Schmidt não segurou o barco
O Benfica começou 2023/24 em grande, com a conquista da Supertaça, mas desde então foi uma verdadeira montanha-russa. Desde contratações milionárias que se revelaram um autêntico falhanço, a opções técnico-táticas questionáveis e prestações aquém da valia do plantel, aconteceu de tudo um pouco à equipa de Roger Schmidt.
No meio deste carrossel de emoções, o alemão tem sido mesmo o principal visado pela crítica – interna e externa – mas tem sido ponderado quanto a uma eventual saída. Em terra de pescadores, Schmidt foi incapaz de segurar o barco, ao liderar uma exibição que não encantou e culminou num empate (1-1) em casa do Rio Ave.
Terminada a temporada dos encarnados, resta saber se este foi o adeus do alemão. O dia dos encarnados, até ver, não foi de despedidas, pois Rafa Silva já nem esteve em campo. Por sua vez, os vilacondenses, despediram-se do Rei Ukra, uma figura incontornável do futebol português que pôs fim a uma brilhante carreira de 17 anos.
As mexidas nos onzes iniciais, a começar pelas balizas, denotavam que este jogo, apesar de ainda ser oficial, já pouco contava para as duas equipas. O Benfica jogava pelo orgulho e para tentar acalmar os ânimos – os adeptos voltaram a ficar em silêncio durante meia-hora e no final fizeram-se ouvir, embora a equipa não tenha agradecido a presença – enquanto o Rio Ave, já com a manutenção assegurada, procurava escalar o máximo de posições possível na tabela.
Roger Schmidt nem sequer trouxe Ángel Di María e Rafa Silva para Vila do Conde, mas chamou vários jovens, como Kokubo, Diogo Spencer, João Rêgo e Gustavo Varela, que estiveram no banco. Já Luís Freire, estreou Cezary Miszta na equipa principal e lançou Ukra como titular.
Benfica mais perigoso, sem carregar
O Benfica teve as melhores ocasiões de perigo, embora sem um domínio avassalador. Os encarnados conseguiram encontrar caminhos para chegar de forma rápida e articulada ao último terço, tendo também causado perigo com as bolas em profundidade para Casper Tengstedt.
O dinamarquês já tinha ameaçado em duas ocasiões, mas Miszta mostrou que até já podia ter sido aposta mais cedo. Porém, nada pôde fazer no lance do (belo) golo de Kökcü.
Verdade seja dita. O turco tinha razão. Desde que Schmidt passou a colocá-lo em terrenos mais adiantados, o rendimento tem sido outro. Claro que Rafa será muito difícil de substituir e o perfil dos dois jogadores é quase antagónico, mas o Benfica até pode ficar a ganhar com esta troca. Isto porque o meio-campo sai reforçado e o poder na pressão sobre o adversário é muito maior, como ficou provado nesta derradeira ronda da Liga.
Depois de um momento de pausa de Tengstedt, Kökcü apareceu na passada para um remate colocado – a sua imagem de marca – aos 32 minutos.
Ainda assim, o momento alto da primeira parte já tinha acontecido, simbolicamente aos 17 minutos, quando os jogadores das duas equipas formaram uma «guarda de honra» para a despedida de Ukra. O internacional português pendurou as chuteiras aos 36 anos e o reconhecimento que recebeu das bancadas prova que faz parte da casta de boas gentes do futebol português.
O fantasma de Schmidt
Luís Freire retirou os homens do meio-campo ao intervalo, reconhecendo que o Rio Ave estava a ser ultrapassado nesse setor. A equipa, nos primeiros minutos da segunda parte, demorou a assentar o plano traçado no balneário e também mostrou dificuldades em ameaçar a baliza de Samuel Soares.
Mas, por outro lado, deparou-se com uma equipa que, apesar de recuperar várias bolas em zonas adiantadas, deu-se a um festival de desperdício, que impossibilitou levar um resultado mais folgado de Vila do Conde.
Rollheiser, Tengstedt ou Otamendi. Nenhum conseguiu bater Miszta, que manteve o nível que já tinha mostrado no primeiro tempo.
A falta de eficácia dos encarnados, outro dos problemas identificados por Schmidt para justificar o segundo lugar, voltou a estar presente. Sem o jogo resolvido, o alemão, tantas vezes criticado por mexer tarde no jogo, estreou Prestianni e Gustavo Varela, talvez demasiado cedo.
Quem não marca, sofre. É uma velha máxima do futebol e este Benfica já o devia saber. Os encarnados não «mataram» o jogo e consentiram o empate ao cair do pano. Após um pontapé de canto aos 87 minutos, Aderllan atirou ao poste, porém, o lance não se ficou por aí e houve mão na área de Florentino, detetada pelo VAR.
Na cobrança, Costinha não facilitou, dedicou o golo ao Rei Ukra e o Benfica despediu-se com um resultado que faz jus à época - cinzenta. E o mesmo funciona para o Rio Ave, que comprovou o estatuto de rei dos empates e manteve-se invencível nesta segunda volta.