Especialistas dizem-lhe o que fazer se seu filho for vítima de bullying online por causa do peso

CNN , Madeline Holcombe
18 mai, 09:00
Tristeza pode ser sinal de alerta

Existem muitos riscos quando se trata de adolescentes que utilizam ecrãs – e um novo estudo multinacional mostra que o bullying relacionado com o peso pode estar entre eles.

Quanto mais tempo os adolescentes passam nos ecrãs e nas redes sociais, maior a probabilidade de sofrerem bullying por causa do peso, de acordo com a investigação.

O estudo, publicado a 17 de abril no PLOS One, analisou dados do International Food Policy Study Youth Survey de 2020 e envolveu mais de 12 mil adolescentes entre os 10 e os 17 anos, na Austrália, no Canadá, no Chile, no México, no Reino Unido e nos Estados Unidos.

“Cada hora adicional de utilização de redes sociais é equivalente a um aumento de 13% na prevalência de sofrer bullying relacionado com o peso”, diz o principal autor do estudo, Kyle Ganson, professor assistente da Faculdade de Serviço Social Factor-Inwentash da Universidade de Toronto.

A utilização do Twitter, que agora se chama X, e do Twitch foram associados ao maior aumento no bullying relacionado com o peso, com um aumento de 69% e 49%, respetivamente, revelou o estudo.

Um porta-voz do X  diz que as políticas da plataforma de redes sociais evoluíram desde que os dados foram recolhidos pela primeira vez. “O X fez mudanças significativas em todas as suas políticas e reforçou protocolos para proteger menores, apesar de ter menos de 1% dos utilizadores dos Estados Unidos com idade entre 13 e 17 anos e proibir estritamente crianças menores de 13 anos de terem uma conta”, assegura Joe Benarroch, chefe de operações comerciais no X, em declarações enviadas por e-mail.

Uma porta-voz do Twitch garante que a plataforma prioriza a segurança do utilizador e aplica as diretrizes da comunidade a todo o seu conteúdo.

“O assédio não tem lugar no Twitch ou em qualquer lugar online”, considera a porta-voz do Twitch, Elizabeth Busby, também em declarações concedidas por e-mail. “Aplicamos ativamente essas regras e desenvolvemos uma série de ferramentas, como o AutoMod, que ajuda a evitar que mensagens prejudiciais apareçam em conversas de chat”.

“Continuaremos a procurar feedback da nossa comunidade acerca das suas experiências no Twitch, incluindo nosso Conselho Consultivo de Segurança, embaixadores e grupos. Este feedback é inestimável, pois revemos e atualizamos ativamente as nossas políticas para melhor abordar a evolução dos comportamentos prejudiciais”.

“Também queremos sublinhar que utilizadores menores de 13 anos não estão autorizados a usar o Twitch e utilizamos uma série de ferramentas para impedir a criação dessas contas”, acrescenta Elizabeth Busby.

Os resultados não são surpreendentes, dada a relação bem estabelecida entre a utilização das redes sociais e problemas como distúrbios alimentares e uma imagem corporal errada, diz Kendrin Sonneville, professora associada de Ciências Nutricionais, na Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan. Sonneville não esteve envolvida no estudo.

“O estigma e o preconceito em relação ao peso são comuns nas redes sociais”, destaca Kyle Ganson, em declarações concedidas por e-mail. “Estas descobertas mostram que os adolescentes enfrentam bullying especificamente relacionado com o peso, o que pode aumentar ainda mais o risco de desenvolvimento de má imagem corporal, distúrbios alimentares, depressão e ansiedade”.

Quanto mais tempo passam nas redes sociais, maior é a probabilidade de os adolescentes serem incomodados por causa do seu peso, diz um novo estudo. (Crispin la Valiente/Moment RF/Getty Images)

Não fique do lado do agressor

Às vezes, o desejo de ajudar o seu filho a evitar ser intimidado pode tornar-se realmente inútil, alertou Oona Hanson, coach parental em Los Angeles.

“Cada fibra do ser (dos pais) deseja evitar que seus filhos passem por isso”, adivinha Oona Hanson. “E, por causa da forma como a nossa cultura funciona, o que acontece é: ‘Oh, bem, a solução simples é apenas tornar o corpo diferente para que o corpo desta criança não seja provocado ou intimidado’”.

Kendrin Sonneville vê essa abordagem acontecer com muita frequência.

“Infelizmente, tenho visto pais tentarem apoiar os seus filhos em experiências de bullying baseado no peso, sugerindo que eles tentem ‘comer de forma mais saudável’ ou ‘perder algum peso’”, relata, numa entrevista concedida por e-mail. “Os jovens, independentemente do tamanho do seu corpo, não merecem ser ridicularizados ou maltratados por causa do peso”.

Se as suas tentativas de ajudar consistem em enviar a mensagem de que o seu adolescente deve mudar o corpo, pode acidentalmente acabar por ficar do lado do agressor em vez de ficar do lado do seu filho, alerta.

“Porque, dessa forma, para a criança, o agressor está a dizer-lhe que o seu corpo está errado e os pais estão a dizer-lhe: ‘Sim, vamos consertar o seu corpo’”, acrescenta Hanson.

Para estar ao lado do seu filho, é importante validar os seus sentimentos, lembrá-lo de que o bullying é o problema – não o seu corpo – e ouvir, diz ela.

“Podemos falar demais como pais e realmente precisamos de tentar ouvir e deixar os nossos filhos saberem que os seus sentimentos são importantes e que queremos ouvir o que sentem”, disse Oona Hanson.

 

Abrir-se às realidades das redes sociais

Um dos pontos positivos que podem resultar desta investigação mais recente é se as famílias a utilizarem para compreender melhor o ambiente digital em que os seus filhos estão a navegar e para iniciar conversas sobre ele, nota Kyle Ganson.

“O uso das redes sociais é omnipresente entre os adolescentes”, acrescenta. “É importante que os adultos das suas vidas estejam conscientes da sua utilização, do conteúdo com que estão envolvidos e apoiem a literacia mediática para garantir que utilizam as redes sociais de forma adequada e estão protegidos de potenciais danos.”

Ganson recomenda que se converse com os filhos sobre bullying, principalmente relacionado com o peso, e como eles podem reagir perante os comentários que poderão ver online.

“Assim, vocês podem encontrar soluções juntos sobre como lidar com as redes sociais no futuro”, acrescenta Oona Hanson.

A escola dos seus filhos pode ter recursos de apoio, os seus filhos podem decidir tornar as suas contas privadas ou a sua família pode limitar o tempo de ecrã, sugere ainda Hanson.

“O bullying baseado no peso pode ter um impacto significativo na saúde dos jovens e deve ser levado a sério”, remata Kendrin Sonneville.

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