CNN teve acesso aos mísseis e drones iranianos que atingiram Israel e que "o mundo não foi capaz de parar"

CNN , Fred Pleitgen
1 mai, 20:22
Drones iranianos (CNN)

“Temos de perguntar aos israelitas”, afirma o major-general da Guarda Revolucionária do Irão, Ali Belali, com um sorriso malicioso, quando lhe perguntam quantos mísseis balísticos a República Islâmica disparou contra Israel no seu ataque de 14 de Abril.

Ali Belali está visivelmente feliz ao mostrar os mísseis e drones que o Irão utilizou no seu primeiro ataque contra Israel, lançado diretamente a partir de solo iraniano.

"Foi uma medida punitiva", justifica Ali Belali, enquanto usa um apontador laser para indicar os mísseis lançados, que se elevam acima dele na exposição.

Duas semanas depois de o Médio Oriente ter chegado muito perto de uma guerra total, com o Irão a disparar centenas de projéteis contra Israel, em retaliação a um alegado ataque aéreo israelita a uma infraestrutura da embaixada iraniana em Damasco, Teerão está empenhado em mostrar ao mundo que é capaz de combater num conflito mais amplo, caso tal venha a acontecer.

A resposta de Israel não tardou. Em 19 de abril, as Forças da Defesa de Israel (IDF) lançaram um ataque dentro das fronteiras do Irão. Tanto as ações iranianas como israelitas resultaram em danos mínimos e pareceram, de ambos os lados, ter como objetivo aumentar a dissuasão entre as regiões. A tensão acabou por diminuir, mas a ameaça de guerra continua a pairar sobre a região à medida que prossegue a ofensiva israelita em Gaza.

A CNN teve acesso raro a uma exposição da Guarda Revolucionária Iraniana, que mostra as capacidades aéreas e espaciais de Teerão, incluindo os tipos de armas que foram usadas contra Israel no mês passado. É a primeira vez que um meio de comunicação social norte-americanos tem acesso à exposição permanente das Forças Aeroespaciais da Guarda Revolucionária, situada no oeste de Teerão, onde se encontram dezenas de mísseis balísticos de médio e longo alcance que se erguem junto a mísseis de cruzeiro e drones.

A exposição tem como objetivo evidenciar o desenvolvimento e o progresso do programa de drones e mísseis do Irão.

“Hoje, os nossos drones e mísseis tornaram-se uma importante demonstração de força e de execução do poder no mundo”, sublinhou à CNN o também antigo comandante de mísseis durante a guerra de oito anos entre o Irão e o Iraque, que terminou em 1988.

Ali Belali assume que o enorme arsenal de drones e mísseis lançados pelo Irão contra Israel foi um grande sucesso. O ataque incluiu drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro. O impacto foi de tal forma que iluminou as cidades israelitas, debaixo de um céu noturno, à medida que as defesas aéreas do país intercetavam os projéteis, com a ajuda dos EUA, do Reino Unido, França e Jordânia, que também destruíram um elevado número de drones e mísseis iranianos.

"A NATO, os EUA e os países árabes da região queriam criar barreiras para os nossos drones, mísseis e mísseis de cruzeiro, mas falharam", garante Ali Belali. "O mundo não foi capaz de nos parar", sublinha.

Vários mísseis balísticos iranianos no salão principal de uma exposição da Guarda Revolucionária Iraniana em Teerão.
Fotografia: Fred Pleitgen/CNN

Já na narrativa do exército israelita, os militares dizem ter intercetado, com a ajuda dos aliados, 99% dos projéteis lançados pelo Irão, indicando que apenas "um pequeno número" de mísseis balísticos atingiram Telavive.

Do lado do Irão, a Guarda Revolucionária diz ter conseguido atingir dois locais no território israelita, incluindo a base aérea de Navatim, no deserto de Negev. Segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari, os mísseis balísticos que atingiram o território israelita caíram na base aérea e causaram apenas danos ligeiros.

Diante de dois mísseis balísticos que diz terem estado envolvidos nos ataques contra Israel - o Ghadr e o Emad - o major-general Ali Belali descreve-os com uma precisão de "para menos de cinco metros". Estes mísseis, diz, têm um alcance de mais de 1.600 quilómetros e podem transportar ogivas entre 450 e 500kg. Já um outro míssil, denominado Kheybar, que o major-general também diz ter sido utilizado nos ataques, transporta uma ogiva de cerca de 320kg.

A maior força de mísseis balísticos da região

Os mísseis balísticos do Irão há muito que são motivo de preocupação para os EUA e os seus aliados no Médio Oriente, que têm vindo a apelar à aplicação de restrições num programa de mísseis num eventual acordo entre Teerão e Washington.

Os EUA acreditam que o Irão tem a maior força de mísseis balísticos no Médio Oriente e considera o seu arsenal de mísseis como uma das suas "principais ferramentas de coerção e projeção de força".

O Irão tem vindo a insistir que o seu programa de mísseis tem apenas fins defensivos.

Drones de ataque num camião sem identificação numa exposição da Guarda Revolucionária Iraniana, em Teerão.
Fotografia: Fred Pleitgen/CNN

Nos últimos anos, e até ao ataque contra Israel, o Irão lançou pelo menos cinco grandes ataques transfronteiriços com mísseis balísticos em Telavive, adianta à CNN John Krzyzaniak, investigador associado do Projeto Wisconsin sobre Controlo de Armas Nucleares em Washington DC. Destes cinco ataques, pelo menos dois foram lançados contra o ISIS na Síria e três no Iraque, alegando como alvo as forças dos EUA, militantes curdos e os serviços secretos israelitas.

Também naquela exposição em Teerão é possível encontrar o que o Irão identifica como um drone americano RQ-170 Sentinel, fabricado pela Lockheed Martin, que diz ter abatido em 2011, o mesmo ano em que as autoridades norte-americanas disseram à CNN que o respetivo drone fazia parte de uma missão de reconhecimento da CIA, que envolveu não só os serviços secretos como o pessoal militar destacado no Afeganistão. Três anos depois, o Irão garante que conseguiu reproduzir o mesmo drone.

Ali Belali considera que o desenvolvimento de mísseis do Irão é fundamental para a estratégia de defesa da República Islâmica. "Nas nossas capacidades de defesa não dependemos de ninguém. Tivemos bons progressos neste domínio e vamos progredir ainda mais. Há conquistas que ainda não foram anunciadas", assinala.

Também os drones são igualmente importantes para a Guarda Revolucionária do Irão, como revela a exposição em Teerão, que mostra várias fases de desenvolvimento de drones, desde pequenos UAVs de madeira utilizados na guerra com o Iraque até aos modelos que os iranianos dizem ter capacidades furtivas.

Um dos mais assinalados pelo Irão é o Shahed 136, um drone barato do tipo “dispare e esqueça”, ou seja, depois de programada uma trajetória de voo, o drone é lançado e, em seguida, voa de forma independente em direção ao alvo.

Embora os iranianos admitam que utilizaram dezenas de drones Shahed 136 para atingir Israel, tanto os EUA como a Ucrânia também acusam Teerão de dar centenas à Rússia, com Moscovo a utilizá-los para atingir cidades e infraestruturas energéticas ucranianas - alegações que os iranianos têm vindo a negar consistentemente.

Os drones Shahed voam a baixas altitudes e geralmente atacam em conjunto, explica o major-general Ali Belali, diante de um camião sem identificação que serve como plataforma de lançamento secreta. “Tudo está pré-programado. A rota de voo é escolhida de acordo com as capacidades do inimigo e os pontos cegos dos radares e todos os elementos que nos podem ajudar a atingir o alvo", explica.

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