“Estás a mentir a ti próprio”. A (nova) conversa entre Putin e Macron sobre a guerra na Ucrânia

3 mar 2022, 16:59
Vladimir Putin e Emmanuel Macron (AP)

Presidente francês avisou o homólogo russo do “grande erro” que está a cometer, mas o Kremlin permanece determinado em prosseguir com a invasão

Durante cerca de hora e meia, e por iniciativa de Vladimir Putin, o presidente russo e Emmanuel Macron conversaram sobre a atual situação na Ucrânia. Houve avisos, exigências e, sobretudo, muita preocupação do lado francês com o discurso do líder russo.

“Esta conversa foi, infelizmente, uma ocasião para ouvir que o presidente Putin vai continuar a intervenção militar e ir até ao fim”, afirmou fonte do Eliseu aos jornalistas. “Nada do que o presidente Putin nos disse nos trouxe algum alívio. Sem fazer uma previsão, esperamos que o pior ainda esteja para vir”.

Durante a chamada, os dois líderes trataram-se por tu e falaram através de tradução simultânea. O presidente russo reiterou a intenção de “desnazificar”, neutralizar e desarmar a Ucrânia, enquanto Macron alertou o seu homólogo para o “grande erro” que está a cometer e para as consequências nefastas do mesmo.

“Estás a mentir a ti próprio. Vai custar muito ao teu país, que vai acabar isolado, enfraquecido e sancionado por muito tempo”, disse o presidente francês a Putin, citado por fonte oficial.

Ambos os líderes deixaram a porta aberta ao diálogo, mas o chefe de Estado russo deixou um alerta: se não alcançar os seus objetivos pela via diplomática, conseguirá atingi-los através da intervenção militar.

O Kremlin, que continua a utilizar a expressão “operação militar especial”, nega que a Rússia esteja a bombardear Kiev e garante que está a fazer tudo para proteger os civis, acusando o Ocidente de promover uma “campanha de desinformação anti-Rússia”.

“Foi sublinhado que as tarefas da operação militar especial serão completadas em qualquer cenário, e que qualquer tentativa de ganhar tempo ao arrastar as negociações só levará a mais exigências da nossa parte”, disse o Kremlin, em comunicado.

O governo russo afirmou ainda que a intervenção está a correr “de acordo com o esperado”, que a missão é apenas destruir as capacidades militares da Ucrânia, bem como capturar “perigosos nacionalistas” do país vizinho.

Após a conversa com Putin, Macron telefonou ao presidente ucraniano, que reafirmou que a Ucrânia “não se renderá” à Rússia.

Representantes das duas partes envolvidas diretamente na guerra encontraram-se esta quinta-feira para uma nova ronda de negociações, mas o falhanço das anteriores não deixa antever grandes progressos. Neste momento, está a ser avaliada uma proposta da China, para que seja o país liderado por Xi Jinping a mediar o conflito. Segundo fonte do Eliseu, a solução agrada à França, que já entrou em contacto com Pequim.

A ofensiva russa, lançada na madrugada de 24 de fevereiro, decorre já há uma semana. As tropas comandadas por Putin já tomaram a primeira grande cidade, Kherson, e estão neste momento a fazer um cerco apertado a Mariupol, no sul do país.

"Estamos a ser destruídos. Eles estão a destruir os abastecimentos de comida, bloqueando-nos os acessos, cercando-nos, tal como na velha Leningrado. Deliberadamente, nestes sete dias, eles destruíram as infraestruturas críticas da cidade. Não temos luz, água ou energia. Estamos a ser destruídos enquanto nação. Isto é o genocídio do povo ucraniano”, afirmou o governador de Mariupol, Vadym Boichenko, a uma televisão ucraniana.

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