigente único”, o qual fez sempre tudo para não consentir debate e para estrangular qualquer tipo de manifestação contrária à desinstalação do regime. As raras manifestações nesse sentido acabaram coladas ao regime

O candidato André Villas-Boas teve a coragem de provocar o primeiro grande debate em torno de direitos democráticos, legítimos.

Esta coisa de muitos considerarem haver portugueses “de primeira” e "de segunda” é típica de falsos democratas. No futebol, a mesma coisa. Não há, não deve haver, nem portistas, nem benfiquistas ou sportinguistas “de primeira” ou “de segunda”. Há adeptos e associados com diversas formas de observar a identidade, as ideias e as posturas.

Por isso, a importância do voto. Do voto livre e em segurança.

Porque isso é (que é) a democracia a funcionar.

Em nenhuma circunstância, nem no País nem no Futebol, se pode admitir que o voto seja controlado, imposto ou condicionado.

Há “vícios sistémicos” que necessitam de ser desinstalados, não no sentido da perda de competitividade, como dá jeito dizer, mas para se atingir um grau de “direitos e deveres” que deve ser a base de uma cultura verdadeiramente democrática. Também no desporto, no futebol, no associativismo.

Tudo tão simples: o futebol em Portugal precisa de ser devolvido aqueles que entendem o princípio do desporto com todos e para todos.

Todos aqueles que estejam disponíveis para cumprir a lei e exteriorizar princípios absolutamente inegociáveis no que toca a convivialidade, tolerância e respeito.

Tem sido tudo lento, muito lento… O Sporting mudou, o FC Porto está a viver um momento único na sua história, o Benfica ainda não definiu muito bem por onde e para onde quer ir.

A democracia no futebol tem de continuar a ser debatida porque o “25 de Abril” tem de chegar. Está a chegar?…

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