As principais cidades europeias já foram os parques de diversão de uma das elites mais prósperas do mundo. A guerra fechou-lhes muitas portas, mas abriu-lhe outras. Esta investigação mostra para onde estão a ir os oligarcas russos
Iam às compras durante a semana nas ruas de Genebra, Milão e Paris. Têm dinheiro e gostam de gastá-lo. Corriam as primeiras horas da guerra e a Europa ficou em choque. Vladimir Putin tinha tomado a decisão de invadir a Ucrânia e havia necessidade de responder à agressão do regime russo. Um atrás do outro, vários países europeus fecharam o espaço aéreo à Rússia, impedindo a elite russa de ir às compras às suas capitais europeias favoritas.
Se entre o dia 1 de fevereiro e o dia 24, Genebra, Milão e Paris eram os destinos que recebiam mais voos privados provenientes de Moscovo, essa é uma realidade já longínqua. Uma investigação levada a cabo pelo jornal norte-americano The New York Times revela que, dos mais de dois mil voos privados analisados, existe um destino que se tornou o preferido deste grupo: o Dubai.
Há pouco mais de três meses, o Dubai representava apenas 3% nos destinos dos voos privados russos antes da guerra, mas esse número disparou para uns incríveis 14% no mês de maio. Mas porquê? Do luxo às oportunidades de negócio, esta metrópole edificada de raiz no meio do deserto foi concebida com o propósito de ser um refúgio para quem tem dinheiro, quer fazê-lo e quer gastá-lo. Além disso, o facto de os Emirados Árabes Unidos não cobrarem impostos sobre o rendimento pode levar a que muitas pessoas considerem esta uma localização ideal para transferir os seus negócios.
Foi o que aconteceu com as multinacionais Goldman Sachs ou Google, que realojaram todos os seus trabalhadores russos no Dubai desde que Putin tomou a decisão de invadir a Ucrânia.
Mas não são só os homens de negócios que fogem para o Dubai. Várias estrelas de TV e músicos renegados russos emigraram para o país. O número de cidadãos russos na cidade é já tão evidente que uma empresa de Spas já começou a construir as suas primeiras instalações de saunas russas (isto num país onde as temperaturas oscilam entre os 35º e os 45º durante o mês de junho). A assimilação é tão grande que há quem já chame a cidade de “Dubaisk”.
Porém, este destino não aparece isolado como os que se tornaram hubs da elite russa. Também a Turquia, o Cazaquistão e o Azerbaijão têm beneficiado de vários fatores favoráveis aos russos. Principalmente o facto de não terem apoiado as sanções ocidentais contra a Rússia. A Turquia e o Cazaquistão, por exemplo, tornaram-se um pólo de atração para empresas russas que decidiram abandonar o país. O Azerbaijão, uma antiga república soviética, também beneficia de uma relação relativamente próxima com a Rússia e tem em Baku uma capital desenvolvida que serve de abrigo a cidadãos russos que não querem ficar no país.
Estes destinos são um pouco diferentes dos destinos escolhidos nos primeiros dias de guerra por jornalistas, ativistas, empresários e trabalhadores especializados que fugiram da Rússia para a Arménia, Geórgia e Turquia, com medo de perseguição ou de uma mobilização geral. A favor destes países está também o facto de serem relativamente baratos e de permitirem a entrada de cidadãos russos sem visto. Porém, países como a Alemanha ou a Letónia também acabaram por receber muitas das pessoas que temiam o pior.
A investigação do jornal norte-americano recorreu à análise exaustiva de milhares de registos de voo e descobriu um facto há muito suspeitado: apesar das sanções, as elites russas detém um elevado grau de mobilidade.
Alguns dos principais oligarcas russos continuam a voar através de aviões registados por empresas de países que não estão sancionados e o Dubai tornou-se um ponto fundamental neste esquema. Com recurso a imagens de satélite do aeroporto Al Maktoum, é possível ver que existem mais de 70 jatos privados estacionados no aeroporto, um número muito superior aos encontrados que lá se encontravam antes da guerra.