Último ataque aconteceu esta semana, numa base naval. Força Aérea ucraniana terá lançado dez mísseis Storm Shadow contra as instalações. O Storm Shadow, desenvolvido conjuntamente pelo Reino Unido e pela França, é um míssil de cruzeiro com capacidades furtivas, e está entre as armas de maior alcance no arsenal de Kiev
A Ucrânia intensificou os ataques com mísseis e drones na Crimeia nas últimas semanas, numa tentativa de desferir golpes estratégicos e simbólicos contra as forças russas que anexaram a península em 2014.
Na quarta-feira de manhã, Kiev lançou um ataque extensivo a uma base naval russa em Sevastopol, danificando um navio e um submarino e ferindo 24 pessoas, naquele que foi o seu ataque mais ambicioso ao porto desde o início da invasão em grande escala por Moscovo, em fevereiro de 2022.
Na noite seguinte, as defesas aéreas russas abateram 11 drones ucranianos sobre a Crimeia, de acordo com o Ministério da Defesa russo. O ministério também disse que cinco drones submarinos ucranianos, ou "barcos sem tripulação", foram destruídos numa tentativa de ataque no Mar Negro na quinta-feira.
As autoridades locais também foram forçadas a fechar a ponte de Kerch, que liga a península ao continente russo.
Embora os líderes de Kiev tenham insistido há muito tempo que continuam a ter a intenção de recuperar todos os territórios ocupados pela Rússia - incluindo a Crimeia - o aumento acentuado da atenção dada à península foi recebido com algum ceticismo por parte dos aliados, uma vez que a contraofensiva ucraniana luta para ganhar força nas linhas da frente.
Golpes estratégicos
A Ucrânia insiste que os ataques na Crimeia, que têm como alvo bases navais e navios russos, são parte integrante da sua estratégia de contraofensiva, destinada a tentar isolar a península e tornar mais difícil para a Rússia manter as suas operações militares no continente ucraniano, disse à CNN uma fonte ucraniana familiarizada com a estratégia.
A mudança de foco para a Crimeia ocorreu depois de a Rússia ter permitido que a Iniciativa do Grão do Mar Negro caducasse em julho. Desde então, a frota russa do Mar Negro retomou o bloqueio dos portos ucranianos, impedindo a exportação de cereais vitais e ameaçando a segurança alimentar mundial.
A frota também tem sido utilizada para atacar o território ucraniano a partir do mar, nomeadamente através de um bombardeamento pesado e prolongado das instalações ucranianas de armazenamento de cereais e das infraestruturas portuárias em Odessa.
Ao lançar os seus próprios ataques contra os navios de guerra russos no Mar Negro e nas bases navais de Sebastopol, a Ucrânia tem procurado limitar o potencial operacional da marinha russa.
Valor simbólico
No entanto, os ataques à Crimeia têm também um enorme valor simbólico e destinam-se a afetar o prestígio do presidente russo Vladimir Putin. O líder do Kremlin deixou claro que pretende "reunificar" a Rússia e a Ucrânia, que considera um só país.
A ponte de Kerch é a expressão física deste objetivo. Putin ordenou a construção da travessia de 19 quilómetros - a mais longa da Europa - a um custo de cerca de 3,5 mil milhões de euros. No dia em que foi inaugurada, em 2018, Putin liderou um comboio sobre a ponte, numa demonstração triunfante de patriotismo russo.
Há muito tempo que os ucranianos desprezam a ponte, que foi atacada com sucesso por duas vezes desde que a Rússia lançou a sua invasão em grande escala. No dia 8 de outubro do ano passado, um dia depois de Putin ter completado 70 anos, a ponte foi atacada quando um camião-cisterna explodiu e danificou uma grande parte da estrada.
As autoridades ucranianas reagiram ao ataque publicando um vídeo da ponte em chamas juntamente com um vídeo de Marilyn Monroe a cantar "Parabéns, sr. presidente".
A travessia foi atacada com sucesso pela segunda vez em julho. A CNN obteve imagens exclusivas dos serviços de segurança ucranianos que mostram o momento em que utilizaram um drone marítimo experimental para danificar a ponte. O chefe dos serviços de segurança ucranianos, Vasyl Maliuk, disse à CNN que o drone utilizado, chamado "Sea Baby", foi fruto de meses de desenvolvimento que começaram logo após a invasão.
"Os drones de superfície marítima são uma invenção única do Serviço de Segurança da Ucrânia", afirmou. "Nenhuma das empresas privadas está envolvida. Utilizando estes drones, realizámos recentemente um ataque bem sucedido à ponte da Crimeia", considerou, bem como a um navio de guerra russo que foi atingido no Mar Negro ao largo da costa de Novorossiysk, um dos maiores portos da Rússia.
Para além de desenvolver as suas próprias armas, a Ucrânia terá utilizado as armas fornecidas pelos seus aliados para lançar o ataque contra o estaleiro naval de Sebastopol na quarta-feira.
Rybar, um proeminente blogger militar russo, afirmou que a Força Aérea da Ucrânia lançou dez mísseis Storm Shadow contra as instalações. O Storm Shadow, desenvolvido conjuntamente pelo Reino Unido e pela França, é um míssil de cruzeiro com capacidades furtivas, e está entre as armas de maior alcance no arsenal de Kiev. A Ucrânia não confirma o tipo de armas que utiliza.
*Reportagens de Nick Paton Walsh, Victoria Butenko, Florence Davey-Attlee, Tim Lister, Katie Bo Lillis, Natasha Bertrand e Ivana Kottasová contribuíram para este artigo