Fugiu para a Ucrânia de helicóptero, na Rússia era um "cadáver moral" e apareceu agora morto em Espanha, crivado de balas. O que aconteceu a Maksym Kuzminov?

CNN Portugal , DCT
20 fev, 13:16
Maksym Kuzminov (EPA/STR)

O piloto de 28 anos foi encontrado morto em Espanha, menos de um ano depois de ter fugido da Rússia no seu helicóptero

Nasceu na Rússia, mas fugiu para a Ucrânia: Maksym Kuzminov, de 28 anos, foi um dos mais mediáticos desertores russos da guerra na Ucrânia, tendo fugido para território ucraniano com o seu helicóptero Mi-8 e em total coordenação com as tropas de Kiev, que o ajudaram a chegar em segurança a Poltava, em Kharkiv. 

A sua fuga, juntamente com a sua família, aconteceu em agosto do ano passado e deu origem à mediática "Operação Synytsia", com a qual o piloto russo terá lucrado cerca de 500 mil euros, apenas por ter voltado as costas ao regime de Vladimir Putin e ter levado consigo peças de caças SU-27 e SU-30 russos.

Maksym Kuzminov era piloto profissional. Quem o conhecia descrevia-o como uma “pessoa calma” e apologista do “trabalho pacífico” e que tinha “medo de morrer na guerra”, conta o canal russo de Telegram Baza, citado pelo El Mundo.

Formou-se na Escola de Aviação Syzran, no sul da Rússia, e chegou mesmo a trabalhar para o Kremlin no começo da invasão russa à Ucrânia. Fez parte das Forças Armadas Russas como piloto-navegador no 319.º Regimento Separado de Helicópteros, mas a curiosidade acabou por fazê-lo perceber que estava do lado errado da história: assim que começou a ler mais sobre a relação entre os dois países decidiu aliar-se a Kiev, deixando Moscovo para trás. Em causa, confessou, estava aquilo que achava ser “um genocídio” a acontecer em território ucraniano. Falou com os seus pais sobre os seus planos e recebeu apoio para avançar para a fuga, apesar dos riscos, conta o The Kyiv Independent. Consta que a sua mãe abandonou a Rússia pouco antes do filho fugir, mas não há informações oficiais.

Entrei em contato com representantes da Ucrânia e expliquei a minha situação. Ofereceram-me garantias de segurança, novos documentos, compensação monetária, uma recompensa. Discutimos os detalhes e começámos a planear o meu voo diretamente”, disse Maksym Kuzminov no documentário ‘Downed Russian Pilots’ (pilotos russos abatidos, em tradição livre), que foi também partilhado pelo serviço de informação militar ucraniano, tutelado pelo Ministério da Defesa da Ucrânia.

Segundo o Business Insider, Kuzminov também tinha dois outros tripulantes a bordo do helicóptero onde fugiu, tendo ficado surpreendidos ao perceber que estavam na Ucrânia. Oficiais militares ucranianos disseram que não se renderam e, por isso, foram “eliminados”, lê-se na publicação.

Na semana passada, Kuzminov foi encontrado morto numa garagem subterrânea na cidade de Villajoyosa, em Alicante, Espanha. Segundo a Reuters, o corpo de Kuzminov estava crivado de balas. A imprensa espanhola diz que foi alvo de 12 disparos e está agora a investigar a sua morte.

Diz o El Mundo, que embora a documentação encontrada junto do corpo baleado em Villajoyosa não correspondesse à de Kuzminov - pertencia a um indivíduo de 33 anos de nacionalidade ucraniana -, fontes ouvidas pela Efe esclareceram que se trata do piloto russo que desertou e que estaria a usar outra identidade. A BBC diz que o piloto russo estaria a viver com uma identidade falsa. Andri Yusov, do Serviço de Segurança da Ucrânia, já veio confirmar que se trata de Kuzminov.

Aos jornalistas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, desvalorizou a notícia da morte de Maksym Kuzminov, dizendo mesmo que “este não é um assunto na agenda” e que o Kremlin “não tem informações sobre o assunto”, lê-se na TASS. Já o chefe da espionagem russa, Sergei Naryshkin, comentou a morte de Maksim Kuzminov, descrevendo o piloto como um “traidor”. “Este traidor tornou-se um cadáver moral quando planeou o seu crime”, disse.

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