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Os surpreendentes benefícios de abraçar a ansiedade, segundo alguém que vive com ela

CNN , Michelle Icard
9 jun, 11:00
Haley Weaver

A ansiedade não precisa de ser uma barreira. Haley Weaver partilha dicas para lidar com ela

(Na imagem de capa: A personagem da esquerda diz: “O artigo da CNN sai hoje. Estou nervoso”. A personagem da direita, em formato de coração, responde: “Estás sempre nervoso. Espera, o que estás a vestir?”. O primeiro clarifica: “Dois laços. E anti-transpirante. Como disse, nervoso!)

 Haley Weaver sempre foi ansiosa.

Quando tinha cinco anos, ficou preocupada que os pais pudessem não voltar para casa depois de terem contratado uma ama. Roeu as unhas até eles voltarem.

As suas estratégias para lidar com as situações evoluíram à medida que foi crescendo, às vezes para pior (mentia para impressionar os amigos da escola), às vezes para melhor (fazendo longas caminhadas para tornar os pensamentos mais claros). Há oito anos, começou a fazer um desenho por dia para acalmar os pensamentos mais ansiosas, canalizando assim os seus sentimentos para algo mais produtivo.

Haley partilhou os seus desenhos na conta de Instagram @haleydrewthis, que, entretanto, se tornou popular, para assim ter uma prática criativa fora do seu extenuante trabalho e criar ligações com outras pessoas que possam estar a sentir-se da mesma maneira. Toda esta arte foi agora transformada numa novela gráfica, chamada “Give Me Space but Don’t Go Far” [Dá-me Espaço, Mas Não Vás Para Muito Longe, em tradução livre].

O primeiro livro de Haley chega numa altura em que a ansiedade está a aumentar, assim como o número de pessoas que não conseguem lidar com ela. Os impactos da ansiedade são de longo alcance, interrompendo o sono, perturbando os objetivos traçados para a vida e impedindo relacionamentos. Todos estes elementos agravam os efeitos do isolamento e da preocupação.

Os pais de adolescentes e jovens adultos com ansiedade até podem preocupar-se com a forma como os filhos estão a lidar com a ansiedade, acabando, contudo, por descobrir que fazer perguntas diretamente tem poucos efeitos. Haley Weaver explica que espera que o seu livro reenquadre a nossa abordagem coletiva sobre a ansiedade, servindo como uma ferramenta para iniciar conversas difíceis nas famílias.

A CNN falou com a autora sobre a sua ansiedade e sobre como o seu novo livro pode dar a outras pessoas com ansiedade um ponto de partida para falar sobre o assunto.

Esta entrevista foi ligeiramente editada e condensada para efeitos de clareza.

CNN: A maioria das pessoas acredita que as suas vidas seriam melhores se as suas preocupações, os seus medos e as suas inseguranças desaparecessem completamente. Mas parece que a Haley não quer ver-se livre da sua ansiedade. Porquê?

Haley Weaver: Na sua essência, a ansiedade protege-nos. Protege-nos de desastres, de julgamentos, de rejeições – e a lista continua! Disto isto, a ansiedade nem sempre opera a partir do lugar de mais racional, e perceber como ouvir as preocupações da ansiedade sem deixá-la controlar todas as ações é a parte complicada. O meu objetivo é partilhar a importância de aceitar a realidade da presença da ansiedade enquanto construímos uma “comunidade” de mecanismos que nos ajudam a lidar com os pensamentos mais duros. 

CNN: Foi difícil ser vulnerável em relação às várias ferramentas que usou para lidar com a sua ansiedade – algumas úteis, outras prejudiciais – quando era criança, adolescente e jovem adulta?

Weaver: Claro! Não querendo tornar isto algo sobre mim, conto que a minha ansiedade sobre partilhar a minha ansiedade esteve presente durante todo o processo de escrita. Receava que a minha abertura sobre alguns desses momentos, dolorosos e pessoais revelasse ao mundo o meu maior segredo: que eu não tenho tudo sob controlo. De facto, é exatamente o contrário.

