Combustíveis: greve de camionistas em Espanha sobe de tensão - falta leite e frescos nas prateleiras, há fábricas a parar e já se pede intervenção do exército

22 mar 2022, 23:37
Camionistas espanhóis protestam contra o aumento dos combustíveis (AP)

Paragens afetam supermercados e hotéis, fábricas e cadeias de abastecimento. Já há falta de leite e de produtos frescos em algumas prateleiras. “É pior do que na pandemia”. Empresários lançam ultimato ao governo, exigindo intervenção urgente. Há camiões escoltados pela polícia. Candidato à liderança do PP invoca intervenção do exército

A greve dos camionistas em Espanha está a subir de tom, com as consequências a chegarem a muitas empresas que já não conseguem produzir por falta de matérias-primas. É o caso de empresas de alimentação, que lançaram um ultimato ao governo, exigindo a sua intervenção. O protesto dos transportadores, que dura desde 14 de março, exige medidas para contrariar a subida dos preços dos combustíveis.

Segundo o “El País”, os efeitos já se notam em alguns supermercados, com a falta de produtos nas prateleiras do leite ou dos produtos frescos. Além disso, os problemas estendem-se a muitas fábricas, que estão a ficar com os armazéns de matérias-primas vazios e com os armazéns de produtos acabados cheios. “Há frotas paradas e já há escassez de determinados produtos em alguns supermercados e inclusive na hotelaria, enquanto os fabricantes da alimentação fazem um esforço enorme para manter a atividade apesar das dificuldades”, acrescenta o “El Mundo”. Também a hotelaria está a ser afetada, com falta de abastecimentos em alguns produtos frescos como carne, peixe, fruta e legumes.

É este o jornal que qualifica como “ultimato ao governo” aquilo que foi hoje apresentado por associações das grandes indústrias de alimentação. “Este já é um problema de Estado” que “requer uma intervenção urgente”, dizem, citadas pelo “El Mundo”. A gravidade da situação não tem sequer comparação com o que aconteceu durante a pandemia, acrescentam. O governo espanhol já propôs oferecer 500 milhões de euros em bonificações ao gasóleo, o que se revelou insuficiente para serenar os ânimos.

“A situação é insustentável”, afirmam as associações do sector agroalimentar espanhol em comunicado. “É urgente pôr fim a esta situação, que põe claramente em risco a oferta de produtos, bem como a continuidade de milhares de negócios e empregos”. Daí apelarem a “uma intervenção urgente num conflito que se converteu num problema de Estado”.

Segundo o “El País”, já há várias fábricas paradas, de empresas como a Calvo, Azucarera, Cuétara, Dcoop, JaenCoop e Agrosevilla. O “El Mundo” relata que outras empresas estão prestes a fazê-lo, como a Danone, que anunciou que se a situação se mantiver irá suspender a produção em quatro fábricas de produtos lácteos no país vizinho. A Nestlé e a Lactalis estão numa posição semelhante. Nas cervejeiras, a Heineken diz estar no limite e a Estrella Galicia já teve de ter os seus camiões de transporte escoltados pela polícia.

A situação está a intensificar-se também do ponto de vista político. Alberto Núñez Feijóo, presidente da região da Galiza e candidato à liderança do Partido Popular, assumiu fazer oposição crítica ao governo, apresentando dez medidas para atacar o problema, que envolve as forças e corpos de segurança, na escolta de camiões que transportem produtos perecíveis.

“E se isso não for suficiente para garantir corredores seguros, em alimentos perecíveis, que o Exército nos ajude a garantir que leite, peixe e carne saiam de seus locais de origem até o destino.”, afirmou, de novo citado pelo “El Mundo”. Segundo fontes citadas pelo mesmo jornal, Feijóo defende que os produtos médicos sejam protegidos pelo mesmo método: se necessário, com o Exército.

A greve dos camionistas nasceu nas redes sociais e escalou rapidamente, com camiões parados, portos bloqueados, como o de Barcelona, e mesmo situações pontuais de agressões. A ministra dos Transportes espanhola, Raquel Sánchez afirmou hoje à estação Telecinco que o Governo tem uma série de medidas previstas para descer o preço dos combustíveis, que disparou depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, mas que aguarda aprovação da Comissão Europeia.

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