Segue as dicas de influencers para cuidar da pele? "Se utilizam produtos sem conhecer os riscos acabam por ter de recorrer ao dermatologista"

CNN Portugal , MTR
29 abr, 08:00
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Muitos jovens procuram produtos para cuidar da pele por via de recomendações de influencers

É impossível abrir qualquer rede social, em especial o TikTok, sem nos depararmos com um vídeo de alguém a cuidar da sua pele. Numa realidade em que conteúdos virais significam dinheiro, os influencers mais famosos rapidamente passaram a produzir esse tipo de vídeos. Todos os dias mostram a milhões de seguidores as suas rotinas numa tentativa de que quem os vê venha a adquirir os produtos que utilizam.

Os vídeos são tantos e têm tantas visualizações que há quem já considere o fenómeno alarmante, tendo em conta que grande parte da audiência destas “estrelas do TikTok" são “jovens impressionáveis”. Mais do que estética e beleza, cuidar da pele é uma questão de saúde. E a falta de cuidados ou o excesso de cuidados com a pele pode levar a complicações, como eczema, cicatrizes, psoríase etc.

A CNN Portugal falou com dermatologistas para desmistificar o fenómeno das rotinas com cuidados com a pele, perceber se de facto fazem sentido, qual o impacto que podem vir a ter e também quais são os cuidados que todos devemos tomar de modo a preservar a saúde da nossa pele. 

Fernando Guerra, do consultório Personal Derma em Lisboa e fundador do Grupo Português de Dermatologia Cosmética e Etética , afirma que os influencers que recomendam certos tipos de produtos têm “falta de preparação para o fazer”, até porque, “cada pessoa tem um tipo de pele diferente, portanto um produto que funcione para um pode não funcionar para outro”.

Embora as redes sociais não sejam um fenómeno recente, o nível de influência que exerce sob os seus utilizadores tem vindo a aumentar nos últimos anos com efeitos negativos e Fernando Guerra constata que no campo da dermatologia há cada vez mais uma preocupação maior com tratamentos antienvelhecimento, inclusive entre os jovens na casa dos vinte anos.

Segundo o estudo “Uso de redes sociais, influência dos media e insatisfação com a imagem corporal de adolescentes brasileiras”, o desconforto dos jovens em relação à sua própria imagem, em especial adolescentes do sexo feminino, está “fortemente ligada” a padrões de beleza e ideais estéticos inalcançáveis que são divulgados através das redes sociais. E entre estes incluem-se simples rotinas de skincare que, muitas vezes, não passam de “negócios com marcas de produtos que não necessitam de receita médica”, alerta Fernando Guerra, sublinhando ainda que muitas vezes os influencers publicitam estes produtos “sem realmente os chegarem a usar e sem saberem os efeitos que poderão causar nos diferentes tipos de pele.”

Em relação a recomendações sobre que cuidados devemos ter no dia-a-dia, o dermatologista lembra que “é importante evitar grandes períodos de exposição solar, quando essa exposição solar exige utilizar protetor solar fator 50, adequando o protetor usado ao tipo de pele do utilizador, especialmente no rosto, por ser uma área mais sensível”. 

No que toca a rotinas específicas, Fernando Guerra afirma que “depende do tipo de pele” e que “existem produtos de todas as gamas de farmácia que são oil free para peles mais oleosas”, reiterando a importância da população se “informar com médicos dermatologistas ou na farmácia” e não através de influencers. O dermatologista, alerta ainda que quem escolher aconselhar-se através da internet vai acabar por ter mesmo de ir a uma consulta de dermatologia, quando o seu problema inicial se poderia resolver de maneira elementar. “Se utilizam produtos sem conhecer os riscos acabam por ter de recorrer ao dermatologista, em situações que se poderiam inicialmente resolver com uma simples rotina de higiene primária”.

António Fernandes Massa, da Clínica Dermatológica Dr. António Massa na cidade do Porto, afirma que estes fenómenos, “sem bases científicas”, têm vindo a ganhar um grande alcance e acaba por chegar aos doentes. Na ânsia de tratar uma determinada patologia mais rapidamente, acabam por seguir estas rotinas “algo exageradas” que consomem através das redes sociais. Alerta também que os jovens, por serem mais impressionáveis, têm menos capacidade de discernir se o que lhes está a ser mostrado têm motivações comerciais e pode causar danos. 

