O cancro está a aumentar nos adultos mais jovens. E o maior aumento é nas mulheres

CNN , Brenda Goodman
20 ago 2023, 17:00
Rastreio Oncológico (Associated Press)

Os cancros com o maior número de casos de início precoce diagnosticados foram os cancros da mama, da tiroide e colorretal (4.097)

Um novo estudo revela que certos tipos de cancro estão a ser diagnosticados com maior frequência em adultos mais jovens nos EUA e que os aumentos parecem ser impulsionados por cancros em mulheres e adultos na casa dos 30 anos.

Financiado pelo governo norte-americano e com base nos registos de 17 Institutos Nacionais do Cancro, publicado na revista JAMA Network Open, analisou mais de 500.000 casos de cancro de início precoce, ou cancros diagnosticados em pacientes com menos de 50 anos, entre 2010 e 2019. O estudo descobriu que, em geral, os cancros de início precoce aumentaram ao longo dessa década, numa média de 0,28% a cada ano.

A mudança parece ter sido impulsionada pelas taxas de cancro em mulheres mais jovens, que aumentaram em média 0,67% por ano; ao mesmo tempo, as taxas diminuíram nos homens em 0,37% por ano.

Houve 34.233 casos de cancro de início precoce em mulheres em 2010 e 35.721 em 2019, um aumento de 4,35%, sublinha o estudo. Entre os homens, os casos caíram 4,91%, passando de 21.818 em 2010 para 20.747 em 2019.

A taxa de diagnóstico de cancro aumentou nos adultos na casa dos 30 anos ao longo da década, mas manteve-se estável nas outras faixas etárias abaixo dos 50 anos, apurou o estudo. Ao mesmo tempo, a taxa de cancros em adultos com 50 anos ou mais está a diminuir.

Quando os investigadores analisaram as tendências do cancro em adultos jovens por etnia, descobriram que os cancros de início precoce estavam a aumentar mais rapidamente entre as pessoas que se identificam como índios americanos ou nativos do Alasca, asiáticos e hispânicos. Em média, as taxas de crescimento dos cancros de início precoce permaneceram estáveis nas pessoas brancas e diminuíram nas pessoas negras entre 2010 e 2019.

Os cancros com o maior número de casos de início precoce diagnosticados em 2019 foram os cancros da mama (12.649 casos), da tiroide (5.869) e colorretal (4.097).

Os maiores aumentos nos casos de início precoce foi o cancro com origem no apêndice (neuroendócrino), que aumentou 252%; o cancro da via biliar, que aumentou 142%; e o cancro do útero, que aumentou 76%.

As taxas de incidência de cancros do trato gastrointestinal de início precoce foram as que mais cresceram entre 2010 e 2019, aumentando quase 15%. Investigações anteriores mostraram um aumento dos cancros do aparelho digestivo, em especial dos cancros colorretais, entre os adultos com menos de 55 anos desde a década de 1990.

Estes aumentos não se limitam aos EUA, segundo os estudos. Uma análise dos registos de cancro em 44 países, publicada no ano passado, revelou que a incidência de cancros de início precoce está a aumentar rapidamente em 14 tipos de cancro, muitos dos quais afetam o sistema digestivo.

Os autores desta análise afirmam que o aumento se deve, em parte, a testes de rastreio mais sensíveis, bem como a outras causas que necessitam de investigação.

Otis Brawley, oncologista e epidemiologista da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, tem algumas teorias sobre o que está por detrás do aumento das taxas.

"A maior causa de cancro nos Estados Unidos neste momento é o tabagismo, mas as taxas de tabagismo têm vindo a diminuir desde os anos 60", afirmou. "Nos próximos anos, a maior causa de cancro nos Estados Unidos não será apenas a obesidade, mas a obesidade, o consumo de demasiadas calorias e a falta de exercício físico. A minha suspeita é que uma grande parte desta tendência se deve ao estilo de vida, ou seja, ao aumento do consumo de calorias, ao aumento da obesidade e à falta de exercício físico."

Outra causa possível é o consumo de álcool. "Nos últimos anos, tem havido um aumento dos cancros relacionados com o álcool. Atualmente, pensamos que cerca de 6% dos cancros nos Estados Unidos se devem ao consumo de álcool, especialmente ao consumo excessivo de álcool."

Para reduzir o risco global de cancro, Brawley recomenda "princípios muito básicos": "Tentar manter um peso saudável. Tentar fazer exercício físico. Tentar manter uma boa dieta com cinco a nove porções de frutas e legumes por dia, de preferência frutas frescas. Tentar diminuir a quantidade de alimentos processados na dieta."

*John Bonifield contribuiu para este artigo

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