"A nossa segurança está em risco". Jornalistas do último canal de notícias independente da Rússia fogem do país

CNN , Brian Stelter e Bianna Golodryga
3 mar 2022, 12:06
Vladimir Putin. Gavriil Grigorov/TASS/Getty Images

Jornalistas do último canal de notícias independente da Rússia deixaram o país para sua própria segurança, depois de a Rússia ter instituído um bloqueio digital contra o canal.

A Procuradoria-Geral do país emitiu na terça-feira uma ordem para restringir o acesso à TV Rain, também conhecida como Dozhd, e a uma estação de rádio, a Radio Echo, também conhecida como Ekho Moskvy.

Depois, na quarta-feira, o editor-chefe da TV Rain, Tikhon Dzyadko, anunciou no “Telegram” que ele e a família, juntamente com a equipa da redação, tinham deixado a Rússia.

“Após o bloqueio ao site e às contas das redes sociais da Dozhd, e da ameaça contra alguns funcionários, tornou-se óbvio que a segurança pessoal de alguns de nós está em risco”, disse Dzyadko na quarta-feira.

A maioria dos meios de comunicação na Rússia cumpriu as ordens do Estado de seguir a linha editorial de Vladimir Putin de, por exemplo, não chamar “invasão” à invasão russa da Ucrânia. A emissão global em direto do “Russia Today”, por exemplo, refere-se à invasão como uma “operação especial”, repetindo as palavras de Putin, em vez de lhe chamar “guerra”.

A determinação da TV Rain e da Ekho Moskvy de transmitir um jornalismo que desafia o Kremlin fez com que ambos se tornassem alvos.

O canal da TV Rain no YouTube ainda é acessível fora da Rússia, mas o site não carrega para os utilizadores russos da internet, segundo o GlobalCheck, um serviço que rastreia a censura na internet.

Dzyadko disse no “Telegram” que a TV Rain vai recorrer da decisão da Procuradoria-Geral e continuará a trabalhar “de forma remota e parcial”.

Os funcionários da TV Rain esperavam que algo assim pudesse acontecer.

“Enfrentamos uma ameaça real. Torna-se cada vez mais difícil trabalhar aqui”, disse a pivô Ekaterina Kotrikadze, esposa de Dzyadko, em Moscovo no programa “Reliable Sources” de domingo.

“Estão a tentar obrigar-nos a passar a mesma mensagem que eles”, disse ela, “mas sabe que é impossível para nós trabalharmos assim.”

Na terça-feira, Dzyadko disse, a Christiane Amanpour da CNN, que “eles não querem que divulguemos informações reais sobre a morte de civis, sobre a morte de soldados russos.”

Dzyadko admitiu estar preocupado com a segurança dele e dos seus colegas na Rússia, antecipando as partidas de todos um dia depois. “O nosso público é enorme e temos uma responsabilidade para com ele. Mas também somos responsáveis pelas nossas famílias”, disse ele. “Portanto, temos de pensar.”

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, disse que “condenamos o encerramento de meios de comunicação independentes pelo Kremlin num esforço de reprimir a dissidência contra o ataque premeditado, não-provocado e injustificável contra a Ucrânia.”

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