“Se um jovem com alguma patologia recorre a estes influencers para recomendações de tratamento pode inclusive agravar a sua situação e desenvolver cicatrizes. Ao consultar um dermatologista, evitariam esse tipo de lesões e a patologia seria tratada mais rapidamente”. Existe então um “falso sentido de segurança” da parte destes jovens pela confiança que depositam nestas personalidades e por sentirem que finalmente encontraram produtos que os podem ajudar. O dermatologista considera ainda que, embora “existam princípios eventualmente bons” nestes conteúdos, como alertar adolescentes para a importância de cuidar da pele, uma abordagem “one size fits all” não funciona. 

De acordo com o site State of Beauty, 40% da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2009) compra, pelo menos um novo produto de beleza que encontra online a cada dois meses. A mesma percentagem dos inquiridos considera que o seu bem-estar está diretamente ligado com o estado da sua pele, 37% afirmou ainda que adquiriu a sua rotina de cuidados da pele via TikTok, 23% via Facebook e 20% no Instagram. António Fernandes Massa afirma ainda que parte do “problema” é a vontade dos adolescentes “quererem ser iguais” a quem seguem e por isso copiam os seus comportamentos.

Quanto a dicas e conselhos sobre como devemos cuidar da nossa pele, o dermatologista afirma que “quem tenha uma patologia deve sempre aconselhar-se, antes de mais, com um dermatologista”. Quanto a peles sem patologias “devem, acima de tudo, focar-se nas suas escolhas de estilo de vida e menos em produtos”. Caso exista algum problema é importante não “saltar de produto em produto sem orientação profissional” uma vez que acabará, inevitavelmente, por piorar a situação.

De acordo com um relatório da Morning Consult, citado pela CNBC, cerca de 57% dos jovens afirmam que gostariam de se tornar influencers se tivessem a oportunidade, 53% dos inquiridos acreditam que é “uma escolha de carreira respeitável” e uma percentagem semelhante abandonaria os seus empregos atuais se pudessem tornar-se criadores de conteúdo com rendimentos suficientes para pagar comportar o seu estilo de vida. Três em cada 10 jovens pagariam para se tornarem criadores de conteúdo.

Dois dos exemplos destes influencers são Alix Earle e Emilie Kiser. Alix Earl é uma “influencer de beleza” que alcançou a fama no TikTok, cativando o público com vídeos “Get Ready With Me” (Arranjem-se comigo), tutoriais de beleza e conteúdo de estilo de vida. Os seus conteúdos atraíram mais de 3,5 milhões de seguidores no Instagram e 6,6 milhões de seguidores no TikTok, sendo a audiência maioritariamente composta pela Geração Z interessados ​​em beleza, moda e lifestyle. 

Estima-se que, com apenas 23 anos de idade, Alix tenha um património líquido avaliado em 2 milhões de dólares, segundo a Elle Austrália. Fez parcerias com inúmeras marcas, demonstrando como incorpora esses produtos na sua rotina de skincare em vídeos de curta duração nas suas plataformas. Essas colaborações levam, muitas vezes, a picos visíveis nas vendas dos produtos em destaque. Este impacto é já chamado pelos seus seguidores de "Alix Earl Effect”.

Emilie Kiser é conhecida pelo seu conteúdo sobre maquilhagem e cuidados com a pele em plataformas como Instagram (onde tem cerca de 697 mil seguidores) e TikTok (onde tem 2,7 milhões de seguidores). O seu conteúdo consiste, essencialmente, em análises de produtos, tutoriais e dicas de beleza. Emilie cultivou uma grande comunidade de seguidores jovens que espera ansiosamente pelas suas recomendações. Emilie colabora com diversas marcas de beleza e skincare. Algumas das campanhas que mais tráfego geraram foram as colaborações com as marcas Elf Cosmetics e Drunk Elephant.

O consumo excessivo de cuidados com a pele não é apenas um problema para os jovens. O planeta também tem um grande preço a pagar. Ao ritmo a que tendências virais e novos produtos surgem nas redes sociais, significa também que existem consumidores cada vez mais encontrando novos produtos para a pele para comprar. Isso significa que, à medida que mais produtos para a pele são comprados, mais embalagens são desperdiçadas.

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