«Banho» de bola, dizem catalães e madrilenos
«O Camp Nou deixou Figo surdo e o Real Madrid coxo» ou «Conformaram-se todos menos Casillas» - numa alusão ao bom desempenho do jovem guarda-redes do Real - são títulos de primeira página que não deixam dúvidas sobre o reconhecimento, por parte dos jornais da capital espanhola, da justiça da vitória de ontem (sábado) do Barcelona sobre o Real (2-0).
Quando a Marca e o Ás «capitulam» assim perante um êxito do Barça, fica quase tudo dito. O primeiro dos dois levanta a questão em editorial com chamada de primeira página: «Quem decidiu que Figo não marcava cantos? Quem o fez originou que o Real tenha partido desde logo em desvantagem».
Nas páginas interiores, a própria Marca dá a resposta. Tratou-se, segundo a notícia, de uma decisão dos próprios jogadores madridistas, preocupados com a segurança do número 10, que para bater cantos teria de se aproximar perigosamente das bancadas que destilavam fúria contra ele. Del Bosque, o treinador, ter-se-á limitado a aceitar a vontade dos seus pupilos.
Virando atenções para a imprensa catalã, quiçá ainda mais entusiasta na defesa das cores barcelonistas que a congénere da capital no que toca ao Real, percebe-se imediatamente a completa inversão do ângulo de abordagem ao jogo.
O Mundo Deportivo dá largas à alegria com um garrafal «Que gozo!», enquanto o Sport fala em «Banho ao Madrid». Curiosamente, uma expressão também utilizada pela Marca no título da crónica do jogo.
O Sport é o jornal que maior importância concede à hostilíssima recepção de que foi alvo Luís Figo. Em Julho passado, foi nas páginas deste periódico que Figo jurou amor eterno ao Barcelona e desmentiu a existência de um contrato com Florentino Pérez, então candidado à presidência do Real. Na Catalunha, estas coisas pagam-se caras...
De volta ao Mundo Deportivo, temos o «tratamento» dispensado ao português definido como «A bronca do século». Segundo os jornais catalães, nunca em 100 anos de história do Barça se vira algo parecido. O Sport segue a mesma linha e a Marca também acha que Figo foi «massacrado». O Ás, mais mordaz na crítica, diz que ele «fugiu das laterais e dos cantos».
Já agora, está bom de ver que para as publicações afectas aos «blaugrana» o comportamento do público foi considerado exemplar, apesar das garrafas, dos frutos, das moedas e dos telemóveis (dois!) que caíram no relvado. O Ás, de Madrid, chama a atenção para o que considera ter sido «o lamentável comportamento de um sector do público», referindo-se ao topo onde se concentram os Boixos Nois, claque radical do Barcelona.
Como sucedeu no dia do encontro, também os jornais generalistas chamaram à primeira página o clássico de Camp Nou e a recepção a Figo. Ficam três exemplos: «Figo cai ante o Barça» (La Vanguardia, Barcelona); «Via da intimidação mortal para o Madrid» (El Mundo, Madrid); «Barça atropela Real» (El País, Madrid).
