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Mensagem de Rui Santos para António Silva: "Não podes ser a árvore em chamas para esconder o fogo que alastrou na floresta"

27 jun, 18:49

A Mensagem de Rui Santos para António Silva: a prova de que a verdade e a crítica (construtiva) podem e devem coexistir

Caro António Silva,

Sou pela crítica construtiva e acredito que ela nos faz crescer em todos os momentos, mesmo quando ela encerra algumas coisas que não desejamos ouvir.

Sou pela crítica construtiva mas sou, também, pela verdade.

E a verdade é que a tua estreia numa fase final de um Campeonato da Europa não correu bem.

Não adianta esconder, não adianta dourar a pílula, aconteceu, é futebol.

E do que percebo da tua forma de estar, correcta, sempre que és chamado a falar, e isso viu-se durante a época no Benfica, serás o primeiro a reconhecer que o jogo com a Geórgia não te correu bem.

Não foi só a ti que não correu bem, a equipa foi uma sombra em relação às expectativas geradas, mas como ficaste ligado diretamente os dois golos da Geórgia, em dois momentos no primeiro (mau passe e impotência na velocidade) e no penálti que cometeste, não há como fugir ao carimbo de uma exibição desastrada.

Esta é a verdade e reconhecê-la é a melhor forma de se poder evoluir.

O mais importante que se pode fazer nestas ocasiões, individualmente e em grupo, é tirar as conclusões — e isso cabe, em primeira análise, a Roberto Martínez.

Fazer de ti a árvore em chamas para esconder o fogo que alastrou na floresta, a partir de equívocos que começam no excesso de gestão de Roberto Martínez, obcecado pela ideia de ter os jogadores minimamente satisfeitos, através da fórmula de distribuir minutos pelo grupo, para que não haja rebeliões ou alguém se sinta marginalizado, não é justo.

Repito: não é justo.

De resto, não me parece que seja sinal de uma liderança indiscutível.

Diz-me a experiência de que quando se quer agradar a todos acaba-se por não se agradar a ninguém.

Os verdadeiros líderes não podem vacilar entre escolher aqueles que consideram os melhores, quer seja pelo talento, pelo trabalho, pela experiência ou pela irreverência, ou ceder às pressões de todos aqueles que, nas dinâmicas de grupo, querem e acham-se credores de maior protagonismo do que aquele que é dado aos parceiros com os quais coexistem.

O palco começa a ser pequeno e gera-se a confusão.

Martínez está a cair nesse erro e tu foste, até agora, talvez a maior vítima de erros de perspectiva, de escolha, de estrutura, de sistema, de mentalidade.

Não te deixes embaraçar.

Não vaciles.

Não te deixes cair.

Esta época desportiva, no Benfica, não te correu tão bem, comparativamente ao momento em que chegaste à primeira equipa e agarraste o lugar, perante a surpresa de quase todos?

Verdade, não correu.

Ninguém se afirma como tu te afirmaste porque sim. Revelaste, então, uma grande personalidade.

Tens 20 anos e um caminho de sucesso para desbravar.

Às vezes o êxito muito rápido sobe à cabeça, as solicitações são muitas, o dinheiro aparece com facilidade.

Segura-te. Vai à luta. Aprender não é uma coisa dos 20 anos. É uma lição de vida. Desde que nascemos até morrermos.

Força, António. Quem gosta de futebol, não pode desistir de ti.

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