Juiz Carlos Alexandre decretou a medida de coação mais gravosa ao ex-primeiro-ministro. Advogado de Sócrates considerou a decisão «injusta e injustificada», admitindo o recurso. Ex-governante foi levado já de madrugada por elementos das forças policiais, presumivelmente para o Estabelecimento Prisional de Évora, segundo a Lusa. Foi atribuído a José Sócrates é o número de preso 44
O ex-primeiro-ministro José Sócrates vai ficar em prisão preventiva. A medida de coação mais gravosa que podia ser aplicada após o interrogatório foi anunciada pelo advogado de Sócrates esta segunda-feira, cerca das 22:00, depois de mais um dia de interrogatório no Campus de Justiça.A medida de coação foi decretada pelo juiz Carlos Alexandre.
A escrivã do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) confirmou o anúncio feito minutos antes pelo defensor de Sócrates e disse, também, que o ex-primeiro-ministro está indiciado por corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. O TCIC não revela, no entanto, quais os fundamentos para a prisão preventiva de Sócrates.
À saída do Campus de Justiça, o advogado de José Sócrates, João Araújo, comentou a decisão do juiz, considerando-a «profundamente injusta e injustificada»
É a primeira vez na história da democracia portuguesa que um ex-primeiro-ministro é detido para interrogatório judicial e fica em prisão preventiva.
Os outros arguidos, Carlos Santos Silva, empresário, Gonçalo Trindade Ferreira, advogado, e João Perna, motorista, conheceram igualmente as medidas de coação esta segunda-feira. Santos Silva e João Perna ficam também em prisão preventiva, enquanto Gonçalo Trindade Ferreira fica proibido de contactar com os restantes arguidos, de se deslocar para o estrangeiro (tendo de entregar o passaporte) e tem de se apresentar bi-semanalmente no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
Ainda segundo a escrivã do TCIC, o empresário Carlos Santos Silva está acusado de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais; o motorista de José Sócrates, João Perna, está indiciado de fraude fiscal, branqueamento de capitais e detenção de arma proibida; e Gonçalo Trindade Ferreira por fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Os outros dois arguidos, a quem o tribunal aplicou na segunda-feira à noite a prisão preventiva, vão para o estabelecimento prisional anexo à Polícia Judiciária, em Lisboa, disseram fontes policiais. No entanto, José Sócrates, João Perna e Carlos Santos Silva saíram do Campus da Justiça já perto da 01:00 de terça-feira
Vídeo: O longo dia de Sócrates no Campus da Justiça
O ex-primeiro-ministro foi detido na sexta-feira
Sócrates passou três noites no Comando Metropolitano da PSP, em Lisboa. No sábado, ainda foi a casa, para acompanhar as diligências das autoridades
Carlos Santos Silva
Sócrates detido: 10 momentos de uma carreira de suspeitas
Findos os interrogatórios, o despacho do juiz Carlos Alexandre levou várias horas a ser divulgado. Havia indicação de que seria revelado ao final da tarde de segunda-feira, mas foram precisas quatro horas mais para saber as medidas de coação aplicadas a José Sócrates e aos outros arguidos. Eram 22.30 quando a escrivã do tribunal leu o despacho do juiz que não explicava a fundamentação das medidas de coação.
Na TVI24, vários advogados reagiram a este despacho: «Isto é fomentar o sentimento justiceiro na sociedade»
Inquérito teve origem numa comunicação bancária
Segundo a PGR, o inquérito teve origem numa «comunicação bancária»
As autoridades estavam a investigar «operações bancárias, movimentos e transferências de dinheiro sem justificação conhecida e legalmente admissível».
Segundo o semanário «Sol», Sócrates teria 20 milhões de euros no banco suíço USB, em nome de uma offshore do amigo Carlos Santos Silva. Já o «Económico» garante que eram 2,4 milhões. Em 2009, Santos Silva terá aderido ao Regime Extraordinário de Regularização Tributária (RERT)
O processo ficou nas mãos do procurador Rosário Teixeira e do juiz Carlos Alexandre, ambos já envolvidos em vários casos mediáticos.
As reações políticas foram sobretudo prudentes. O primeiro-ministro começou por, sem se referir ao caso, afirmar que «os políticos não são todos iguais»
O recém-eleito secretário-geral do PS, António Costa, começou por enviar um SMS aos militantes, no sábado de manhã, no qual apelou a que não misturassem «os sentimentos de solidariedade e amizade pessoais»