A velocidade a que anda é um dos seus sinais vitais

CNN , Melanie Radzicki McManus*
25 fev, 15:00
Uma análise da marcha pode indicar a probabilidade de lesão, problemas mecânicos que precisam de ser resolvidos e o momento de retomar uma atividade desportiva após uma lesão ou cirurgia.  GoodLifeStudio/E+/Getty Images

Juntamente com a temperatura corporal, a frequência do pulso, a frequência respiratória, a pressão arterial e a saturação de oxigénio pode ser um indicador valioso sobre a sua saúde

O andar exagerado de um modelo de passerelle está muito longe da forma como as pessoas normais andam. No entanto, cada pessoa move-se de uma forma única e a sua marcha pode indicar muito sobre a sua constituição geral.

A marcha é a forma como se anda. Embora a marcha de cada pessoa seja diferente, pode desenvolver uma marcha anormal devido a doença, lesão, genética ou problemas nas pernas ou pés. A marcha anormal caracteriza-se por movimentos irregulares, tais como arrastar os pés, bambolear-se ou cruzar as pernas enquanto caminha.

A velocidade da marcha também pode ser um indicador da sua saúde. De facto, está a ganhar força como um dos seus sinais vitais, juntamente com a temperatura corporal, a frequência do pulso, a frequência respiratória, a pressão arterial e a saturação de oxigénio.

Os sinais vitais fornecem informações essenciais para avaliar e prever o seu estado de saúde e para permitir uma intervenção proativa que o mantenha tão seguro e saudável quanto possível.

De acordo com os especialistas, é por isso que a análise da marcha por um profissional de saúde pode ser benéfica para si.

O que uma análise da marcha pode revelar sobre a sua saúde

A avaliação da marcha pode prever atrasos na motricidade grossa em crianças, riscos de queda em adultos mais velhos e, quando associada a um declínio cognitivo, o risco de demência.

Além disso, uma marcha lenta pode ser um sinal de mortalidade prematura, doença cardiovascular ou cancro, de acordo com uma meta-análise de julho de 2018 publicada no Journal of the American Medical Directors Association.

A meta-análise abrangeu 44 estudos com um total de 101.945 participantes.

Análise da marcha para a boa forma física e o desempenho desportivo

No que diz respeito ao desporto e à condição física, a análise da marcha pode indicar a probabilidade de lesão, problemas mecânicos que devem ser tratados e o momento em que estará pronto para retomar uma atividade após lesão ou cirurgia.

"Para as pessoas que têm determinadas lesões, uma análise da marcha pode ajudar-nos a corrigir a mecânica que pode provocar a recorrência da lesão", afirma Bryan Heiderscheit, professor de Ortopedia na Universidade de Wisconsin-Madison e diretor do Badger Athletic Performance em Madison, nos Estados Unidos.

Estas lesões estão frequentemente relacionadas com o stress ósseo, dores nos joelhos, dores na anca e tendinopatia de Aquiles, aponta. Esta última é uma condição dolorosa no tendão de Aquiles, frequentemente causada por uso excessivo.

Uma análise profissional também pode indicar ineficiências no seu movimento que, quando tratadas, podem melhorar a sua velocidade de corrida, o seu jogo de padel e até o seu swing de golfe, afirmam os especialistas. Mas esteja preparado para fazer algum trabalho após a avaliação.

"A sua marcha não é algo que possa ser corrigido instantaneamente", sublinha Heiderscheit. "Não é tão simples como dizer: 'Caminhe de forma diferente'. Pode estar a andar de uma certa forma porque um músculo da barriga da perna tem metade do tamanho do outro, e a única forma de corrigir isso é concentrar-se em determinados exercícios."

A evolução da análise da marcha

Os profissionais de saúde analisam a marcha de diferentes formas, e o tipo de análise mais adequado para si dependerá do problema que está a tentar resolver.

Algumas análises são tão simples como ter um profissional treinado, muitas vezes um fisioterapeuta, a observá-lo a levantar-se de uma posição sentada, a caminhar uma certa distância e a regressar ao seu lugar, indica Heiderscheit. O profissional mede a qualidade do seu movimento e o tempo que demora. Os adultos mais velhos costumam ter seis minutos para caminhar o máximo que puderem.

