Se não é bom deixar as crianças beber café, porque é que o fazemos?

CNN , Sandee LaMotte
16 out 2022, 12:00
Crianças

Tornámo-nos uma cultura louca por café. No entanto, com todos os estudos que têm surgido sobre como uma chávena de café pode reduzir o risco de diabetes, doenças cardíacas, AVC, demência e alguns cancros, qual é o problema?

Chegou às nossas crianças.

Apesar de anos de avisos de pediatras e outros profissionais de saúde de que o café e outras bebidas cafeinadas, como refrigerantes e bebidas desportivas, podem ser prejudiciais para os jovens, os pais estão a permitir que os seus filhos, mesmo os mais novos, consumam essas bebidas.

Um estudo de 2015 das mães de Boston revelou que 14% das inquiridas permitiram que os seus filhos de dois anos bebessem entre cerca de 30 a 120 mililitros de café por dia (meia caneca de café tem 120 mililitros). O estudo também descobriu que 2,5% das mães davam café aos seus filhos de um ano.

A Academia Americana de Pediatria não recomenda bebidas com cafeína, como café, chá, refrigerantes, bebidas desportivas ou outros produtos, a crianças com menos de 12 anos. Já os adolescentes entre os 12 e os 18 anos devem limitar a sua ingestão a menos de 100 miligramas por dia, aproximadamente o tamanho de uma caneca de café à moda antiga. Um “grande” de 470 mililitros de uma popular cadeia norte-americana de cafetarias contém 360 miligramas, por exemplo.

Não se trata apenas de café. Uma garrafa de bebida desportiva pode conter quase 250 miligramas de cafeína, dependendo da marca, de acordo com uma investigação da Consumer Reports. Uma caneca de chá pode conter até 47 miligramas, enquanto um refrigerante dietético pode conter 46 miligramas. O chocolate também tem alguma cafeína, a quantidade aumenta à medida que a cor do chocolate escurece. Um único grão de café coberto de chocolate pode ter 336 miligramas de cafeína, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Até se podem comprar pastilhas elásticas, rebuçados, gomas e barras energéticas com cafeína e não nos podemos esquecer do gelado de café.

As crianças não são pequenos adultos

Como as crianças são geralmente mais pequenas em tamanho, é necessária menos cafeína para prejudicar o seu funcionamento. Uma quantidade insignificante para um adulto pode ser arrebatadora para uma criança pequena. Demasiada cafeína pode aumentar o ritmo cardíaco e a pressão arterial, contribuir para o refluxo ácido e causar ansiedade e distúrbios de sono em crianças. Em doses muito elevadas, a cafeína pode ser perigosa.

“As crianças aparecem nas urgências com batimentos cardíacos irregulares ou o que chamamos taquicardia ou batimentos cardíacos rápidos”, disse o pediatra Mark Corkins, presidente do comité de nutrição da Academia Americana de Pediatria. “Algumas pessoas pensam que é giro dar refrigerantes a bebés.”

Os limites baseiam-se, principalmente, no tamanho do corpo e aumentam quando uma criança cresce o suficientemente para ser capaz de metabolizar a cafeína mais facilmente. Contudo, se uma criança é pequena para a sua idade, ou tem enxaquecas, problemas cardíacos ou convulsões, pode ser ainda mais sensível, de acordo com a Academia Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência.

Com todas estas más notícias, porque é que os pais deixam as crianças beber café?

Começa quando as crianças pequenas começam a pedir bebidas com cafeína, como café, “porque veem os pais e os irmãos mais velhos a bebê-lo e é uma coisa que os ‘adultos bebem’”, disse Corkins, chefe da divisão de gastroenterologia, hepatologia e nutrição pediátrica no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Tennessee, em Memphis.

E como os pais o consideram inofensivo, e é provável que seja em pequenas quantidades, deixam os seus filhos beber um ou dois goles, contou Corkins. “No entanto, assim que os pais começam, é mais fácil cair no mesmo erro e deixar as crianças beberem o que querem, em vez de as contrariarem.”

Quero café com natas e caramelo extra

Há outra questão: o impacto do café, chá, refrigerantes e bebidas desportivas numa dieta equilibrada.

“O meu outro problema com crianças que bebem café é que este tem pouco valor nutricional e está a substituir algo que deveria ser nutricionalmente completo, tal como leite e água”, apontou Corkins. “O leite está cheio de cálcio e vitamina D e a água é um nutriente. Nós somos cerca de 60% de água, basicamente um oceano.”

Depois, há os complementos. Já lá vão os dias em que o café tinha simplesmente um cubo de açúcar e natas. Agora, cafés em quase todas as esquinas oferecem dezenas de formas de apimentar e complementar a sua bebida de eleição.

“Estas bebidas são basicamente uma sobremesa. Têm a espuma e os shots de xaropes aromatizados, com cobertura de natas e ainda granulados em cima. A apresentação é melhor do que algumas das sobremesas que já vi”, afirmou Corkins.

Os açúcares extra e as natas pesadas adicionam gordura e calorias, embora optar por versões sem açúcar pode expor uma criança a adoçantes artificiais.

O que retiramos disto? “Evite a cafeína! Porque é que os seus filhos precisam dela?”, questionou Corkins.

“A cafeína é um estimulante que aumenta o estado de alerta”, acrescentou. “Se o seu filho ou filha sente que precisa de cafeína durante o dia, é melhor trabalhar com um pediatra para identificar o que está a criar a fadiga.”

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