Há duas razões para o alerta. Primeira: como o valor do empréstimo é maior, mantendo-se o prazo máximo, a prestação é necessariamente maior; com efeitos na taxa de esforço. Segunda: a manter-se a oferta, e com uma procura maior, os preços podem subir
Comprar uma casa até aos 35 anos, com o banco a financiar 100% do valor da habitação. Foi uma das medidas anunciadas pelo Governo, fazendo cair aquilo que para muitos jovens é um bloqueio na aquisição de um imóvel: a entrada.
E que efeito está a ter essa medida no dia a dia das imobiliárias? Para já, dizem, é muito tímido. Apesar das expectativas de que as mudanças vão trazer agitação a um mercado que, por definição, era reduzido.
“Temos alguns processos em que os clientes estão a aguardar a promulgação da medida para serem beneficiados. E temos também alguns clientes que iniciaram os seus processos de compra, com vista a serem abrangidos por esta medida”, adianta Marco Tairum, presidente executivo da Keller Williams Portugal. A certeza é de que “a procura irá seguramente aumentar”.
Também Beatriz Rubio, co-fundadora da Maxfinance Portugal, traça um cenário de relativa contenção quanto a esta medida. “Não estamos a sentir um impacto significativo no mercado. Os bancos ainda aguardam a sua publicação oficial para poderem analisar e implementar as soluções necessárias”.
Ainda assim, diz, a perspetiva de um financiamento a 100% é “muito positiva” nesta faixa etária, já que “muitos jovens têm adiado a compra de casa devido às exigências de entrada de capital próprio. Esta medida poderá inverter essa tendência, permitindo avançar com maior segurança e celeridade”.
Beatriz Rubio, com uma vasta experiência no mercado imobiliário, deixa um aviso: um financiamento a 100% tem de “ser cuidadosamente gerido” no que respeita à taxa de esforço. Porque, sem o abate dessa entrada, o valor a emprestar é necessariamente maior. Logo, as prestações também.
"Esta medida terá também um efeito generalizado no mercado, sobretudo ao nível da banca, porque irá fazer apertar ainda mais o escrutínio em todo o processo de concessão de crédito. E este é um tema que ainda dará muito que falar", completa Rui Torgal, presidente executivo da Era Imobiliária.
Ricardo Sousa, presidente executivo da Century 21 Portugal, concorda que esta medida poderá ser “crucial para promover a emancipação dos jovens e facilitar o seu acesso à habitação”.
Até porque, alerta, este é também um segmento que tem estado muito pouco ativo no mercado, à custa dos “baixos rendimentos” e da “precariedade”. “Aproximadamente 50% dos jovens entre os 25 e os 34 anos ainda vivem com os pais, o que coloca Portugal entre os países da União Europeia com os índices mais elevados neste indicador”, traça.
"Não tenho dúvidas que esta medida poderá ser um estímulo importante para uma camada da nossa população que, ao longo dos últimos anos, tendencialmente, tem sido pouco ativa devido à falta de condições financeiras para cumprir os requisitos necessários para a compra de uma casa", confirma Rui Torgal da Era.
Mas, além dos baixos rendimentos e da precariedade, há outro aspeto a pesar - e muito - na capacidade dos jovens de comprar casa: a falta de oferta.
Se a procura aumentar, como esperado com esta medida, e mantendo-se a oferta existente no país, as regras do mercado são claras: os preços sobem, acabando por abafar os efeitos desta medida do governo.
“A procura irá seguramente aumentar. Em relação aos preços ainda há alguma incerteza, mas a falta de oferta e a potencial pressão na procura que esta medida irá fazer poderão levar a um ligeiro aumento em algumas cidades”, confirma Marco Tairum, da Keller Williams Portugal.
Este efeito “perverso” já tinha sido avançado à CNN Portugal por Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP). “Se não há aumento de oferta e se a medida estimular a procura, se tiver de facto efeito, com muitos jovens a irem às compras imobiliárias, os preços podem subir”, resume.
A garantia pública para os jovens cobrirá até 15% na compra de um imóvel, no valor máximo de 450 mil euros.