Dois estudos mostram que o cromossoma Y pode ter um papel importante em dois tipos de cancro
Os cancros colorretal e da bexiga podem ser mais fatais para os homens do que para as mulheres e duas recentes investigações parecem ter encontrado as razões. Em causa, dizem dois estudos publicados esta semana na revista Nature, está o cromossoma Y, que apenas as pessoas do sexo masculino têm e que se vai ‘perdendo’ com a idade.
O envelhecimento e impacto que o mesmo tem nesse cromossoma é, na verdade, uma das razões apontadas por um destes estudos. A outra é a genética, deitando por terra a teoria de que pouco mais do que o estilo de vida e hábitos poderiam ter impacto na diferença como o cancro afeta os dois géneros.
O estudo que se focou na genética foi realizado em ratos de laboratório por cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e concluiu que um determinado gene deste cromossoma aumenta o risco de alguns tipos de cancro colorretal se disseminarem para outras parte do corpo, tornando a doença mais difícil de combater e, por isso, mais mortal.
E tal acontece porque há um gene no cromossoma Y chamado KDM5D que “pode enfraquecer as ligações entre as células tumorais, ajudando as células a separarem-se e espalharem-se para outras partes do corpo”, lê-se na revista científica.
Mas o facto de se conhecer este gene é um ponto positivo, pois quando o mesmo é eliminado, como comprovaram os investigadores, as células cancerígenas tornaram-se menos invasivas e mais propensas a serem reconhecidas pelo sistema imunitário, um ‘dois em um’ que permite que o tumor não se espalhe com facilidade e que a imunidade o consiga combater.
Já o outro estudo, do Departamento de Urologia da Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, teve por base análises em humanos e concluiu que a perda “de todo o cromossoma Y em algumas células – que ocorre naturalmente à medida que os homens envelhecem – aumenta o risco de cancro de bexiga agressivo e pode permitir que os tumores da bexiga escapem da detecção pelo sistema imunitário”, lê-se na Nature. E à medida que a proporção de células sanguíneas sem o cromossoma Y aumenta, maior é também o risco de outras doenças, como as cardiovasculares e neurodegenerativas.
Para chegarem a esta conclusão, os investigadores analisaram as células humanas de cancro de bexiga que já tinham perdido o cromossoma Y de forma natural e células do mesmo cancro cujo cromossoma foi retirado em laboratório, o que lhes permitiu perceber que essas células sem o cromossoma eram mais agressivas quando transplantadas para ratos do que as células cancerígenas que ainda tinham o cromossoma Y. Além disso, “também descobriram que as células imunitárias ao redor dos tumores sem cromossomas Y tendiam a ser disfuncionais”.