Putin acusa Prigozhin e Grupo Wagner de “facada nas costas” e “traição”, diz que retaliação é “inevitável”

Pedro Falardo , Lusa
24 jun 2023, 08:44
Vladimir Putin (Kremlin via AP)

O presidente russo comparou esta ação com a Revolução Russa de 1917, e pediu para que as diferenças internas sejam "postas de lado" na luta contra os "neonazis e o Ocidente"

Vladimir Putin reagiu na manhã deste sábado à rebelião instigada por Yevgeny Prigozhin e levada a cabo pelo Grupo Wagner em várias cidades russas, algo que considera ser uma “facada nas costas” e uma “traição”.

“As ações que dividem a nossa unidade são, na sua essência, uma deserção do nosso povo, dos nossos camaradas de armas que estão agora a lutar na linha da frente. É uma facada nas costas do nosso país e do nosso povo. O que enfrentamos é precisamente uma traição. Ambições excessivas e interesses particulares conduziram à traição”, disse o líder do Kremlin, prometendo uma retaliação dura.

“Aqueles que organizaram e prepararam a revolta militar, que levantaram as armas contra os seus camaradas, traíram a Rússia. Todos aqueles que deliberadamente tomaram o caminho da traição, que prepararam uma insurreição armada, que tomaram o caminho da chantagem e dos métodos terroristas, sofrerão um castigo inevitável, responderão perante a lei e perante o nosso povo”.

O presidente russo estabeleceu, ainda, um paralelismo entre esta ação e a Revolução Russa de 1917, “enquanto o país combatia na Primeira Guerra Mundial”. “Intrigas, disputas, politiquices nas costas do exército e do povo tiveram como resultado a destruição do exército, o colapso do Estado e a perda de vastos territórios. O resultado foi a tragédia da guerra civil. Os russos mataram os russos, os irmãos mataram os seus irmãos, enquanto os interesses mercenários eram colhidos por todo o tipo de aventureiros políticos e forças estrangeiras que estavam a dividir o país e a dilacerá-lo”, lamentou.

No entanto, Putin não deixou de elogiar os combatentes do Grupo Wagner, reafirmando que quem preparou esta rebelião está a trair “os heróis que libertaram Soledar e Bakhmut, cidades e aldeias do Donbass, lutaram e deram as suas vidas pela Novorossiya e pela unidade do mundo russo”.

“O seu nome e a sua glória também foram traídos por aqueles que estão a tentar organizar a rebelião, empurrando o país para a anarquia e o fratricídio. Para a derrota, em última análise, e para a capitulação”.

Apelando para que as diferenças internas sejam postas de lado, o presidente russo voltou a propagar a narrativa de que a Rússia está sob ataque de forças neonazis e do Ocidente.

“Estamos a lutar pelas vidas e pela segurança do nosso povo, pela nossa soberania e independência. Pelo direito de ser e continuar a ser a Rússia - um Estado com mil anos de história. Esta batalha, quando o destino do nosso povo está a ser decidido, exige a união de todas as forças. Qualquer discórdia que os nossos inimigos externos podem usar e usam para nos minar a partir de dentro deve ser posta de lado”, pediu Putin.

No final da intervenção, o chefe de Estado garantiu que, “enquanto presidente da Rússia, comandante das Forças Armadas e cidadão da Federação Russa”, vai “fazer tudo” o que estiver ao seu alcance para “defender o país, para proteger a ordem constitucional, a vida, a segurança e a liberdade dos seus cidadãos”.

No Telegram, a força paramilitar de extrema-direita reagiu de forma curta, mas direta. "Putin fez a escolha errada. Tanto pior para ele. Em breve teremos um novo presidente", lê-se na mensagem publicada.

O chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, apelou esta sexta-feira a uma rebelião contra o comando militar russo, que acusou de atacar os seus combatentes. Este sábado de manhã, Prigozhin anunciou que o grupo paramilitar controla as instalações militares e o aeródromo de Rostov, uma cidade-chave para o ataque da Rússia à Ucrânia. O líder do grupo paramilitar disse ter 25 mil soldados às suas ordens e prontos para morrer, instando os russos a juntarem-se a estes numa “marcha pela justiça”.

Prigozhin acusara antes o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”, acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia. O líder do grupo Wagner já tinha afirmado que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporizhzhia, respetivamente, e em Bakhmut, contrariando as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kiev era um fracasso.

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