Presidente da Bolívia nega estar por trás de tentativa de golpe de Estado

28 jun, 08:41
Militares nas ruas, gás lacrimogéneo e um palácio cercado. "Golpe de Estado" em curso na Bolívia (Juan Karita/AP)

O general do Exército que terá liderado a tentativa, Juan José Zúñiga, e um alegado co-conspirador, o ex-vice-almirante da Marinha Juan Arnez Salvador, foram detidos

O Presidente da Bolívia, Luis Arce, negou estar por trás da alegada tentativa de golpe de Estado de quarta-feira, rejeitando acusações de que tinha pedido uma intervenção militar para aumentar a sua popularidade.

“Não sou um político que vai ganhar popularidade através do sangue do povo”, disse Arce na quinta-feira, na primeira aparição perante a imprensa desde o aparente golpe falhado.

O governante acrescentou que 14 pessoas foram feridas pelos golpistas e que algumas tiveram de ser operadas. “Vimos as pessoas a mobilizarem-se sem armas e foram baleadas”, disse Arce.

Horas antes, o Governo da Bolívia tinha anunciado a detenção de 17 pessoas por alegado envolvimento na tentativa de golpe de Estado que abalou na quarta-feira o país sul-americano a braços com uma grave crise económica.

O general do Exército que terá liderado a tentativa, Juan José Zúñiga, e um alegado co-conspirador, o ex-vice-almirante da Marinha Juan Arnez Salvador, foram detidos.

O ministro do Interior boliviano, Eduardo del Castillo, não forneceu pormenores sobre as outras 15 pessoas detidas, apenas indicando que uma delas é um civil identificado como Aníbal Aguilar Gómez, a quem se referiu como o cérebro do golpe frustrado.

Luis Arce afirmou que não estavam só envolvidos militares no plano, mas também pessoas da sociedade civil e outras já retiradas do serviço militar, sem revelar mais detalhes. Zúñiga será investigado e “enfrentará a justiça”, acrescentou.

O Presidente disse acreditar que a tentativa de golpe de Estado se deveu a ter demitido Zúñiga, na terça-feira, por ter “violado a constituição política do Estado” com declarações numa entrevista que não estava autorizado a conceder.

“Zuñiga andou pelos meios de comunicação social sem qualquer ordem e fez declarações infelizes”, destacou Arce, repetindo que foi esse o motivo da demissão.

Nessa entrevista, Zuñiga ameaçou deter o ex-Presidente da Bolívia Evo Morales (2006-2019) caso tentasse voltar a candidatar-se à presidência por estar desqualificado, de acordo com o militar.

Ao ser detido na quarta-feira, Zuñiga acusou Arce de ter ordenado a operação militar.

“No domingo, na escola La Salle, encontrei-me com o Presidente [Luis Arce] e o Presidente disse-me que a situação está muito complicada, que esta semana seria crítica e que ‘algo é necessário para aumentar a minha popularidade’", disse Zuñiga ao ser detido.

O comandante disse que perguntou ao Presidente da Bolívia se deveria “tirar os veículos blindados” dos quartéis e que Arce respondeu: “Tire-os”.

A nação de 12 milhões de habitantes assistiu, em choque e com perplexidade, à aparente sublevação dos militares, que tomaram o controlo da praça principal da capital com veículos blindados, tentaram arrombar com um tanque um dos portões do palácio presidencial e lançaram gás lacrimogéneo sobre manifestantes.

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