Nove soldados, um civil: as vítimas mortais de uma guerra não declarada

23 fev 2022, 21:12

Escalada dos últimos dias entre a Rússia e a Ucrânia já fez mortos e tornou alguns ucranianos refugiados dentro do seu próprio país

A Ucrânia tem vindo a preparar-se para uma escalada militar provocada pela Rússia há já vários meses. Mas, esta terça-feira, o cenário nas ruas de Kiev tinha um pesar diferente. Num cemitério no centro da cidade prestava-se homenagem ao capitão Sidorov.

Antov Sidorov, de 35 anos, foi morto no sábado no leste da Ucrânia, perto da linha de frente que separa o território controlado pelo governo das áreas separatistas apoiadas por Moscovo. Deixa três filhos.

Segundo noticia a imprensa internacional, Antov Sidorov foi uma das primeiras baixas da drástica escalada nas tensões entre a Rússia e a Ucrânia, que levou o presidente Vladimir Putin a reconhecer as chamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk no leste da Ucrânia na segunda-feira, abrindo caminho para o envio de tropas russas para a região.

Esta quarta-feira foi morto mais um soldado ucraniano num bombardeamento realizado por separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia. Outro ficou ferido, informou o exército. As Forças Armadas da Ucrânia não esclareceram, contudo, o local exato do ataque, dizendo apenas, num comunicado, que um soldado "morreu com ferimentos" e outro sobreviveu, também com ferimentos durante o bombardeamento.

Até ao momento desconhece-se o número total de vidas que esta guerra ainda não declarada já ceifou. As principais agências de notícias contabilizam pelo menos nove soldados das Forças Armadas ucranianas e um civil nos últimos dias. A maioria foi vítima de fogo de artilharia. Sobre a vítima civil, sabe-se que é um homem nascido em 1970 e que morreu na aldeia de Novolouganské, na região de Donetsk, onde o bombardeamento também provocou um corte de eletricidade e no aquecimento e danificou um gasoduto.

Em 2021, de acordo com as autoridades militares ucranianas, foram mortos 66 soldados nos arredores das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, agora reconhecidas pelo regime de Moscovo. Do lado oposto, os líderes separatistas pró-Rússia afirmam que vários civis foram mortos pelo exército ucraniano nos últimos dias, o que este nega, repetindo que não fez qualquer disparo nessas áreas.

"Não sabemos para onde vamos"

Os avisos do governo separatista apoiado pela Rússia sobre um ataque iminente da Ucrânia levaram muitas famílias a fugir da região. Saem à pressa, em autocarros, sem saber o destino. Não levam muito, mas carregam a esperança de que vão ficar em segurança.

Mulheres, crianças e idosos vão primeiro. Mas estima-se que, no total, estas duas regiões tenham milhões de civis. A maioria fala russo e muitos já receberam a cidadania russa, avança a Aljazeera. As autoridades locais falam que cerca de 700.000 civis partiram do ponto de evacuação de Donetsk.

Civis retirados da região de Donetsk

A primeira paragem de Ella Fyodorova, depois de ter fugido da sua casa no leste da Ucrânia, foi um acampamento do outro lado da fronteira russa, parte de um plano de evacuação em larga escala. "Eu queria ficar, mas o meu marido chegou em casa e disse: 'Arruma as tuas coisas, vamos sair'", afirmou a mulher ao The Guardian, enquanto carregava o filho de dois anos até uma casa de banho pública. A recente escalada de tensão não atingiu a sua cidade natal, Starobesheve, mas os avisos do governo levaram-na a fugir. Já o marido, que a deixou na fronteira, teve de voltar.

Tal como Ella, os deslocados vão chegando às centenas às regiões vizinhas, que, de acordo com a imprensa internacional, aparentam estar mal preparadas para esta enchente. Muitos esperam o próximo autocarro para seguir para o interior do país. Levam apenas o básico: roupas, medicamentos e comida. 

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