Suspeitas de «doping» na selecção: Manuel Brito conta toda a história

4 out 2002, 17:50

Um caso que chega, finalmente, ao conhecimento público Kenedy foi o único caso confirmado. Mas houve outros seis jogadores que estiveram em risco de voltar para casa.

Manuel Brito decidiu abrir o livro. O anterior responsável pelo combate ao doping confirmou um conjunto de suspeitas que circulavam pelos bastidores do futebol português e que apontam para que vários jogadores da selecção nacional estavam na «zona de risco» quando do mundial-2002.

A entrevista que Brito deu ao «Independente» nesta sexta-feira levantou a lebre. Ao Maisfutebol, o ex-presidente do Instituto Nacional do Desporto (IND) e do Conselho Nacional de Anti-Dopagem (CNAD) contou mais alguns pormenores. «Decidi contar agora tudo isto porque este foi o momento mais difícil da minha vida profissional, enquanto responsável da administração pública», referiu Manuel Brito.

E que momento foi esse? Aquele em que, já com a selecção em Macau, e prestes a partir para a Coreia, o CNAD teve nas mãos um conjunto de análises com resultados, no mínimo, preocupantes: «Havia sete casos suspeitos. Um confirmou-se como positivo, o de Kenedy, os outros seis exigiram novas análises. Tivemos que ser rápidos a decidir», explicou Brito ao Maisfutebol.

Novas análises diminuíram receios

As novas análises permitiram que esses seis jogadores tivessem luz verde para estarem presentes no mundial: «Claro que sim, caso contrário não poderíamos arriscar. Não aceito a crítica que me foi feita de que o Kenedy foi vítima porque era o Kenedy, se fosse outro jogador mais conhecido não lhe acontecia nada. Isso não é verdade. Não podíamos correr o risco de ter vários jogadores da selecção apanhados no mundial!»

Por isso, Brito explica que «esses seis jogadores que estiveram sob suspeita nunca chegaram a ter análises positivas. O único que se confirmou foi o Kenedy, que foi trocado pelo Hugo Viana nesse mesmo dia. Ainda fomos a tempo, mas que ninguém duvide que se os outros também se confirmassem positivos, havia que substituí-los. Não podíamos correr o risco de ver um terço da nossa selecção voltar para casa mais cedo a meio do mundial...»

Quem eram, afinal, os seis suspeitos?

Os nomes dos tais seis jogadores cujas análises foram para a categoria de «suspeitas» ficam ainda no segredo dos deuses. Manuel Brito garante que «nem sabe» quem são, «nem isso é importante». «Nunca me preocupei com os nomes», acrescenta. «Foram momentos muito difíceis, porque naquela altura estavam criadas grandes expectativas sobre aqueles 23 jogadores. Era dez milhões a torcer por eles e um deles era eu, que sou fanáticos por futebol e pela selecção».

Sem se deter, Manuel Brito garante que «numa determinada altura, só eu, o secretário de Estado e mais uma ou outra pessoa sabíamos do que se estava a passar. Tivemos que manter silêncio e ser corajosos na decisão».

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