Lúcia teve um azar de 0,0004% com uma vacina contra a covid-19. Agora está a processar Estado, Infarmed e Pfizer

14 jun, 21:00

Dores musculares começaram pouco depois de tomar a vacina. Para recuperar da situação a família teve de destruir as poupanças: 140 mil euros

Foram mais de 13 mil milhões de doses administradas e cerca de 2,3 milhões delas com notificações de reações adversas. É uma percentagem apenas 0,02% de reações adversas, mas Lúcia teve o azar de ser uma dessas pessoas.

No caso português são 39 mil reações adversas, das quais 8.518 foram consideradas casos graves, em números registados até ao final de 2022 e divulgados pelo Infarmed. Lúcia teve o azar de ser um desses casos.

Depois de tomar a segunda dose da vacina deixou de andar. Ainda pediu ajuda ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas não teve resposta em tempo útil.

Desde então gastou 140 mil euros em hospitais privados e, por isso mesmo, decidiu avançar com um processo contra três entidades: Ministério da Saúde, Infarmed e Pfizer.

"Na segunda dose da vacina começaram as dores musculares. Estaria tudo bem, não começassem a intensificar de dia para dia, com pés a escaldar, com cãibras noturnas, com dificuldades de marcha, muito cansaço... e tudo se foi intensificando", descreve Lúcia Martins à CNN Portugal.

A doente não tem dúvidas: mesmo não sendo negacionista, o que aconteceu ao seu corpo deve-se à vacina, que teve de tomar até por questões profissionais.

Entre os vários sintomas iniciais estavam mialgias e cansaço, mas passados dois meses começou mesmo a ter de andar com recurso a uma muleta. Agora deixou de ser autónoma e tem mesmo de andar de cadeira de rodas.

Decidiu, por isso, recorrer a uma médica de medicina interna do Hospital da Cruz Vermelha de Lisboa, tendo sido referenciada para neurologia. Na CUF Tejo deram-lhe o diagnóstico: "A doente tem sofrido de um processo de doença imunológica, que tem atingido sucessivamente várias estrututras do sistema neurológico, com envolvimento inicial dos músculos e, posteriormente, dos nervos periféricos e de estruturas centrais medulares, levando aos diagnósticos de miopatia inflamatória grave, polineuropatia axonal de predomínio sensitivo e de mielite".

A mielite transversa é, de resto, um dos efeitos secundários reconhecidos pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), mesmo que apenas com uma frequência de um a cada quatro casos por milhão de vacinas. O mesmo é dizer que, no máximo, acontece a 0,0004% dos casos.

"Disseram que os sintomas tinham começado seis meses antes e que o que aconteceu de diferente foi a toma da vacina", garante a doente, depois da consulta na CUF Tejo.

De resto, os exames complementares não detetaram qualquer outra possível causa além da toma das duas doses da vacina da Pfizer. Com efeito, a Cruz Vermelha Portuguesa confirma que não se pode excluir um "nexo de causalidade" entre a toma da vacina e o surgimento dos sintomas.

Perante o agravamento do estado de saúde de Lúcia, o SNS, segundo a família, não deu uma resposta eficaz, até porque as consultas demoravam mais de um ano. Preocupada com a situação, a família esteve 24 meses à espera de um certificado de multiusos. A luta pela recuperação custou, no total, 140 mil euros. "Todas as reservas de uma vida foram", conta o marido da doente.

Em resposta aos pedidos da família, o Infarmed disse que o assunto era da competência da Direção-Geral da Saúde, que remeteu para o Infarmed. Também o Ministério da Saúde indicou a família para a Autoridade do Medicamento, mas Lúcia continua sem respostas.

Em resposta à CNN Portugal o Infarmed descartou qualquer problema com os dois lotes das vacinas tomadas por Lúcia Martins, referindo ainda que nesses dois mesmos lotes teve 492 notificações de casos suspeitos indicados como reações adversas.

Já a Pfizer optou por não comentar o caso, lembrando que situações do género estão a ser tratadas em tribunal.

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