Estónia já treina para a invasão russa. E tem a ajuda dos franceses

13 dez 2023, 15:28
Tropas franceses em exercícios da NATO na Estónia (Getty)

Forças paramilitares estonianas, que estão sob a alçada das forças armadas, estão a realizar exercícios militares

Depois da invasão da Ucrânia, a Letónia acredita que vai ser o próximo alvo da Rússia e já está a preparar-se para a guerra.

Na ilha de Saaremaa, em pleno Báltico, um território visto como ponto estratégico na Europa, e que em tempos foi invadido por alemães e soviéticos, a Liga de Defesa da Estónia (Eesti Kaitsevägi), corpo de voluntários associado às forças armadas do país, está a realizar exercícios militares.

Estes são treinos comuns, mas, pela primeira vez, contam com a presença de uma unidade militar francesa. O objetivo é somente um: estar preparado para o dia em que Vladimir Putin decida expandir a guerra na Ucrânia para os países bálticos.

Ao Politico, o porta-voz dos paramilitares, o tenente Kristjan Kaup diz não ter dúvidas de que “a Rússia quer aumentar o seu poder". "Na minha opinião, haverá uma próxima invasão. Na nossa comunidade, não perguntamos 'se', perguntamos 'quando'", afirmou.

Estónia e Letónia têm fronteira terrestre com a Rússia e, tal como a Lituânia, preparam-se para o pior dos cenários desde 2014. Os três países bálticos aumentaram os gastos com a Defesa e há cerca de uma década que alertam os vizinhos para o perigo russo.

Com a invasão da Ucrânia, os aliados da NATO começaram a reforçar o flanco oriental da aliança, mas, desde 2017, que a França passou a fazer uma rotação de tropas no âmbito do programa de Presença Avançada Reforçada da NATO. Este é um subgrupo tático estacionado em Tapa – cidade no centro da Estónia -, que, com a invasão da Ucrânia, foi reforçado por decisão do presidente francês Emmanuel Macron, que enviou mais 300 soldados para a denominada Missão Lynx, onde se juntam também tropas dos Estados Unidos e do Reino Unido, que lidera a operação.

Tropas franceses em exercícios militares da NATO na Estónia (AP)

Quem são os paramilitares

Criada em 1918, a Liga de Defesa foi formada depois de a Estónia ter conquistado a independência do império russo e, posteriormente, reconstituída depois do colapso da União Soviética. A organização paramilitar é composta por voluntários cujo único propósito é defender a pátria em caso de ataque.

A força armada conta com um total de 18 mil elementos e está sob o controlo do Ministério da Defesa. Tem à sua disposição um vasto leque de armamento e passa os fins de semana em treinos de combate e sobrevivência.

Na ilha de Saaremaa há 43 mil habitantes. Destes, 2.400 são membros da liga, sendo esta a região com maior rácio de paramilitares em toda a Estónia. 

Saarema está incluída no grupo estratégico de ilhas da Estónia no Mar Báltico que dá acesso ao Golfo da Finlândia e à segunda maior cidade da Rússia, São Petersburgo. Por isso, em 1917, vieram os alemães, depois foi a vez do Exército Vermelho da União Soviética e até hoje ficou a incerteza de quando acontecerá a próxima invasão. “Muitas coisas começaram em Saaremaa durante as duas guerras mundiais. Temos isso em mente”, lembra o comandante da liga Arto Reimma, que nasceu na ilha.

“Temos de estar prontos para nos defender e por isso estamos muito satisfeitos por os nossos aliados estarem aqui para nos apoiar", realça ainda.

Jogo de guerra

Este último exercício que conta com a participação de militares franceses ficou conhecido como “o jogo de guerra de dezembro” e contou com veículos blindados, armamento pesado, com o objetivo de deter o invasor que entrava pelo porto de Mõntu. O treino ocupou florestas, estradas e, por vezes, decorreu junto a casas habitadas.

“Aprendemos a esconder-nos e a viver na neve, a dormir com recursos limitados”, descreveu o capitão Florian, oficial francês da Missão Lynx.

Temperaturas muito baixas e neve profunda. Tropas francesas encontram condições extremas nos exercícios da NATO na Estónia (AP)​​

Em 2024, estes exercícios militares vão voltar a realizar-se, como parte também da política de Defesa da França, que optou por retirar operacionais dos países africanos e construir uma presença alargada na Estónia.

As forças armadas francesas enviaram para a Estónia 18 veículos blindados multifuncionais Griffon, blindados leves AMX-10 RC e um pelotão de tiro composto por quatro obuses Ceaser.

Os laços militares entre França e Estónia remontam a 2011 e destacaram-se, em 2018, quando Talín enviou tropas para combaterem os jihadistas na principal missão francesa na região do Sahel, naquela que ficou conhecida como "Operação Barkhane". Agora, “a parceria está a correr muito bem”, como explicou o tenente-coronel Patrick Ponzoni, principal representante da França na região, acrescentando que “este era um território completamente desconhecido para todos, para todos os países, não apenas para a França”.

“Todas as nossas tropas precisarão de ser experientes”, sublinhou Ponzoni, lembrando que os militares estonianos estão habituados a baixas temperaturas e neve profunda.

E o que acontecerá se Putin der luz verde à invasão da Estónia? "Nós iríamos", garantiu Ponzoni.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados