O facto de as famílias partilharem "um espaço às vezes exíguo, com muita gente" durante a pandemia, que obrigou tantos pais a trabalhar "com crianças a fazer barulho", pode ter potenciado este fenómeno, acrescenta a responsável da Direção do Instituto de Apoio à Criança (IAC)
O número de denúncias de violência contra crianças tem vindo a aumentar nos últimos dois anos, e o ano 2021 é o que revela um maior acréscimo de queixas, de acordo com dados fornecidos pela PSP ao Jornal de Notícias.
No ano passado, a PSP registou 9.008 denúncias de violência contra crianças (que inclui violência doméstica, ofensas à integridade física voluntária grave e simples, maus-tratos, ameaça e coação, difamação, calúnia e injúria). Em 2020, forma denunciados 7.904 casos de violência, e este ano, até 25 de maio, foram feitas já 4.244 denúncias.
A PSP adiantou ainda que o número de crianças retiradas às famílias também aumentou de 166 em 2019 para 207 em 2020.
A GNR, por sua vez, registou 905 denúncias de violência contra crianças no ano passado, contrastando com 604 no ano de 2020. Este ano, a GNR já recebeu 367 denúncias de violência com menores.
Citada pelo jornal, Dulce Rocha, presidente da Direção do Instituto de Apoio à Criança (IAC), associa este aumento do número denúncias com os efeitos da pandemia, nomeadamente a ansiedade e falta de tolerância entre os pais: "As pessoas ficaram mais ansiosas, menos tolerantes e as crianças ficaram mais expostas à violência."
O facto de as famílias partilharem "um espaço às vezes exíguo, com muita gente" durante a pandemia, que obrigou tantos pais a trabalhar "com crianças a fazer barulho", pode ter potenciado este fenómeno, acrescenta a dirigente.
"Esta situação de não partilhar a educação, porque as pessoas estavam habituadas a que a criança fosse para o infantário ou para a escola, principalmente nas mais pequeninas, teve repercussão a nível da violência", frisa.
