O chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, anunciou entretanto que o seu exército privado cruzou a fronteira russa na região do Rostov, sul do país, e disse estar disposto a “ir até ao fim” após apelar a uma rebelião contra o comando militar do país
O Presidente russo Vladimir Putin está a ser “continuamente informado” da situação após o anúncio de uma rebelião armada pelo chefe do grupo paramilitar Wagner, indicou hoje o Kremlin.
“Os serviços especiais, as agências de manutenção da ordem, isto é, o ministério da Defesa, o FSB [serviço de segurança], o ministério do Interior, a Guarda nacional, informam continuamente o Presidente sobre as medidas tomadas para pôr em prática as instruções que lhes foram fornecidas”, declarou às agências noticiosas russas o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov.
Antes destas últimas declarações, Peskov tinha indicado que procurador-geral da Rússia informou pessoalmente o Presidente Vladimir Putin sobre um inquérito por “rebelião armada” aberta após o apelo do chefe do grupo paramilitar Wagner a uma rebelião contra o estado-maior das Forças Armadas.
O procurador Igor Krasnov “apresentou um relatório a Vladimir Putin n contexto da abertura de um inquérito penal relacionado com a tentativa de organizar uma rebelião armada”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Em Washington, um porta-voz da Casa Branca disse que a situação está a ser acompanhada e precisou que o Presidente Joe Biden foi informado.
“Seguimos a situação e vamos consultar os nossos aliados e parceiros sobre estes desenvolvimentos”, indicou o porta-voz do Conselho de segurança nacional da Casa Branca, Adam Hodge.
O chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, anunciou entretanto que o seu exército privado cruzou a fronteira russa na região do Rostov, sul do país, e disse estar disposto a “ir até ao fim” após apelar a uma rebelião contra o comando militar do país.
“Cruzámos a fronteira estatal em todos os locais. Os guardas-fronteiriços saíram e abraçaram os nossos combatentes. Agora entramos em Rostov”, afirmou num áudio divulgado no seu canal do Telegram.
Prigozhin também assegurou que está decidido a “ir até ao fim” e a “destruir tudo o que seja colocado” no seu caminho.
“Continuamos, e vamos até ao fim”, disse o proprietário do grupo paramilitar, que reivindicou dispor de 25.000 combatentes.
Previamente, a agência noticiosa russa Tass anunciava a instauração de medidas de segurança em Moscovo após o apelo Prigozhin a uma revolta contra o ministério da Defesa.
“Foram reforçadas as medidas de segurança em Moscovo, os locais mais importantes estão sob segurança reforçada”, para além “dos organismos do Estado e das infraestruturas de transporte”, indicou à Tass responsável das forças de segurança russas.
O ministério da Defesa russo também afirmou que as forças ucranianas se preparam para atacar perto da cidade de Bakhmut (leste da Ucrânia) “aproveitando” o caos provocado pelo apelo à rebelião emitido por Prigozhin.
“Aproveitando-se da provocação de Prigozhin para desestabilizar a situação, o regime de Kiev reagrupa as unidades das 35ª e 36ª brigadas de fuzileiros para ações ofensivas” na zona de Bakhmut, indicou o ministério da Defesa russo em comunicado, assegurando que as forças ucranianas estão a ser atacadas pela aviação e artilharia russas.
Previamente, o FBS tinha anunciado uma investigação ao líder do grupo paramilitar Wagner, após Yevgeny Prigozhin ter apelado a uma revolta contra o comando militar russo, que acusou de atacar os seus combatentes.
"As alegações divulgadas em nome de Yevgeny Prigozhin não têm fundamento. (…) O FSB [serviços de segurança russos] abriu uma investigação por convocação de um motim armado", referiu o Comité Nacional Antiterrorista da Rússia em comunicado, citado por agências de notícias russas.
A presidência russa (Kremlin) divulgou, por sua vez, que o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, está a ser informado sobre o conflito entre o Exército russo e o grupo Wagner.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela agência Tass, assegurou também que estão a ser tomadas as medidas necessárias.
O líder do grupo paramilitar Wagner convocou hoje uma revolta contra o alto comando militar da Rússia, frisando ter 25.000 soldados e instando os russos a juntarem-se a estes numa “marcha pela justiça”.
"Somos 25.000 e vamos determinar por que é que reina o caos no país (...) As nossas reservas estratégicas são todo o exército e todo o país", frisou Yevgeny Prigozhin numa mensagem de áudio, instando “quem se quiser juntar” para “acabar com a confusão”.
No entanto, Prigozhin defendeu-se de qualquer "golpe militar", alegando estar a liderar uma "marcha por justiça".
"Este não é um golpe militar, mas uma marcha pela justiça, as nossas ações não atrapalham as Forças Armadas", assegurou, numa mensagem de áudio.
Prigozhin tinha acusado antes o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”, acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.
A mensagem de Prigozhin foi acompanhada por vídeo com cerca de um minuto, onde se vê uma floresta destruída, alguns focos de incêndio e pelo menos o corpo de um militar.
O Exército russo negou de imediato a realização de ataques contra acampamentos do grupo Wagner.
"As mensagens e vídeos publicados nas redes sociais por Prigozhin sobre alegados ‘ataques do Ministério da Defesa da Rússia nas bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner’ não correspondem à realidade e são uma provocação", referiu o governo russo em comunicado.
Numa outra reação, o líder do Wagner afirmou que as chefias do grupo decidiram que era preciso parar aqueles que têm "responsabilidade militar pelo país".
"Aqueles que resistirem a isso serão considerados uma ameaça e destruídos imediatamente", acrescentou Prigozhin, prometendo "responder" aos alegados ataques.
Estas fortes acusações de Prigozhin expõem as profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.
O líder do grupo Wagner tinha referido antes que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporijia, respetivamente, e em Bakhmut, contradizendo as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kiev era um fracasso.