Combata as dores menstruais com comida. Sim, com comida

CNN , Sandee LaMotte
15 out 2022, 21:00
Alimentos anti-inflamatórios, tais como salmão, vegetais, fruta e azeite, podem ajudar a minimizar as dores menstruais, constatou uma nova análise dos estudos realizados

Cerca de 85% das raparigas sofrem de inchaços dolorosos, cólicas e dores abdominais durante os seus períodos e, para algumas, alguns destes problemas prolongam-se por anos.

“Uma vez que a dor menstrual é uma das principais causas de ausência escolar das raparigas adolescentes, é importante explorar opções que possam minimizar a dor”, diz Stephanie Faubion, diretora do Centro de Saúde Feminina da Clínica Mayo em Jacksonville, Florida, que não esteve envolvida no estudo.

De acordo com uma nova análise, há ajustamentos comportamentais que as raparigas e as mulheres jovens podem fazer para reduzir a dor. "A modificação da dieta pode ser uma solução relativamente simples que lhes pode proporcionar um alívio substancial", defende Faubion, que é também diretora médica da The North American Menopausal Society (NAMS).

Apresentada na reunião anual do NAMS, a análise de vários estudos explorou a ligação entre dietas e dismenorreia, o termo médico para períodos dolorosos. A autora principal, Serah Sannoh, disse à CNN que se interessou pelo tema devido às suas próprias dores menstruais, que a têm atormentado desde a adolescência.

“Encontrei dietas ricas em alimentos inflamatórios como carne, óleo, açúcares, sais e café, que contribuem para um maior risco de dor durante o período menstrual da mulher”, diz Sannoh, que conduziu a investigação como estagiária na Escola Médica Robert Wood Johnson da Universidade Rutgers em Nova Jérsia. Neste momento é estudante de medicina na Escola de Medicina Lewis Katz da Universidade de Temple, em Filadélfia.

“Muitas das coisas que os jovens gostam de comer são altamente inflamatórias: carnes processadas, alimentos cheios de açúcares e gorduras trans. Mas se seguir uma dieta anti-inflamatória com fruta, legumes, azeite, tal como a dieta mediterrânica, terá menos dores”, garante Monica Christmas, membro da administração do NAMS e professora associada de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Chicago, que não esteve envolvida no estudo.

De acordo com as evidências científicas, ter uma dieta saudável, dormir bem e fazer exercício são medidas eficazes para reduzir a duração e a gravidade das dores, afirma Monica Christmas. Todavia, a médica salienta que é importante que as mulheres recorram a um profissional de saúde: “Certifique-se de que não há qualquer outra condição médica que possa também estar a contribuir para os sintomas.”

À medida que o seu corpo se prepara para menstruar, as células endometriais que construíram um revestimento no útero para acolher o óvulo fertilizado começam a decompor-se. À medida que o fazem, essas células libertam grandes quantidades de ácidos gordos chamados prostaglandinas para fazer contrair a camada uterina e expelir o tecido não utilizado. O corpo também liberta prostaglandinas naturalmente durante o parto para abrir o colo do útero para o nascimento.

O que provoca a dor?

Alimentos anti-inflamatórios, tais como salmão, vegetais, fruta e azeite, podem ajudar a minimizar as dores menstruais, constatou uma nova análise dos estudos realizados

As prostaglandinas atuam como hormonas, provocando a constrição dos vasos sanguíneos e dos músculos lisos, resultando em cólicas e dores. Segundo a Associação Americana de Médicos de Família, os investigadores descobriram que os níveis de prostaglandinas são mais elevados e que as contrações uterinas são mais fortes e mais frequentes nas mulheres com dores menstruais do que nas mulheres que têm pouca ou nenhuma dor.

A ingestão de alimentos inflamatórios só aumenta o desconforto, revelaram estudos. Os alimentos altamente processados e ricos em açúcar e alimentos ricos em gordura e óleos são os responsáveis mais comuns. Segundo um estudo realizado em 2018, as estudantes universitárias que comiam mais petiscos e lanches tinham mais dores durante os seus períodos.

