Houve "teorias interessantes" do Chega sobre a liberdade das minorias. E um comunista a acreditar "tanto nos planos da Rússia como nas armas de destruição maciça do Iraque"

20 mai, 23:07

Mesmo quando não se falava de guerra, à mesa deste debate o espírito era bélico. A tentativa foi sempre a de encostar o candidato do Chega às cordas. Tânger Corrêa terá caído sozinho na hora de falar da liberdade de expressão das minorias. "Respeitamos as minorias, desde que sejam minorias", disse. Quando chegou a hora de falar de guerra, foi o candidato comunista a colocar-se na mira dos adversários

O alvo à mesa estava bem definido. E, embora tímidos, os candidatos foram apontando ao cabeça de lista do Chega. Primeiro foi o PAN, a chamá-lo de “anti-europeísta”. António Tânger Corrêa respondeu com o currículo. “Somos sistematicamente acusados de dizer coisas que não dizemos”.

E foi aí que o ataque ficou cerrado. Veio o liberal João Cotrim de Figueiredo lembrar que Ventura queria algo ilegal: usar os fundos europeus para pagar pensões. O comunista João Oliveira corrigiu: afinal, não havia motivo para preocupações, porque agora o Chega quer “fundos de pensões”.

Uma tentativa de atirar o adversário às cordas – embora, em vários momentos do debate, Tânger Corrêa o tenha feito sozinho. Já lá vamos, para falar da sua conceção de “maiorias” e “minorias”.

Porque este era o momento de falar de crescimento económico. “A Europa está a ficar para trás e as pessoas não têm noção da dimensão deste atraso”, avisou Cotrim. Tânger Corrêa veio depois mostrar-se contra a transferência dos Estados para Bruxelas: “não é por haver mais integração europeia que a Europa vai voltar a ser competitiva novamente”.

“Outra abordagem” apresentou João Oliveira, lembrando que a desindustrialização “foi, provavelmente, uma das maiores dificuldades que nos foi criada”. Para o comunista, o caminho passa por criar “condições para que cada país possa encontrar as soluções mais adaptadas às suas circunstâncias”.

E, neste novo contexto, que inclui a transição digital, onde se vai buscar os milhares de milhões necessários? Pedro Fidalgo Marques, do PAN, lembrou os “cerca de 300 mil milhões de euros” dados anualmente em subsídios aos combustíveis fósseis. E fez uma comparação: “todos os anos são dados em apoios aos combustíveis fósseis o dobro do que Portugal recebeu em 38 anos”.

E ditará esta transição ambiental uma nova austeridade? Nesta resposta, o isolado foi outro: o candidato comunista. Foi o único a admitir que sim, com duras críticas ao controlo orçamental europeu. “Mais do que Pacto de Estabilidade, está transformado num Pacto de Austeridade. Já pouco se distingue dos tempos da troika”, comparou.

Tânger Corrêa fez questão de vincar que “a Comissão tem demasiado poder dentro das instituições europeias”, pedindo uma “maior intervenção do Parlamento e do Conselho Europeu em matérias orçamentais.

(José Fernandes/Divulgação SIC)

A teoria do candidato do Chega

Quando chegou a hora de falar de desinformação, o alvo na mesa voltou a ser o mesmo: o Chega. Muita da desinformação, vincou Fidalgo Marques, é “criada pela extrema-direita”.

“A liberdade de expressão não pode ter limites, não há cá linhas, ou há ou não há”, reagiu Tânger Corrêa, para vincar que as tentativas de calar o Chega são em si “discurso de ódio”.

“Lutamos por uma democracia. Em democracia, quem manda são as maiorias. As minorias têm de ser respeitadas, mas quem manda são as maiorias”, juntou.

Para depois deixar claro que "as maiorias não podem ser postas em causa pelas minorias", que vão “contra os direitos das maiorias e são elementos destruidores da sociedade tal como a vemos”. “Respeitamos as minorias, desde que sejam minorias”, rematou.

Frases que, com recurso à ironia, Cotrim de Figueiredo viria a classificar como “teorias interessantes”. “Vou pensar nela para casa”, concluiu.

João Oliveira deu o golpe final, argumentando que o combate à desinformação se faz “com o aprofundamento da democracia, que é tudo o oposto do que disse o Tânger Corrêa”. O Chega, disse, quer uma sociedade ignorante, “a seara em que frutificam as ideias antidemocráticas”.

Cotrim ainda tentou que os comunistas fizessem “autocrítica” sobre a censura de outros regimes comunistas. Oliveira lembrou a Holanda, onde liberais e conservadores se “juntaram à extrema-direita”. Mas o confronto ficou por aí: era preciso avançar no debate.

(José Fernandes/Divulgação SIC)

Quando a falta de defesa do PCP se tornou o ataque dos restantes

O último tema do dia era o desenvolvimento da indústria da defesa. E aqui foi o cabeça de lista comunista quem acabou isolado, retirando este mercado do esforço de reindustrialização de Portugal. “O mundo já gasta demasiado dinheiro em armas”, o investimento devia ser feito em paz, disse.

O papel das Forças Armadas, juntou, “não é para participar em guerras de agressão nem irem morrer em nome da NATO”. Palavras que deixaram Cotrim exaltado e a pedir explicações sobre como deveriam então proteger-se os ucranianos.

Enquanto houver no espaço europeu, no espaço mundial, tiranos e tiranetes, imperialistas, sanguinários, disponíveis a sacrificar o seu povo e o dos outros para ambições pessoais, o mundo democrático e livre tem a obrigação de se defender", insistiu Cotrim.

Em resposta ao comunista, o candidato do PAN deixou claro quem era “o adulto responsável da sala”, em contraste com quem “ficou preso no século passado.

Oliveira não se deixou ficar: “o papel dos ecologistas em relação à guerra é por cravo nas espingardas, não é defender a indústria do armamento”. Cotrim aproveitou para uma nova farpa: “foi preciso espingardas para deitar abaixo a ditadura”.

Sobre o conflito Rússia-Ucrânia, João Oliveira havia de partilhar mais esta frase: “acredito tanto nos planos da Rússia para controlar a Europa como acreditei nas armas de destruição maciça do Iraque”.

Já para o Chega, neste tema, uma coisa é clara: Portugal é um país “fraco” em matéria de defesa e o reforço da sua “capacidade dissuasora” tem de passar mesmo por esta indústria. Sobre a integração na família política Identidade e Democracia (ID), com posições a favor do regime de Putin, Tânger Corrêa argumentou que o Chega “nunca foi pro-Rússia”. E deixou um compromisso: “Assumo totalmente essa responsabilidade. Podem contar com o Chega para defender a Ucrânia”.

(José Fernandes/Divulgação SIC)

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