A mulher mais rica da Austrália quer retirar o seu retrato de uma exposição

CNN , Catherine Nicholls e Hilary Whiteman
17 mai, 11:38
A multimilionária australiana Gina Rinehart quer que o seu retrato seja retirado de uma exposição na Galeria Nacional da Austrália.  wantja Arts/Vincent Namatjira/Copyright Agency/Getty Images

A arte é subjetiva. E embora muitos artistas desejem partilhar o seu trabalho com o mundo não há garantias de que o público o compreenda, ou mesmo que goste dele.

Esse parece ser certamente o caso de uma pintura do artista aborígene Vincent Namatjira, que inclui um retrato da pessoa mais rica da Austrália, a magnata da mineração Gina Rinehart.

Segundo consta, Rinehart pediu à National Gallery of Australia (NGA) que retirasse o seu retrato, uma das 21 obras individuais que compõem uma única peça da exposição "Australia in Colour" de Namatjira.

A exposição está patente na galeria da capital australiana, Camberra, desde março.

Outros temas da peça incluem a falecida rainha Isabel II, o músico americano Jimi Hendrix, o ativista australiano dos direitos dos aborígenes Vincent Lingiari e o antigo primeiro-Ministro da Austrália Scott Morrison.

A pintura de Rinehart é um dos 21 retratos do artista Vincent Namatjira que fazem parte da sua exposição "Australia in Colour" [Austrália a cores]. Vincent Namatjira

Os meios de comunicação social australianos noticiam que Rinehart contactou o diretor e o presidente da NGA para solicitar a remoção do quadro.

A NGA declarou em comunicado à CNN na quinta-feira que "acolhe com agrado o diálogo do público sobre as [suas] coleções e exposições".

"Desde 1973, quando a Galeria Nacional adquiriu o quadro Blue Poles de Jackson Pollocks, tem havido uma discussão dinâmica sobre os méritos artísticos das obras da coleção nacional e/ou expostas na Galeria”, continua o comunicado da NGA. "Apresentamos obras de arte ao público australiano para inspirar as pessoas a explorar, experimentar e aprender sobre arte.".

Namatjira afirmou, também numa declaração, que pinta "pessoas ricas, poderosas ou significativas": "Pessoas que tiveram influência neste país e em mim pessoalmente, direta ou indiretamente, para o bem ou para o mal."

"Pinto o mundo como o vejo", defendeu. "As pessoas não têm de gostar dos meus quadros, mas espero que dediquem algum tempo a olhar e a pensar: 'porque é que este aborígene pintou estas pessoas poderosas? O que é que ele está a tentar dizer?'. Algumas pessoas podem não gostar, outras podem achar engraçado, mas espero que as pessoas olhem para além da superfície e vejam também o lado sério."

Rinehart é a presidente executiva da Hancock Prospecting, uma empresa mineira privada fundada pelo seu pai, Lang Hancock.

A CNN contactou a Hancock Prospecting, mas não obteve resposta.

Rinehart tem um património líquido estimado em 30,2 mil milhões de dólares, segundo a Forbes. A empresária "permaneceu inabalável" no topo da lista dos 50 mais ricos da Austrália da Forbes para 2024, informou a publicação em fevereiro.

A Associação Nacional de Artes Visuais da Austrália (NAVA) manifestou-se a favor de Namatjira, informou a filial da CNN 9News.

"Embora Rinehart tenha o direito de expressar as suas opiniões sobre a obra, não tem autoridade para pressionar a galeria a retirar a pintura simplesmente porque não gosta dela", disse a diretora executiva da NAVA, Penelope Benton, segundo a 9News.

A NAVA ofereceu o seu "apoio total" à National Gallery of Australia, informou a 9News, afirmando que estava preocupada com o facto de a exigência de Rinehart de retirar o retrato "abrir um precedente perigoso para a censura e a sufocação da expressão criativa".

Relacionados

Mundo

Mais Mundo

Mais Lidas

Patrocinados