Pontapé invertido (crónica V. Guimarães-F.C. Porto)

1 ago 2000, 23:39

V. Guimarães marca a meio do domínio portista O Vitória de Guimarães venceu o F.C. Porto (1-0), no encontro de apresentação aos sócios disputado em Felgueiras. Geraldo marcou o único golo da noite que também constituiu o último teste de Fernando Santos para o próximo jogo da Liga dos Campeões.

O pior pedaço estava reservado para o fim. A apresentação era do Guimarães, ainda que fosse Fernando Santos quem manuseava instrumentos em meticulosas experiências. Era a última antes da Liga dos Campeões. Na verdade, nem se saía mal, antes de Geraldo mudar o rosto a um jogo que o F.C. Porto dominava. O Vitória não aceitou o papel de cobaia, mas terá servido, mesmo que involuntariamente, a meio de uma revolta repentina, o mais forte contributo ao estudo do treinador portista, agora certamente mais seguro sobre o que falta afinar. 

Sem vénia nem mesuras, os adversários seguraram-se pelos pulsos ao primeiro pontapé num gesto puramente intuitivo. Enlaçaram-se num abraço prolongado, tentando pressentir intenções, demorando o jogo a meio-campo num método comum e matreiro que carregava consigo habilidades para mais tarde. 

Cansado de subtilezas, sem aviso nem sinal, o F.C. Porto libertou-se da delicadeza vimaranense, que, não tendo mais mão no adversário, dava a sensação de conhecer ao pormenor todo o plano ofensivo do opositor. Alenitchev rendilhava, transformava exíguos milímetros em longos metros, mas esbarrava numa outra arte, uma espécie de milagre da multiplicação dos defesas, que deixava o Guimarães ocupado na porção de terreno que guardava religiosa e pacientemente. 

O passe súbito e longo, imagem de marca do russo, rasgava a defesa, mas não a decompunha irremediavelmente. Ora por culpa de Clayton e Maric, ora por obra de Paulão ou Tomic. Sobrava sempre um par de pernas ou, na pior das hipóteses, de luvas. 

A tendência, pontualmente invertida em rápidos contra-ataques, arrastar-se-ia para além do intervalo, quando Fernando Santos juntava novas experiências e outros nomes. Parecia, ainda assim, não abdicar do domínio garantido pela assiduidade com que frequentava a baliza adversária. Mas dos golos só conseguiu ameças, ainda que sérias. 

Autuori não ficou a assistir. Fez um punhado de alterações, que deixaram o adversário em sobressalto, surpreso com repentes velocistas que multiplicaram erros e espaços, e deu a volta inteira a um jogo que até então lhe era visivelmente desfavorável. Geraldo não chegou a aquecer antes de desferir o remate que valeu a vitória, justamente na recarga a um pontapé de Sérgio, que com ele entrara instantes antes. 

O brasileiro tinha o jogo desfigurado. O F.C. Porto, que antes dera o rumo que bem entendera ao encontro, sentia-se perdido, ameaçava asfixiar na frequência com que deixava Pedro Espinha a sós com o opositor ou via o poste devolver novo golo. Esbracejava, tentava reagir, mas perdera a referência na saída de Alenitchev. Com esforço, Cândido Costa vestiu-lhe a pele e o F.C. Porto, já a salvo da goleada, recuperava a condição de quem mandara no jogo, mas não chegaria a empatar, ainda que Pizzi tenha andado muito perto de o conseguir. 

FICHA DO JOGO 

Estádio dr. Machado Matos, em Felgueiras

Assistêcia: 8 mil espectadores

Árbitro: Augusto Duarte (Braga)

Auxiliares: Paulo Januário e Manuel Ribeiro 

GUIMARÃES ¿ Tomic; Paiva, Paulão, Márcio Theodoro, Rogério Matias; Fangueiro, Preto, Soderstrom, Pedro Mendes; Manoel e Maurílio.

Treinador: Paulo Autuori

Jogaram ainda: Geraldo, Sérgio, Lima, Carlos Alvarez 

F.C. PORTO ¿ Pedro Espinha; Nélson, Ricardo Silva, Jorge Costa, Rubens Júnior; Paredes, Paulinho, Chainho; Alenitchev; Maric e Clayton

Treinador: Fernando Santos

Jogaram ainda: Secretário, Esquerdinha, Pavlin, Cândido Costa, Domingos, Aloísio, Pizzi 

Ao intervalo: 0-0

Marcador: Geraldo (62m)

Cartão amarelo: Maurílio (45m), Secretário (72m)

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