Um outro estudo de 2018 constatou que as mulheres que bebiam bebidas gasosas e comiam carne eram mais suscetíveis de sofrer dores durante o seu ciclo do que as mulheres que comiam mais vegetais e frutas. Num outro estudo de 2020 foi concluído que mulheres que comiam menos de duas porções de fruta por dia eram mais propensas a sofrer dores durante o seu ciclo menstrual.

Em parte, o problema é um desequilíbrio entre os ácidos gordos ómega 3 e ómega 6, revela Sannoh. Os ácidos gordos ómega 3 encontrados em alimentos como salmão, atum, sardinhas, ostras, nozes, chia e linhaça são anti-inflamatórios. Há estudos que os associam a uma redução do risco de muitas doenças crónicas provocadas por inflamação. Para além do seu papel importante no sistema reprodutivo, os ácidos gordos ómega 6 mantêm a pele, o cabelo e os ossos saudáveis e ajudam a regular o metabolismo. Contudo, a ingestão de demasiados destes ácidos gordos pode causar inflamação quando o corpo acaba por os decompor em ácido araquidónico, o que diminui significativamente a tolerância à dor.

“Com base na minha investigação, descobri que as pessoas com dietas ricas em ácidos gordos ómega 6, especificamente as derivadas de produtos de origem animal, têm uma maior presença de ácido araquidónico no organismo, o que aumenta a quantidade de prostaglandinas pró-inflamatórias que ajudam o útero a contrair”, afirma Sannoh.

“Quando se tem uma dieta que equilibra os ácidos gordos ómega 3 e ómega 6, e se diminui a quantidade de alimentos inflamatórios que se ingerem, isso vai diminuir a sua dolorosa menstruação”, acrescenta.

Dois estudos distintos de 2011 e 2012 revelaram que as mulheres que tomaram suplementos de ácidos gordos ómega 3 reduziram a intensidade do desconforto menstrual o suficiente para diminuir a utilização de ibuprofeno para o alívio da dor. Por sua vez, um estudo de 1996 encontrou uma correlação particularmente significativa entre os ácidos gordos ómega 3 e os sintomas menstruais mais ligeiros na adolescência.

Outras soluções

A alteração da sua dieta não é a única forma de combater as dores menstruais. Os anti-inflamatórios não esteroides, ou AINEs, reduzem a produção de prostaglandinas, e é por isso que são um pilar fundamental do tratamento das dores, aponta Monica Christmas.

No entanto, estes medicamentos para a dor também têm efeitos secundários. De acordo com uma revisão de provas da Biblioteca Cochrane de 2015, os AINE estão ligados a inchaço, diarreia, tonturas, indigestão, dores de cabeça, azia, tensão arterial elevada, náuseas, vómitos e, em raras ocasiões, enzimas hepáticas elevadas.

Algumas pílulas anticoncecionais orais também reduzem a produção de prostaglandinas no revestimento uterino, o que depois reduz tanto o fluxo sanguíneo como as cólicas. Doses de menos de 35 microgramas foram “eficazes e devem ser a forma de preparação”, segundo uma análise da Biblioteca Cochrane em 2009.

Mas se não estiver interessada em utilizar estes métodos, ou se quiser alívio adicional, experimente uma dieta anti-inflamatória. Sannoh pôs a sua investigação em prática, diminuindo o seu consumo de carne vermelha e outros alimentos inflamatórios, tais como açúcar e café, e disse à CNN que as suas dores menstruais diminuíram.

“Há um benefício adicional na adoção de um estilo de vida anti-inflamatório”, considera Christmas. “Estas dietas estão também associadas a menos tensão arterial elevada, menos doenças cardiovasculares, menos diabetes, menos problemas artríticos, menor morbidade e mortalidade, especialmente após a menopausa.”

“Portanto, se conseguir que as pessoas mais jovens comam melhor, façam exercício e vivam um estilo de vida mais saudável, elas irão ter uma vida melhor à medida que envelhecem”.

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