"PS entregou a política de imigrações a redes de tráfico humano". Como o debate sobre migrações na Europa acabou num ataque ao fim do SEF (e onde só Temido defendeu Costa para Bruxelas)

13 mai, 23:04

Primeiro debate vincou semelhanças entre os partidos, à esquerda e à direita, nas políticas europeias. Contudo, os caminhos para chegar aos mesmos objetivos são diferentes. No final do debate entrou (o nome de) Costa. Para só a candidata socialista o defender no Conselho Europeu

É um dos temas que mais divide a Europa: as migrações. Contudo, neste primeiro debate entre os candidatos a eurodeputados, ficou claro que há um ponto comum de entendimento: todos querem regras mais claras para a imigração, evitando abusos e redes de tráfico de seres humanas.

AD, PS, IL e Livre só diferem no mecanismo europeu criado para regular esta área, o Pacto em matéria de Migração e Asilo. A socialista Marta Temido reconheceu que o partido não se revê no documento, daí que o defina como o “princípio de algo que vamos ter de acompanhar com muito cuidado”. Então porquê o voto positivo? Por estarem previstos “canais seguros e regulares”, a integração como “dimensão essencial” e as “parcerias” com os países de origem.

Também Sebastião Bugalho veio destacar as “limitações” do pacto, lembrando que o documento mostra que a “solidariedade tem limites”. “Prevê que um estado-membro que não queira acolher determinado número de migrantes tenha de pagar para compensar os custos de acolhimento noutro estado-membro. Este raciocínio apesar de ser prático no curto prazo tem limitações”, reforçou.

Francisco Paupério do Livre vincou a oposição do Livre, insistindo que o pacto “prende crianças e separa famílias”. “Se é melhor ter um pacto assim ou não ter um pacto, se calhar é melhor não ter um pacto”, defendeu. A alternativa, apontou, é “um pacto que humaniza a chegada das pessoas”. O candidato lembrou que o mecanismo está a “externalizar as fronteiras da União Europeia” para “países com regimes autocratas”, que vão “fazer ameaças aos estados europeus”, como a Turquia ou a Bielorrússia.

Críticas ao fim do SEF: “PS entregou a política de imigrações a redes de tráfico humano”

O debate sobre as migrações alimentou as críticas de Cotrim de Figueiredo (e depois de Bugalho) à extinção do SEF e à criação da agência que o substituiu, a AIMA. O liberal recusou regras que criem uma “sociedade a dormir na rua”.

Com a necessidade de adotar novas regras, com curtos prazos, Cotrim tem a certeza de que Portugal não será capaz de dar resposta. “Temos centenas de milhares de pessoas à espera de autorizações de residência com tudo em ordem”, destacou.

Sebastião Bugalho veio aproveitar o contexto português para uma crítica aos socialistas: "O PS, não digo de ânimo leve, entregou a política de imigrações em Portugal a redes de tráfico humano. Na política, assumir responsabilidades também faz parte de ser democrata".

Marta Temido, que já tinha usado a experiência da Linha Saúde 24 para mostrar que é preciso tempo para as mudanças fazerem efeito, classificou a abordagem do rival de “profunda demogagia” e de “falta de seriedade”.

Costa em Bruxelas? Só Temido sai em defesa

Foi a nota final do debate, mas pela reação calorosa dos candidatos, António Costa assumiu protagonismo. Será que como presidente do Conselho Europeu traria vantagens para Portugal?

"Do meu ponto de vista, não. O que interessa é o que as pessoas pensam e fazem, não o sítio onde nasceram", reagiu Cotrim de Figueiredo. Para vincar posição, argumentou que Jacques Delors foi “mais útil aos interesses portugueses do que Durão Barroso”. E concluiu: “António Costa nunca será capaz de reformar a Europa como achamos que é preciso".

Bugalho recusou tonar António Costa “o centro do debate”. “Já tivemos nove anos de António Costa primeiro-ministro. Os portugueses sabem que não é tempo de voltar para trás", rematou.

Só Marta Temido saiu em defesa do ex-primeiro-ministro, cuja “visão” para a Europa “tem provas dadas”. O Livre não assumiu posição.

Alargamento é para avançar. A que custo?

Os candidatos estão todos de acordo: o alargamento da União Europeia é para avançar. Contudo, isso poderá implicar perdas para Portugal no que respeita a fundos comunitários.

A discussão, disse Bugalho, não deve ser feita à luz do “dinheiro que vamos perder”, mas antes “à luz da Europa que vamos ganhar”. No debate, insistiu-se depois na necessidade de uma integração gradual, com Francisco Paupério a lembrar que o estatuto de candidato “já permite” a atribuição de fundos” a esses países, por exemplo à Ucrânia.

“Começar por dizer que deixamos entrar, se não perder dinheiro com isso, não é uma forma de tratar a questão” apontou Cotrim, destacando as “oportunidades que aparecem sempre no mercado único” e insistindo na necessidade de uma reforma na forma como são distribuídas as verbas comunitárias.

Por fim, Marta Temido veio lembrar que “não é um processo de entrada à borla" e sugerindo que Bruxelas poderia, para reforçar os seus recursos, apostar num maior escrutínio sobre o setor tecnológico, nas "plataformas digitais".

Preocupação com defesa conjunta: mas caminhos diferentes para lá chegar

Outro tema do debate foi a defesa europeia, com Francisco Paupério a insistir na necessidade de uma “política de defesa comum”, argumento que é necessário “começar a integrar esforços” e a “coordenar” antes de pensar na criação de um exército único.

Neste tema, Bugalho posicionou-se como defensor de uma emissão conjunta de dívida para questões de defesa, as ‘defense bonds’ que “não contam para o orçamento europeu”. “Aquilo que estamos a garantir é que os governos não vão ter de escolher entre tanques e hospitais públicos”, clarificou.

Uma ideia que não agradou a Marta Temido, que só admite esse cenário se existirem medidas semelhantes para “uma política de habitação, uma política social”. Lembrando os atuais instrumentos, vincou que “há caminhos que não consideramos alternativas”.

Também Cotrim lembrou os “custos de transição” para uma economia de guerra, fazendo as contas: para Portugal cumprir a meta de 2% do PIB no seu contributo para a NATO faltam cerca de “1.800 milhões”.

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