Ataque à ponte foi realizado pelo "Sea Baby". Mas o que é o "Sea Baby"?
O Serviço de Segurança Ucraniano (SBU) partilhou com a CNN imagens inéditas do momento em que um drone marítimo ucraniano atingiu em julho a ponte de Kerch, que liga a Rússia à península da Crimeia. Esta é a primeira vez que a Ucrânia admite o envolvimento nesta operação, que vitimou dois civis de acordo com fontes oficiais russas.
Nas imagens partilhadas é possível ver de diversos ângulos o momento em que a ponte é atingida por uma explosão de grandes dimensões. É possível observar a perspetiva do piloto do drone ucraniano, que navegava com acesso a várias câmaras a bordo. Nesse vídeo é possível ver a proa da embarcação e o alvo do ataque, um imponente pilar de betão armado que desaparece do feed quando o drone atinge a ponte.
Entre os vídeos partilhados com a CNN estão imagens das câmaras de vigilância russas que monitorizam o movimento na ponte. Aqui é possível ver duas explosões diferentes. Numa das imagens o ataque atinge a plataforma de estrada da ponte, num outro vídeo é possível ver a secção de transporte ferroviário ser atacada pouco depois da primeira explosão. Segundo os especialistas, isto pode indicar que os serviços secretos ucranianos estão a conseguir ter acesso a informação dos círculos internos russos.
“Parece-me um trabalho de hackers. Estes sistemas [de monitorização] não são infalíveis. O ataque à ponte é uma ação demasiado relevante. É um grande ganho operacional e de credibilidade para a Ucrânia”, afirma o major-general Agostinho Costa. Isto porque a ponte de Kerch não só tem um elevado valor simbólico para a Rússia – é encarado pelo próprio Vladimir Putin como a grande obra pública da sua longa presidência – mas também tem impacto na capacidade russa de conduzir a guerra. A ponte liga a península da Crimeia à Rússia e é utilizada por Moscovo para abastecer o seu exército com todos os materiais necessários para conduzir da guerra, de combustíveis a munições. “Um ataque à ponte tem um valor simbólico muito grande. É um grande sucesso mediático”, sublinha o major-general.
Segundo o líder do SBU, Vasyl Maliuk, o drone naval utilizado nesta operação chama-se “Sea Baby” e tem vindo a ser desenvolvido desde o início do conflito. O oficial ucraniano admitiu também que foi este modelo de drone que participou nos ataques que danificaram o navio anfíbio de transporte de pessoal Olengorskiy Gornyak e o petroleiro SIG, que se encontravam no Mar Negro.
The Security Service of Ukraine (SBU) has shown what the "Sea Baby" looks like. This surface drone was used to attack the Crimean bridge in July.
— NEXTA (@nexta_tv) August 16, 2023
In an interview with CNN, SBU head Vasyl Malyuk said that the marine drone is the result of months of development, which began… pic.twitter.com/jRZDquNGlE
Estes drones navais têm pouco mais de cinco metros de comprimento mas conseguem carregar cerca de 300 quilos de explosivos a uma velocidade de 80 quilómetros por hora e atingir um alvo a 800 quilómetros de distância. Podem levar três câmaras HD a bordo e o seu sistema de controlo por satélite é encriptado.
Cada um destes drones tem um custo aproximado de 250 mil dólares, o que pode parecer um valor elevado, principalmente quando estamos a falar de uma arma que é feita para se destruir. Mas o custo destas pequenas embarcações kamikazes é muito inferior aos muitos milhões necessários para adquirir um navio de guerra e a sua tripulação altamente especializada.
“Têm uma relação custo-eficácia bastante grande. Pode pegar-se num casco idêntico ao de uma mota de água, colocam-lhe explosivos, comunicações e visão e podem destruir um alvo de milhões”, explica à CNN Portugal o comandante João Ribeiro.
Nos últimos meses, a Ucrânia tem evitado confirmar a autoria dos ataques, fazendo apenas referências vagas a ataques com “objetos flutuantes não-identificados”. Agora, o SBU admite que o ataque de julho demorou meses a ser preparado e planeado e que a operação foi chefiada pelo almirante Oleksiy Neizhpapa, da marinha ucraniana.
Maliuk recorda ainda os últimos momentos antes da operação, quando ninguém conseguia dormir ou comer. “Estávamos completamente concentrados.” Após o ataque, vários países ocidentais demonstraram interesse em obter os conhecimentos acerca da preparação desta intervenção.
Apesar de sublinhar que todos os alvos ucranianos são “legítimos” e que as forças armadas do país só atingem alvos permitidos de acordo com a lei internacional, Maliuk sublinha que mais surpresas estão a ser preparadas. “Estamos a trabalhar numa série de novas operações interessantes, inclusive nas águas do Mar Negro. Eu prometo-vos, será emocionante, especialmente para nossos inimigos”, disse Maliuk, à CNN.