Serviços secretos ucranianos alertam que Chasiv Yar pode cair e a Rússia ameaça abrir uma nova frente em Kharkiv

3 mai, 17:43
Militares ucranianos da unidade Código 9.2 ajustam uma antena na linha da frente, a poucos quilómetros de Bakhmut, 23 de abril (Alex Babenko/AP)

Braço-direito de Kyryllo Budanov admite que nenhum dos lados está próximo de considerar seriamente negociações de paz e defende que só "no final de 2025", na melhor das hipóteses", é que poderão começar essas conversas

A Ucrânia atravessa um período extremamente difícil no campo de batalha, mas a situação prepara-se para ficar bastante pior. Quem o diz é Vadym Skibitsky, número dois dos serviços secretos militares ucranianos, que admite que é apenas uma questão de tempo até que a cidade estratégica de Chasiv Yar caia nas mãos das forças russas, que estão a preparar a abertura de uma nova frente em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia.

“É provavelmente uma questão de tempo até que a cidade [de Chasiv Yar] caia de maneira semelhante a Avdiivka, que foi bombardeada até ao esquecimento pelos russos, em fevereiro”, afirmou o major-general Vadym Skibitsky, em entrevista ao The Economist. A queda da cidade “não acontecerá hoje ou amanhã”, garante, mas dependerá “das reservas” ucranianas.

Estacionada numa das áreas mais elevadas da região do Donbass, Chasiv Yar está a ser utilizada pelas forças ucranianas como uma fortaleza para travar o avanço russo, depois das conquistas de Bakhmut e Avdiivka. Mas a situação é difícil. A sul, em Ocheretyne, uma troca de unidades militares mal feita levou as forças russas a romper as linhas defensivas ucranianas, criando uma saliência com mais de 25 quilómetros.

Notas: "Confirmado" significa que o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) recebeu informações fiáveis e verificáveis de forma independente que demonstram o controlo ou os avanços russos nessas áreas. Os avanços russos são áreas onde as forças russas operaram ou lançaram ataques, mas não as controlam. As áreas "reclamadas" são aquelas em que as fontes afirmaram estar a ocorrer controlo ou contraofensivas, mas o ISW não pode corroborar ou demonstrar que são falsas.

Fontes: Instituto para o Estudo da Guerra com o Projeto de Ameaças Críticas da AEI
Gráfico: Lou Robinson, CNN

A situação é difícil de gerir. Apesar de o Congresso norte-americano ter aprovado o pacote de ajuda militar à Ucrânia, a falta de armamento faz-se sentir no terreno. Para o major-general, a Rússia está perfeitamente ciente das carências do exército ucraniano e está mais do que disposta a aproveitar este momento na guerra para ganhar mais território. “O nosso problema é simples: não temos armas. Eles sempre souberam que abril e maio seriam um tempo bastante diferente para nós”, insiste Skibitsky.

Até porque o exército russo é hoje muito diferente daquele que inicialmente invadiu o território ucraniano em 2022. Para o número dois da Direção Principal de Serviços de Informação (HUR), o Ministério da Defesa da Rússia soube aprender com os erros e abandonou a “arrogância” com que abordou o conflito na Ucrânia e opera agora com “um único corpo, um plano claro, debaixo de um só comando”. E o plano é claro, avançar para a total captura das regiões de Donetsk e de Lugansk, duas das quatro regiões ucranianas que o Kremlin anexou ilegalmente.

E o caminho para a captura desta região pode mesmo passar pela criação de uma nova frente de batalha, para obrigar as forças ucranianas a dispersarem ainda mais os seus recursos cada vez mais escassos. De acordo com a análise do HUR, a Rússia está a preparar-se para lançar um ataque relâmpago nas regiões de Kharkiv e de Sumy, que não veem combates há vários meses.

Nas fronteiras destas regiões, a Rússia aglomerou mais de 35 mil homens, mas Skibitsky diz que existem planos para aumentar esse número para 50 ou 70 mil tropas. Estes números, insiste, não são suficientes para tentar cercar e conquistar uma cidade de grandes dimensões como Kharkiv, que tem mais de 1,2 milhões de habitantes. Mas esse pode não ser o plano principal das forças russas.

“Uma operação rápida de entrada e saída: talvez. Mas uma operação para tomar Kharkiv, ou mesmo a cidade de Sumy é de uma ordem diferente. Os russos sabem-no. E nós sabemo-lo”, sugere.

Numa mensagem estranhamente pessimista para um líder militar ucraniano, o braço-direito de Kyryllo Budanov é claro e garante que o pior ainda está para vir. A Rússia tem, neste momento, 514 mil soldados destacados na guerra na Ucrânia e a principal ofensiva russa deve começar “no final de maio ou no início de junho”.

Atualmente, nenhum dos lados está satisfeito com os resultados alcançados e ainda estão a digladiar-se por uma melhor posição para chegar a uma negociação de paz, defende o major-general. Qualquer perspetiva séria de uma negociação de paz só deve ser possível “na segunda parte de 2025”, na melhor das hipóteses, acrescenta.

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