Muitos pilotos da TAP estão neste momento a receber mais de 20 mil euros por mês. Porque estão a fazer voos extra. E porque isso preveem acordos fechados pela administração no final do ano passado que ninguém conhece. Isso e mais dias de férias
A TAP fechou o ano passado com duas novidades: uma foi notícia amplamente divulgada, a de que a companhia alcançou os maiores lucros de sempre; a outra permanece secreta ainda hoje, a dos acordos fechados com os sindicatos que já fizeram os custos com salários disparar. Em 2023, esse aumento foi de cerca de 300 milhões de euros. Em 2024… ainda não sabemos.
Mas sabemos que a transportadora aérea teve prejuízos no primeiro trimestre de 2024 (período considerado fraco, donde é normal ter resultados líquidos negativos) e também teve prejuízos no último trimestre de 2024 (e isso já não se enquadra na sazonalidade habitual do negócio).
Estão os aumentos dos custos com o pessoal a comprometer de novo o futuro da TAP?
É este o ângulo de partida do episódio desta semana da rubrica As Pessoas Não São Números (ver vídeo em cima), que questionou a TAP sobre várias informações obtidas junto de várias fontes, mas sem grande sucesso: quais são, afinal, as contrapartidas para a TAP do aumento dos custos com o pessoal, depois de a TAP ter acelerado (e talvez ultrapassado) a reversão do corte de custos empreendido no plano de reestruturação aprovado pela Direção-Geral de Concorrência da Comissão Europeia, aquando da injeção de capital pelo Estado?
A resposta está em grande parte nos tais acordos que a administração fechou com os vários sindicatos da companhia, o que aconteceu sobretudo no final do ano passado, quando o governo estava já em queda. O então ministro das Finanças, Fernando Medina, ainda forçou a administração em recuar em parte (equivalente a 40 milhões de euros) das condições negociadas com os trabalhadores, por perigo de violação dos acordos com Bruxelas.
Tendo em conta o crescimento da operação da TAP, e a falta de pilotos, a administração acordou pagamentos para voos extra dos pilotos em condições muito atrativas. Daí muitos pilotos estarem hoje a duplicar os seus salários mensais, ou ainda mais do que isso, em troca de mais voos. Por outro lado, o acordo com os pilotos previrá um máximo de 42 dias de férias pagas por ano, mas a companhia não quis confirmar nenhuma destas informações.
“Não fazemos mais comentários mas acreditamos que voar mais é bom para todos”, responde a TAP sobre os elevados pagamentos de ordenados dos pilotos, acrescentando que o peso dos custos com recursos humanos “foi de 23%” da receita, enquanto noutras companhias esse peso “foi entre 27% e 33%”. Além disso, “a performance no primeiro trimestre está ligeiramente acima do nosso orçamento interno para este ano”, revela a companhia. A TAP assegura ainda que “os parâmetros da TAP” em relação aos acordos com os pilotos “estão de acordo com os da EASA, European Aviation Safety Association”. E frisa que, apesar dos travões impostos por Fernando Medina, “o acordo com a Comissão Europeia vertido no Plano de Restruturação nunca esteve nem nunca estará em causa. Na realidade, estamos melhor do que o estabelecido no Plano em todas as métricas.”