Os combustíveis fósseis são a principal causa da crise climática e, à boleia disso, quase todos os países do mundo concordaram, no ano passado, em abandonar os combustíveis fósseis em pleno COP28, que decorreu no Dubai. Porém, não se conseguiu estabelecer uma data final para o carvão, o que foi visto como uma lacuna das negociações
Os ministros dos países do G7 concordaram em encerrar todas as suas centrais a carvão até 2035, disse, esta segunda-feira, Andrew Bowie, ministro do Reino Unido no Departamento de Segurança Energética e Net Zero, naquele que é um avanço na política climática que poderá influenciar outros países a fazerem o mesmo.
Estabelecer uma data final para o carvão – o combustível fóssil mais poluente para o clima – tem sido um ponto altamente controverso nas negociações internacionais sobre o clima. O Japão, que obteve 32% da sua eletricidade a partir do carvão em 2023, de acordo com o grupo de reflexão climática Ember, bloqueou avanços sobre a questão em reuniões anteriores do G7.
“Temos um acordo para eliminar gradualmente o carvão na primeira metade da década de 2030”, disse Bowie à Class CNBC em Torino, Itália. “A propósito, este é um acordo histórico, algo que não conseguimos alcançar na COP28 em Dubai no ano passado”.
“Portanto, ter os países do G7 reunidos à volta da mesa para enviar este sinal ao mundo – de que nós, as economias avançadas do mundo, estamos empenhadas em eliminar gradualmente o carvão até ao início da década de 2030 – é bastante incrível”, adiantou o governante britânico.
Já o Departamento de Estado dos EUA recusou comentar este acordo do G7. Na semana passada, a Agência de Proteção Ambiental norte-americana (EPA) anunciou novas regras que irão exigir que as centrais elétricas alimentadas a carvão capturem quase toda a sua poluição climática (a captura é uma forma de redução de emissões) ou que encerrem até 2039.
“Poucos dias depois de a EPA ter divulgado as novas regras propostas, que levarão essencialmente a um calendário de eliminação gradual acelerado para a maioria das centrais a carvão, este compromisso do G7 é mais uma confirmação dos EUA de que o carvão será eliminado mais cedo ou mais tarde”, destacou Katrine Petersen, consultora política do think tank climático E3G, adiantando que o compromisso agora revelado é “um grande passo em frente, em particular para o Japão, como o único país do G7 que ainda não se comprometeu a abandonar o carvão”.
Muitas dos outros países do G7 já têm planos próprios em vigor para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis. Cerca de 16% da eletricidade do G7 vem do carvão, relata a Ember, um think tank independente.
“Este é mais um prego no caixão do carvão”, disse Dave Jones, diretor do programa Global Insights da Ember. “A jornada para a eliminação progressiva da energia a carvão tem sido longa: já passaram mais de sete anos desde que o Reino Unido, a França, a Itália e o Canadá se comprometeram a eliminar gradualmente a energia a carvão, por isso é bom ver os Estados Unidos e especialmente o Japão finalmente serem mais explícitos sobre as suas intenções”.
Dave Jones alertou, no entanto, que embora a energia do carvão esteja em queda, o consumo de gás continua. “O carvão pode ser o mais sujo, mas todos os combustíveis fósseis precisam, em última análise, de ser eliminados”, vincou.
Os combustíveis fósseis são a principal causa da crise climática e, à boleia disso, quase todos os países do mundo concordaram, no ano passado, em abandonar os combustíveis fósseis em pleno COP28, que decorreu no Dubai, mas não conseguiu estabelecer uma data final para o carvão, o que foi visto como uma lacuna das negociações.
Os ministros da Energia, do Ambiente e do Clima reúnem-se em Turim para conversações, que deverão terminar na terça-feira.
O G7 – composto pelo Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, com a União Europeia como membro com estatuto especial – tende a liderar a política climática global. Muitas vezes, as decisões do grupo repercutem ou influenciam todo o G20, que inclui outros grandes emissores, como a China e a Índia, bem como grandes produtores de combustíveis fósseis, como a Arábia Saudita e a Rússia.