Ao mesmo tempo, a maioria dos conteúdos com os quais me identifico – sejam eles livros de memórias, filmes ou músicas – envolve narrativas de extrema vulnerabilidade. Sabia que este livro seria mais eficaz se fosse brutalmente honesta sobre a minha experiência com a ansiedade. E estou muito satisfeita por tê-lo sido. Desde que o livro foi publicado, há pessoas que me têm procurado para contarem como se sentiram ao ler os capítulos de maior vulnerabilidade. Foi o maior dos presentes.

A Minha Equipa de Sonho para a Saúde Mental. Por esta ordem, da esquerda para a direita, de cima para baixo: Descanso, Espaço Seguro, Esperança, Atenção, Limites Pessoais, Apoio, Tratamento Acessível, Humor, Autocompaixão (Haley Weaver)

CNN: Em que aspetos erram as pessoas quando os filhos têm ansiedade?

Weaver: Em vez de olharem para a ansiedade como um obstáculo para a felicidade dos filhos, acredito que os pais deviam ajudar os filhos a ver a ansiedade como uma parte deles próprios, que precisa de ser cuidada tal como qualquer outra parte do corpo. Além disso, esse ato de cuidar da ansiedade terá formatos diferentes, dependendo da forma como a própria ansiedade se apresenta. Talvez seja ajudando as crianças a identificar mecanismos úteis de lidar com a situação. Talvez seja contando com o conhecimento de um medico. Não há uma solução única para a ansiedade, mas antes um número infinito de possibilidades de ferramentas e sistemas de apoio.

CNN: Qual é o erro comum sobre a ansiedade?

Weaver: Que a ansiedade é inerentemente negativa. Na realidade, a ansiedade quer que avancemos na vida com cautela. Só quando os pensamentos ansiosos bloqueiam a nossa vida quotidiana é que devemos examinar mais de perto por que motivo a nossa ansiedade aumenta e, talvez, procurar o aconselhamento de um profissional de saúde mental. 

CNN: Como podemos apoiar da melhor maneira os nossos entes queridos que estão a lidar com a ansiedade?

Weaver: Comece por perguntar aos seus entes queridos aquilo que eles precisam. Alguém que os escute? Alguma validação? Um ombro para chorar? Um conselho? Isto vai ajudá-los a sentirem que há um lugar seguro a que podem recorrer. Ao mesmo tempo, permite que os apoie.

Se a ansiedade deles impedir a sua capacidade de aproveitar a vida, valerá a pena ajudá-los a marcar uma consulta com um especialista. Não sou especialista, mas a minha experiência com a psicoterapia e com a medicação contra a ansiedade tem sido extremamente útil para gerir diariamente a minha ansiedade.

Na imagem: Estás autorizado a celebrar o teu crescimento (não importa a aparência dos outros) (Haley Weaver)

CNN: Nos seus desenhos, tem um grande elenco de personagens que ajudam a lidar com a ansiedade. Tem algum favorito?

Weaver: Têm todos lugar no meu coração! Mas tenho um fraquinho pelo Liar [Mentiroso], que me encoraja a mentir para me adaptar aos meus pares. Ele é uma graça, mesmo sendo um golpista.

Também adoro o Writer [Escritor], que me ajuda a desfazer os nós da minha ansiedade a cada palavra que escrevo.

CNN: A quem se destina este livro?

Weaver: Escrevi este livro para todos os que lutam contra a ansiedade e para aqueles que se preocupam com alguém que lida com a ansiedade na sua vida quotidiana. Espero inspirar os leitores a repensar o papel da ansiedade nas suas vidas, que a nossa ansiedade é algo de que devemos cuidar, não ter medo. E com cuidado, prática e estratégias sólidas, podemos aprender a manter a nossa ansiedade perto (mas dando-nos o espaço necessário)!

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