De acordo com a comunidade científica, existe uma correlação também com o aumento da gordura visceral que potencia o surgimento de doenças graves e crónicas como a diabetes tipo 2
Há mais um ponto contra o tabagismo: de acordo com um novo estudo, pode provocar um aumento de um tipo de gordura corporal associado a doenças graves.
Tanto começar a fumar como passar a vida inteira a fumar cigarros foi associado a um aumento da gordura abdominal, de acordo com um estudo publicado na quinta-feira na revista Addiction.
E uma análise mais aprofundada mostrou que o aumento pode ser na gordura visceral, disse o autor principal do estudo, Dr. Germán Carrasquilla, um epidemiologista e professor assistente no Instituto Karolinska na Suécia.
A gordura visceral não é visível - envolve os órgãos dentro do abdómen. É normal e saudável que a gordura visceral represente cerca de 10% da gordura total do corpo, de acordo com a Cleveland Clinic. No entanto, demasiada gordura visceral pode criar inflamação, contribuindo para doenças crónicas.
"A sua localização e a forma como interage com as funções do nosso corpo tornam-na particularmente perigosa", afirmou Carrasquilla num e-mail. "Este tipo de gordura está fortemente ligado a doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e outras condições metabólicas".
Os resultados voltaram mostrar a necessidade de haver esforços em larga escala para prevenir e reduzir o tabagismo, disse.
"Reduzir este grande risco para a saúde da população irá, indiretamente, reduzir outro grande risco para a saúde", afirmou Carrasquilla num comunicado.
Maus hábitos viajam juntos
A equipa de investigação realizou uma análise estatística denominada randomização mendeliana, que utiliza as diferenças genéticas para estudar a forma como os comportamentos ou os ambientes conduzem a diferentes resultados em termos de saúde.
"Ao examinar os dados genéticos, podemos inferir se uma relação é causal, indo além das associações", disse Carrasquilla.
O estudo é bem feito e, embora forneça fortes indícios de que o tabagismo e o aumento da gordura abdominal têm uma relação causal, e não apenas correlacional, não é totalmente definitivo, disse Naveed Sattar, professor de medicina cardiometabólica na Universidade de Glasgow, na Escócia. Sattar não esteve envolvido na investigação.
Poderão existir alguns elementos de confusão que tornam mais forte a ligação entre o tabagismo e a gordura da barriga, acrescentou o Dr. Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar da National Jewish Health em Denver.
"Os maus hábitos também tendem a viajar juntos", disse Freeman, que não esteve envolvido na investigação. Por exemplo, as pessoas podem pegar num maço de cigarros quando estão stressadas ou podem estar a fumar ao mesmo tempo que bebem uma cerveja, disse.
Está pronto para deixar de fumar?
Uma grande questão que permanece é se parar de fumar pode reverter o desenvolvimento da gordura abdominal, disse Carrasquilla.
Ainda assim, isso não significa que os fumadores devam hesitar em iniciar a sua jornada para deixar de fumar, afirmou.
"Todos sabemos que fumar é mau", afirmou."As intervenções de saúde pública devem continuar a enfatizar as melhorias gerais de saúde associadas à cessação do tabagismo."
Mesmo fora dos cigarros, a inalação de substâncias - como a marijuana, a poluição do ar e o fumo da cozinha - tem sido associada a um aumento das doenças cardiovasculares e pulmonares, acrescentou Freeman.
"Qualquer substância inalada é uma má notícia", disse ele. "Livrar-se dela é sempre uma vantagem".
No entanto, deixar de fumar é notoriamente difícil.
Freeman recomenda que os seus pacientes utilizem programas de apoio como a linha de apoio 1-800-QUIT-NOW (no caso português, o SNS aconselha contactar o e encontrem formas de eliminar a tentação, especialmente se tiver entes queridos que também fumam.
"Se tiver uma pessoa importante em casa ou outra pessoa em casa que fume, vai ser muito difícil deixar de fumar", afirmou. "Digo sempre às pessoas que, se têm amigos que fumam e estão a tentar deixar de fumar, digam-lhes que os vêem daqui a uns meses - por muito horrível que pareça."
Também pode ser útil encontrar novas formas de lidar com o stress, uma vez que este é muitas vezes um grande gatilho que leva as pessoas a fumar, disse ele.
O exercício não só é um bom redutor do stress, como também tem demonstrado ser uma ajuda potente para deixar de fumar, acrescentou Freeman.
"Fazer 30 minutos por dia de uma boa atividade sem fôlego é muito importante", afirmou.
Seja qual for a abordagem para deixar de fumar, o primeiro passo é chegar ao ponto em que se está pronto e ansioso para se livrar do hábito, disse Freeman. Isso pode ser um desejo de ser mais forte, mais saudável ou mesmo apenas para poupar dinheiro.
"Se não estiveres preparado para deixar de fumar, posso cobrir-te de adesivos da cabeça aos pés e dar-te medicamentos com o teu peso corporal para te ajudar a deixar de fumar e tu não vais deixar de fumar", ironiza.
"Querem ser o avô Joe ou a avó Jean a sofrer os males das doenças cardiovasculares que teriam progredido com o consumo de cigarros e a passar um mau bocado na velhice, ou querem estar a dançar com os vossos bisnetos?, questiona Freeman. "É esse o verdadeiro fator de motivação".