A Rússia não está apenas a atacar a Ucrânia. Estónia trava ataque híbrido russo e deixa alerta para "guerra paralela"

CNN Portugal | CNN , DCT
21 fev, 10:09
Primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas (Associated Press)

Esta não é a primeira vez que a Estónia é alvo de um ataque híbrido. Mas, agora, toda a Europa está na mira desta “guerra paralela” de Moscovo

A Estónia travou um ataque híbrido conduzido pela Rússia no seu território. O anúncio foi feito pela primeira-ministra Kaja Kallas no X, antigo Twitter, e mais tarde detalhado em entrevista à CNN Internacional. “Sabemos que o Kremlin tem como alvo todas as sociedades democráticas”, escreveu na rede social.

Este ataque, denominado também de operação de influência, remonta a dezembro e envolveu uma série de atos, sobretudo de vandalismo em vários monumentos e no carro do ministro do Interior, Lauri Läänemets, e ainda de um jornalista.

O Serviço de Segurança Interna da Estónia deteve dez pessoas, incluindo cidadãos russos e estónios, assegurando que mais ataques híbridos foram planeados, mas sem apresentar detalhes quanto a datas ou métodos. “Há uma guerra paralela em curso contra as nossas sociedades”, disse Kaja Kallas à CNN Internacional.

“O objetivo das operações de influência da Rússia é influenciar a nossa tomada de decisão democrática. Ao tornar públicos estes eventos, aumentamos a consciencialização para que estas operações não tenham o efeito que a Rússia espera”, explica Kallas.

Os ataques híbridos fazem parte de um tipo de estratégia militar - chamada guerra híbrida ou guerra paralela - e podem incluir ataques informáticos, campanhas de desinformação, espionagem, sabotagem, manifestações ou movimentos combinados, entre outros.

As autoridades da Estónia dizem que a operação foi realizada sob a direção e em coordenação com os serviços de segurança russos. Os dez suspeitos deste ataque híbrido foram detidos por “atuarem em nome de um serviço especial russo”, disse o governo da Estónia, explicando ainda que “tanto quanto é do conhecimento do Serviço de Segurança Interna da Estónia, o objetivo era espalhar o medo e criar tensão na sociedade estónia”. Alguns dos suspeitos de envolvimento nestes ataques foram recrutados nas redes sociais, revela Margo Palloson, diretora-geral do Serviço de Segurança Interna da Estónia

Ainda antes dos atos de vandalismo, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, Margus Tsahkna, disse que a  Estónia estava a ser alvo de um “flagrante ataque híbrido” na sua fronteira com a Rússia,  acusando Moscovo de querer “semear a ansiedade e a instabilidade”.

“É mais uma prova de que a Rússia não está a lutar apenas na Ucrânia, mas representa uma ameaça para outros países com os seus ataques híbridos”, afirmou Tsahkna.

 

As agências de informação dos Estados Unidos e dos aliados identificaram o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), sucessor do KGB (serviço secreto soviético), como responsável por operações militares de influência semelhantes em vários países europeus nos últimos anos. Na Estónia, por exemplo, esta não é a primeira vez que Moscovo leva a cabo um ataque híbrido. Fê-lo em 2007, apenas três anos depois da Estónia se juntar à NATO, com ataques informáticos e agitação social organizada.

Analistas de informação e segurança dizem que diversas agências russas, incluindo o FSB e o SVR (o serviço de informação estrangeira dos russos), estão envolvidas em operações híbridas em toda a Europa Oriental. No entanto, a Estónia - que já treina para uma eventual invasão russa - tem sido um alvo particular pelo facto de quase 25% da sua população falar russo.

O Kremlin também está diretamente envolvido na definição das operações de influência russa nos países vizinhos, de acordo com documentos da Administração Presidencial divulgados no ano passado, documentos esses, alguns consultados pela CNN Internacional, que delinearam uma variedade de objetivos destinados a enfraquecer a orientação ocidental dos Estados Bálticos e da Moldova.

Em março do ano passado, a Casa Branca afirmou que “atores russos, alguns com ligações atuais aos serviços secretos russos, estão a tentar encenar e utilizar protestos na Moldova como base para fomentar uma insurreição fabricada contra o governo moldavo”. 

Os esforços nestes três Estados Bálticos, todos membros da NATO e da União Europeia, têm sido geralmente mais discretos - centrados na mudança de opinião através de meios de comunicação social e do ativismo pró-Rússia.

A Rússia ainda não reagiu a todas estas reivindicações. 

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