Os laboratórios clínicos, como o de Heiderscheit, estão equipados com passadeiras ligadas a câmaras e sensores, que captam e recriam os movimentos. Mas alguns doentes são enviados para o exterior para correr, com sensores ligados, especialmente se tiverem problemas em correr ou mudar de direção enquanto correm.

Mais recentemente, a inteligência artificial também está a controlar a marcha das pessoas. Um exemplo é o OneStep, uma plataforma digital de saúde que os profissionais de saúde podem utilizar com os seus doentes. Os pacientes descarregam a aplicação OneStep para o seu telemóvel e depois colocam o telemóvel no bolso. A aplicação regista continuamente os seus movimentos, que os profissionais de saúde podem facilmente analisar.

"Estamos a analisar a velocidade da marcha, a cadência - o número de passos por minuto -, a variabilidade da velocidade e da cadência da marcha, o comprimento do passo, o tempo que ambos os pés passam no chão, a postura e muito mais", explica Stephanie Wakeman, fisioterapeuta e diretora de operações clínicas da OneStep.

Para além de permitir que os profissionais de saúde acompanhem a evolução da recuperação ou da fisioterapia de uma pessoa, o dispositivo listado pelo regulador norte-americano, a Food and Drug Administration, pode alertá-los para outros problemas potencialmente graves, observa Wakeman.

"Se alguém tem uma velocidade de marcha muito lenta, mas a sua cadência é muito elevada, os seus passos são muito curtos e o seu tempo de duplo apoio é muito elevado, essa combinação pode sugerir uma marcha baralhada, que está associada à doença de Parkinson", aponta Wakeman. "Não é um indicador absoluto, mas pode ser um sinal de alerta para o médico."

Uma doente estava a utilizar fielmente o OneStep, além de fazer alguns exercícios solicitados pelo seu fisioterapeuta, quando este reparou que a sua velocidade de marcha e as sessões de exercício diminuíram abruptamente, conta Wakeman. O fisioterapeuta procurou certificar-se de que ela estava bem e descobriu que ela estava deprimida após a morte de um amigo próximo.

"Por isso, o fisioterapeuta pô-la em contacto com alguém com quem falar sobre o seu luto", diz Wakeman. "Conseguiu-lhe uma intervenção que, de outra forma, talvez não tivesse tido. Este é apenas um exemplo de como isto pode ajudar."

Quando deve ser analisada a sua marcha

Se tiver uma lesão ou dor que suspeite estar relacionada com a sua marcha, pode ser útil marcar uma análise da marcha com um fisioterapeuta, uma vez que estes são especialistas em problemas de movimento corporal. Em geral, o seguro deve cobrir os custos.

Mas se estiver interessado numa análise da marcha para melhorar o seu desempenho atlético ou prevenir lesões, poderá ter de pagar do seu bolso. Nos Estados Unidos, estas análises podem custar 100 dólares ou mais [mais de 90 euros], dependendo da duração da sessão, do equipamento utilizado e de outras variáveis. Mesmo que tenha de pagar por uma análise, pode valer a pena.

Caminhe nesta direção

Quer se trate de um atleta experiente ou de um caminhante recreativo, tanto Heiderscheit como Wakeman afirmam que seria ótimo se a marcha de todos fosse analisada regularmente e se todos os profissionais de saúde prestassem atenção à marcha dos seus pacientes.

"Também adoraria que a análise da marcha fizesse parte do programa de recuperação de qualquer pessoa que tenha sido submetida a uma cirurgia ao joelho, tornozelo ou anca", sugere Heiderscheit. "Veremos que se tornará mais comum porque a tecnologia está a avançar rapidamente."

"A mobilidade é uma espécie de fonte da juventude", acrescenta Wakeman. "Se quisermos manter uma boa qualidade de vida saudável, temos de nos preocupar muito com a nossa mobilidade."

*Melanie Radzicki McManus é uma escritora freelancer especializada em caminhadas, viagens e fitness

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