PSD e CDS-PP anunciaram uma coligação pré-eleitoral - chama-se Aliança Democrática - para as próximas legislativas e não só. A politóloga Paula do Espírito Santo acredita que a "dinâmica de vitória" pode "mobilizar o eleitorado e, de facto, fazer a diferença. Às vezes, por poucos votos ganha-se ou perde-se um deputado"
Das três vezes em que concorreram coligados às eleições legislativas, PSD e CDS saíram vitoriosos. Mas apenas das duas primeiras vezes - com a Aliança Democrática (AD) liderada por Francisco Sá Carneiro, que venceu as eleições legislativas de 1979 com 45,6% dos votos e repetiu (e reforçou) a vitória no ano seguinte com 47,8% dos votos - conseguiram de facto governar.
Em 2015, a aliança Portugal à Frente (PàF), de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, também ganhou às eleições, mas obteve apenas 38,5% dos votos. O XX Governo constitucional ainda tomou posse, mas o seu programa acabaria chumbado no Parlamento por toda a esquerda e o PAN, o que implicou a demissão do executivo sem entrar em funções plenas, acabando por abrir caminho para a "Geringonça" de António Costa, que junto PS, CDU e Bloco de Esquerda.
Os dois partidos formaram Governo mais duas vezes em resultado de coligações pós-eleitorais, em 2002 e 2011, e outras duas sem ir a votos: em 2004, num executivo liderado por Santana Lopes depois da saída de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, tal como já acontecido no final de 1980, quando Francisco Pinto Balsemão assumiu o cargo de primeiro-ministro na sequência da morte de Sá Carneiro.
Agora, e percebendo que neste momento o PS está particularmente desgastado, depois de oito anos no poder, Luís Montengro, presidente do PSD, já tinha assumido que estava "aberto a dialogar" com alguns partidos. Não foi, portanto, uma total supresa que, esta tarde, PSD e CDS-PP tenham anunciado uma nova coligação pré-eleitoral, "com o horizonte do atual ciclo político" - abrangendo as eleições legislativas, marcadas para 10 de março, mas também as europeias, que vão ocorrer em junho, além de reforçar os compromissos nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
"Esta união pode, antes de mais, trazer ao eleitorado a imagem de uma coligação que foi sólida, foi coadjuvante e fortaleceu os dois partidos ", afirma Paula do Espirito Santo, referindo-se à AD original. Esta "carga histórica" irá, seguramente, beneficiar os dois partidos, considera a politóloga, uma vez que existe aqui um "valor da marca AD" que não pode ser menosprezado - e o nome não terá sido escolhido ao acaso.
Além disso, a coligação poderá trazer uma certa "dinâmica de vitória" aos dois partidos que já não estão no poder há oito anos. "Se formos ver a contabilização dos votos do PSD e do CDS sozinhos nas últimas legislativas, parece que a coligação não fará grande diferença. À luz dos resultados de 2022 o CDS-PP não seria um partido significativo, a verdade é que o partido estava num processo de erosão interna", afirma Paula do Espírito Santo, recordando como em janeiro de 2022, o CDS-PP perdeu, pela primeira vez, a representação parlamentar.
"Mas não podemos esquecer esta dinâmica de vitória que irá com certeza trazer votos", avisa esta analista. "A coligação irá trazer antigos votantes do CDS, que se dispersaram nas últimas eleições e que, agora, poderão encontrar uma motivação para regressar", explica Paula do Espírito Santo.
O CDS chegou a ter 30 deputados no Parlamento, após as eleições de 1983, sob liderança de Francisco Lucas Pires. Reduziu um pouco o seu grupo parlamentar durante a governação de Cavaco Silva e voltou a subir os resultados com Manuel Monteiro (1995), mantendo resultados consistentes durante a liderança de Paulo Portas: chegou a ter 24 deputados em 2011. Mas, depois da experiência da PàF, e com a ascensão de novos partidos de direita, como o Chega e a Iniciativa Liberal, o CDS-PP passou a ser "o partido do táxi", com apenas cinco deputados em 2019 (com Assunção Cristas), até praticamente desaparecer do mapa sob a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos: nas últimas legislativas conseguiu apenas 1,61% dos votos.
"O CDS tinha um eleitorado bastante estável desde 1976 e que se manteve até há pouco tempo, é um eleitorado que não está ainda perdido e é um eleitorado mais tradicional que pode ver aqui uma dinâmica diferente, uma hipótese de projetar a direita", antevê a politóloga.
Mas também o PSD ficará a ganhar, acredita: "Eleitores que se afastaram por algum motivo poderão regressar porque percebem que o PSD tem mais hipóteses de ganhar. A coligação vai apelar ao voto útil para derrotar a esquerda. Este é um passo muito importante e pode ir buscar votos mais à direita", diz.
Finalmente, sabemos que o método de Hondt de contabilização dos votos favorece os maiores partidos e as alianças. "Nas últimas eleições a votação do CDS dispersou-se muito pelo pais e não permitiu a eleição de nenhum deputado. Talvez juntando esses votos aos do PSD fosse possível ganhar mais algum deputado em alguns círculos", antevê Paula do Espírito Santo. "Poderá não ser um reforço muito significativo, mas havendo essa expectativa, pode mobilizar o eleitorado e, de facto, fazer a diferença. Às vezes, por poucos votos ganha-se ou perde-se um deputado."
Paulo Portas, que fez as contas recentemente, na sua rubrica "Global", no Jornal Nacional da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), afirmou que "uma coligação PSD-CDS-IL daria automaticamente mais dez deputados ao centro-direita. Não é pouca coisa. Se fosse apenas PSD-CDS dava mais cinco". E concluía: "Não estamos a falar de trocos, estamos a falar de diferenças que podem ser relevantes para saber quem é que governa o país". Talvez Luís Montenegro e Nuno Melo tenham aqui uma hipótese de vingar o falhanço da PàF.